Por: Thiago Leal

Joe Thornton lidera a NHL em pontos, com 44, e em assistências, com 37. Patrick Marleau e Dany Heatley são os principais goleadores do San Jose. O atacante de força número 1 da década sempre foi mais assistente que goleador, mesmo com todo aquele tamanho. Desde o juvenil, Thornton demonstra que criar gols sempre foi mais sua praia. Thornton marca gols de manos e assistências demais — não é uma crítica a um dos meus jogadores preferidos, é apenas um dado estatístico. Muito embora um atacante de força marque mais assistências que gols, o número de discos na rede que ele coloca também é alto, podendo, em algumas temporadas se aproximar do número de passes, em outras igualar e em outras até mesmo ultrapassar.

Baseado neste parágrafo acima, lanço uma hipótese: podemos estar presenciando o início da história do maior atacante de força que este esporte já viu. Esse tipo de análise precoce já se cometeu anteriormente com nomes como Eric Lindros e Alexei Yashin, e não é minha intenção bancar o profeta. Apenas defendo que, caso em suas temporadas seguintes ele repita o desempenho que vem tendo nos primeiros meses de profissional e teve no juvenil, este sujeito pode, sim, ser o maior nome de sua posição. E o nome dele é João. Ou melhor, John. Tavares.

No momento que esta coluna está sendo escrita, Tavares tem 27 pontos, sendo 15 gols e 12 assistências, em 33 jogos. Lidera os Islanders em pontos, vem atuando bem e deixando sua marca frequentemente. Assim como Crosby em 2005, Tavares chegou a Long Island com a missão de salvar a franquia e devolver-lhe as glórias do passado. O próprio atual capitão da franquia, Doug Weight, declarou que ele, Tavares, é o alicerce dessa nova era que o New York Islanders espera desde 2000, quando recrutou o goleiro Rick DiPietro como primeira escolha geral. Será difícil, mas o rapaz, além de talento, tem equilíbrio emocional. Até agora, cumpriu pouquíssimos minutos de penalidade. E por mais que sua cara fechada e fria passe um semblante de arrogância, o #91 aparenta, pelas entrevistas, ser alguém bastante humilde. O problema é que os Isles é um time absurdamente desequilibrado, do contrário, poderia estar numa situação melhor na tabela. Mas a pedra fundamental, o menino John, está ali. E parece resistente o bastante para suportar essa edificação, para a alegria de Mec.

Tavares tem companhia: Matt Moulson e Kyle Okposo. E tem um rival: ossos. Os dos seus companheiros de time. Poucas enfermarias vêm sendo tão visitadas quanto a da franquia de Long Island. Desorganização é o nome do meio de Charles Wang e o time agora paga por isso. Extensão de contrato de um goleiro que se quebra mais que celular da Samsung; dispensa de um goleiro que, embora não seja tão resistente, se mostra bem mais útil (Roberto Luongo); extensão do contrato de um russo que só tinha tamanho... fora o mascote Sparky the Dragon, nada que preste vinha acontecendo na administrassão Wang. Muito me estranha que a escolha que acabou se tornado Tavares não tenha sido trocada por uma pizza gigante de quatro queijos (com gorgonzola), uma Pepsi 2l e um DVD do filme infantil Como Comer Minhocas Fritas — para se assistir enquanto come a pizza.

Se a batata quente está nas mãos de John, em companhia de Moulson e Okposo, vejamos o que o grande luso-canadense vem fazendo para protegê-la:

Joãozinho e o pênalti vencedor
Tavares estreou na NHL com gol, seu único ponto na partida de estreia. Mas os Isles perderam por 4-3 para o Pittsburgh Penguins. Nos cinco jogos seguintes, Tavares marcou cinco pontos, sendo dois gols. Os Isles perderam todas as cinco partidas. A primeira vitória só veio no sétimo confronto, contra o Carolina Hurricanes. Neste comprimisso o menino João não marcou pontos durante o tempo regulamentar. Mas na disputa de tiros livres, marcou o gol vencedor. E saiu do rinque como uma das três estrelas da noite.

