O capacete de Patrick Kane deslizou lentamente pelo gelo no final do segundo período da vitória dos Flyers por 5-3 sobre os Blackhawks no jogo 4. Obviamente, a cabeça de Kane não estava nele. O mesmo podia ser dito do time inteiro dos Hawks até ser tarde demais.
"Temos de jogar de maneira muito mais inteligente desde o começo", disse Marián Hossa. E a torcida dos Blackhawks respondeu: "Amém!''
A pressão era intensa no Wachovia Center, e ninguém com uma cabeça de índio na camisa adaptou-se a ela até o terceiro período. Será que alguém desconectou os Hawks da realidade da Copa Stanley? Em uma final de Copa não dá para perder o disco regularmente em sua própria zona, não dá para cometer penalidades negligentes por frustração e não dá para se vencer com uma primeira linha tendo sua pior fase no pior momento possível.
Se os Hawks tivessem jogado a partida inteira com o desespero que mostraram depois de ficar atrás por 4-1, eles poderiam nem sequer estar mais nesta série. Poderiam estar planejando a rota da parada de comemoração. Ao invés disso, agora eles têm que se preocupar em não sofrer a virada na série antes de uma nova viagem para a Filadélfia para o jogo 6.
"Não estamos felizes com a situação, mas só podemos culpar a nós mesmos", analisou. corretamente, Jonathan Toews.
Agora sabemos que palavra a torcida de Chicago tem de usar neste fim de semana qualdo falar sobre os Blackhawks e o título da Copa Stanley. Eu recomendo "se". Pare de falar "quando".
Acontece que a Filadélfia não é sempre ensolarada se você é um Blackhawk. Os Flyers não são os Predators. Eles não iriam deixar os Hawks encontrar um herói nos últimos segundos para empatar o jogo e ganhar na prorrogação, do jeito que Kane fez em 24 de abril, no jogo 5 contra os Preds. Os Flyers fizeram o que se propuseram a fazer ao voltar para casa: seguraram a vantagem.
Bem-vindo ao ato II das finais da Copa Stanley 2010. De repente, tudo virou uma série melhor-de-três para o título mais cansativo do esporte, e os Hawks ainda terão o mando de gelo quando os dois times voltarem a se enfrentar no domingo à noite, no United Center. Entretanto, eles não terão nenhum embalo, apesar do abafa no terceiro período do jogo 4 e, no quesito confiança, Joel Quenneville e os veteranos dos Hawks terão que garantir que todos no vestiário estarão olhando para a COpa como meio-cheia de novo.
Isso pode ser mais difícil do que mover Chris Pronger. Os Flyers agora marcaram mais gols que os Hawks, 15-14, esforçaram-se mais com uma marcação de que os Hawks não conseguiram se livrar em sua própria zona e deram mais trancos, com um monte de veteranos incansáveis que se recusam a desistir. Esta parece ser uma boa hora para uma viagem a Alcatraz para os Hawks. Isso pareceu descontrair as coisas para eles durante a série contra o San Jose. Será que a cadeia do condado de Cook tem passeios guiados no fim de semana? Que tal um dia no zoo?
"Temos é de estar mais bem preparados no primeiro período", disse Toews.
O que quer que Quenneville tenha tentado para deixar seu time mentalmente preparado antes do jogo mais importante da temporada, na sexta, não funcionou. Na verdade, levou apenas 36 segundos para os Hawks mostrarem falta de concentração, quando Andrew Ladd cometeu a primeira das sete penalidades dos Hawks por interferência.
As coisas ficaram piores para os Hawks quando Mike Richards roubou o disco de Niklas Hjalmarsson no ataque dos Flyers e desferiu um belo chute de backhand que venceu Antti Niemi aos 4:35, abrindo o placar. Hjalmarsson perdeu outro disco de maneira bisonha ainda no primeiro período, em uma débil tentativa de rifá-lo após um chute de Claude Giroux ser interceptado por Matt Carle, que converteu aos 16:48 para fazer 2-0.
Quando o disco cair no domingo à noite para o jogo 4, mesmo os torcedores mais novos dos Blackhawks saberão como pronunciar Niklas Hjalmarsson (Jálmarsan). ELe tem o apelido de "Hammer'' ("martelo", em inglês), e seus erros foram os pregos no caixão dos Hawks no jogo 4.
"Foi um início difícil, mas você tenta apenas esquecer o primeiro período e seguir em frente", lamentou Hjalmarsson.
Falando em esquecer, alguém aí viu Dustin Byfuglien?
Tínhamos passado as 48 horas anteriores pensando qual seria a resposta de um time que conhecia a adversidade, mas não tinha intimidade com ela. Depois do jogo 4, os Blackhawks passaram a ter mais 48 horas para mudar a resposta.
Basta perder em casa no domingo e... ora, deixe para lá. A situação é ruim, mas ainda é cedo para começar a patrulhar o fundo do mar à procura de corpos.
Quenneville tem de encontrar o equilíbrio entre urgência e pânico, entre manter o que funcionara no passado e tentar algo novo para produzir alguma faísca.
Essa foi parte da mensagem que o técnico Q mandou ao mexer nas linhas depois da derrota no jogo 3. Andrew Ladd e Nick Boynton substituíram Adam Burish e Jordan Hendry, respectivamente, no elenco dos Blackhawks. A última vez que Boynton tinha jogado, seus colegas estavam com as barbas benfeitas. Não foram grandes trocas, mas chamadas de atenção.
O problema é que os Hawks tinham de estar prestando atenção.
O gol no início de Richards revigorou a torcida do mesmo jeito que a vitória dos Flyer no jogo 3 deu nova confiança àquela cidade. Da Broad Street aos subúrbios da Filadélfia, eles acreditavam nas palavras na frente das camisetas laranjas que eram dadas a todos os pagantes no estádio: desafie todas as probabilidades.
Os Hawks chegaram à cidade em vantagem na série, mas os Flyers tomaram o gelo com mais tutano. E parece que eles não têm nenhuma intenção de perdê-lo agora.
David Haugh é colunista do jornal Chicago Tribune. O artigo original foi traduzido e editado por Alexandre Giesbrecht.