A final entre Tampa Bay Lightning e Calgary Flames é, por vezes, referida como "a melhor final dos últimos anos". Concordo, principalmente por ter tido o prazer de ter acompanhado aquela finalíssima ao vivo pela TV, assim como pude fazer no ano anterior quando meu time perdeu a decisão para o New Jersey Devils. Tudo indica, no entanto, que Chicago Blackhawks e Philadelphia Flyers acabarão com essa escrita. Não estou diminuindo o valor de Bolts e Flames. Apenas acho que esta decisão, mesmo que não termine em um jogo 7, está sendo bem mais emocionante.
E surpreendente, já que o time de laranja tem sido o melhor do confronto até aqui.
Flyers e o jogo 1
Acredito que tenha ficado bem claro para todos que eu estou torcendo pelo Chicago Blackhawks. Por várias razões. Pela herança irlandesa da cidade, pelos Smashing Pumpkins, pelo Patrick Kane, por ser um dos Seis Originais... talvez não seja muito ético da minha parte declarar esse fato deliberadamente, mas estou torcendo pelos Hawks. O que acontece é que independentemente desse fato, eu acreditava que os Hawks venceriam a Copa Stanley, mesmo que eles enfrentassem eventualmente o Anaheim Ducks na decisão do Troféu Clarence Campbell. E eu esperava que o Chicago tivesse certa facilidade para vencer os Flyers em 5 jogos. Desde o jogo 1 ficou claro que isso não iria acontecer.
O Philadelphia foi dominante nos dois primeiros períodos da partida de abertura das finais. Troy Brouwer foi eleito a estrela do jogo por seus dois gols, mas o melhor jogador no rinque definitivamente foi alguém entre Chris Pronger e Daniel Brière. Pronger, aliás, foi o jogador que mais se esforçou em todos os sentidos, incluindo seu tempo de gelo (mais de 30 minutos!). Tudo bem que do outro lado, o Chicago tinha o #33 (como na música dos Pumpkins...) Dustin Byfuglien que com a metade do tempo de gelo de Pronger conseguiu fazer o dobro do trabalho. Mas com seus 23 turnos no rinque, Brouwer viveu sua noite de glória e foi o nome do jogo, ainda que o gol-vencedor tenha sido marcado por Tomas Kopecky. Eu não esperava, de qualquer forma, que os Flyers fossem capaz de tamanha resistência. O terceiro período foi o mais calmo, com boa parte dos jogadores estourados fisicamente. Mas foi uma final de Copa Stanley encerrada em 6-5. Não foi uma final dos goleiros, como de costume.
Antti Niemi e o jogo 2
Agora sim, uma final de Copa Stanley decidida por um goleiro. Com os Flyers novamente melhores no rinque, o goleiro dos Hawks foi a peça-chave para a vitória parando 32 chutes, principalmente quando eles vinham de seu conterrâneo Kimmo Timonen.
Mas há de se exaltar o esforço de Duncan Keith e Byfuglien que limparam o máximo que puderam a zona defensiva do Chicago e anularam o ataque dos Flyers. E quem ajudou bastante nesse processo foi Brouwer — sim, ele de novo, seja lá quem for. OK, Wikipedia... w w w ponto wikipedia ponto org. Aqui, Troy Brouwer, 24 anos, ex-jogador do Moose Jaw Warriors, no Chicago desde a temporada 2008-09 (vou desconsiderar seus dois jogos e um ponto em 2007-08). Me perdoem a falta de atenção.
Enfim, os 2-1 do Chicago foram justos. Os Flyers foram dominantes, mas a vitória da casa foi merecida porque a tão falada defesa dos Hawks foi eficiente em abafar o ânimo ofensivo do Philadelphia.
De qualquer forma o que ficou evidente nas duas partidas iniciais é que a série não seria tão fácil quanto se acreditava — ou pelo menos quanto eu acreditava. Mesmo que os Hawks vencessem os dois jogos na Filadélfia, o time de laranja estava vendendo caro sua derrota e atacando de uma forma que talvez parecesse surpreendente, mas não era novidade para quem acompanhou a série contra o Boston e contra o Montreal.
3, "jogo das estrelas"
Finalmente as estrelas do Chicago Jonathan Toews, Patrick Kane e Keith aparecem de forma decisiva na finalíssima. Mas outra vez os Flyers foram melhores. Agora jogando em casa, vencem por 4-3 com gol de Claude Giroux na prorrogação. Scott Hartnell e Chris Pronger foram os principais nomes desse jogo, mas a rigor o Philadelphia Flyers assimilou aquele jogo coletivo que tanto elogio nos Hawks. Simon Gagne e Braydon Coburn, jogadores que podem ter passado despercebidos pela maioria dos torcedores, são dois exemplos de como o time do Philadelphia funcionou bem.
Mas foi Giroux com seus três pontos o jogador mais evidente no gelo e merecedor do prêmio de estrela da partida. Os Flyers que foram ousados e ofensivos desde a primeira partida saem com a primeira vitória da série, merecidamente.
Jogo 4, tão equilibrado quanto o jogo 1
Pra mim foi o melhor jogo do Chicago na série. Os Hawks deram o azar de permitir que os Flyers abrissem 4-1 no placar — pra mim ficou bem evidente que a qualidade do jogo dos defensores do Chicago caiu sensivelmente nessa partida. Por outro lado, dois defensores, Duncan Keith e Brian Campbell, foram de vital importância para o ataque rubro-negro. Em compensação o ataque não produziu tanto quanto deveria ou se esperava. Kane e Patrick Sharp estiveram muito bem, mas no geral eu esperava mais participação, principalmente de Toews e de Marian Hossa, que tem feito seus pontos mas não tem sido (assim como nas finais anteriores) um arrasa-quarteirão.
Essa foi a vez de Michael Leighton ser o goleiro decisivo da finalíssima. Ainda assim, não trabalhou tanto quanto Niemi vem trabalhando.
Com 4-1 no placar e o jogo quase ganho, Keith (com assistência para Dave Bolland) e Campbell ganharam espaço e contribuíram para que os Hawks encostassem no placar. O Chicago cresceu no jogo e por pouco não empatou a partida forçando mais uma prorrogação. Na rede vazia Jeff Carter, que vem atuando bem na série, marcou e fechou os 5-3 para os Flyers.
Na única partida em que foi melhor, os Hawks não foram tão superiores quanto os Flyers vêm sendo nas partidas em que se sobressaem.
Resumo da ópera
A situação é inversa à que os Hawks viveram em todos os playoffs. Aqui eles são o melhor time no sentido de terem uma equipe mais talentosa. Mas o time do outro lado é o que apresenta um melhor jogo coletivo. Não dá para dizer quem se destaca pelos Flyers nessas finais porque os jogadores têm dividido muito bem suas responsabilidades.
A essa altura, à porta do jogo 5, não há nem como apontar favorito para a melhor decisão de Copa Stanley que já acompanhei.