Joãzinho e a assistência para o gol vencedor
Para a terceira vitória da temporada, a primeira fora de casa, saiu da lâmina do taco de Tavares a assistência para o gol vencedor de Mark Streit. Os Isles venceram o Washington Capitals por 4-3. Tavares não foi uma das estrelas da noite, mas Okposo, seu colega de linha, foi.

Quem brilhou na goleada sobre o rival Buffalo Sabres foi Jeff Tambellini, autor de três gols no 5-0 e estrela do jogo. Tavares contribuiu apenas com uma assistência. Mas e daí? O gol vencedor foi de Richard Park, e sem assistência mesmo...

Joãozinho e o gol vencedor
Tavares só veio a marcar um gol vencedor de fato contra o Pittsburgh Penguins em Pittsburgh, 27 de novembro, com vitória dos Isles por 3-2.

Os resultados mostram que os nomes mais decisivos dos Islanders até aqui vêm sendo Tambellini e Moulson. Mas sem dúvida Tavares é o mais constante. E olha que nem chuta tanto a gol assim — mesmo sendo um goleador nato, João sabe quando é melhor o passe e não aveja qualquer disco que para em sua lâmina a gol. Bem ao contrário de Okposo, por exemplo. Esse, por sinal, é bem melhor nas assistências que nos gols, embora chute à rede o tempo todo.

Trottier-Tavares
Bryan Trottier era o #19. John Tavares é o #91. Trottier tinha estabelecido o recorde de cinco gols consecutivos com a camisa dos Isles em série de pós-temporada contra o Philadelphia Flyers. O polonês Mariusz Czerkawski igualou essa marca em três jogos. Tavares chegou à marca entre quatro jogos diferentes: em 3 de dezembro contra o Atlanta; no sábado, 5 de dezembro, os Isles perderam por 4-0 do Tampa Bay; no dia 8 de dezembro, João marcou os dois gols do time na derrota por 6-2 para o Philadelphia; e repetiu o feito na derrota por 3-2 para o Toronto. Marca igualada.

As características dos dois, no entanto, são bem diferentes, à partir do ponto que Trottier não fazia o gênero de atacante de força. Central e canhoto, assim como Tavares, Trottier era um grande goleador, sem sombra de dúvida. Mas os números de Tavares lhe permitem comparação a outra pessoa. Um outro monstro do New York Islanders: Mike Bossy.

A vantagem de Tavares sobre Bossy e Trottier é que o rapaz tem uma estrutura física que não se via naquela época. Da mesma forma que alguns projetaram que Lindros fosse uma espécie de Gordie Howe moderno, o que virou uma espécie de piada, Tavares pode ser compreendido como um Bossy/Trottier do hóquei moderno. Não estou afirmando que será melhor jogador, mas pode ser tão eficiente quanto. Ou mais. E, por que não, melhor? Só não quero precipitar as coisas para cima do #91.

Mas para pensar no assunto, Tavares ainda tem que fazer pelos Isles o que Trottier fazia. E, além da companhia de Bossy pela direita, Trots tinha a companhia de Clark Gillies pela esquerda. O Trio Grande. A Santíssima Trindade.

A linha 26-91-21
Sim, Tavares não apenas chegou bem em Long Island como mudou o time e transformou uma linha boa em matadora. Formada por Moulson-Tavares-Okposo. É uma linha disciplinada, bem ao exemplo de praticamente todo time do NY Islanders. Essa linha já acrescentou ao time 75 pontos na atual temporada. E Tavares claramente melhorou o desempenho dos dois atacantes que tem ao seu lado. Não vou entrar com detalhes nerds a respeito de Okposo e Moulson, mas poderia adiantar que João melhorou em 6,6% a produtividade de Okposo e a de Moulson em mais de 36%! Wow!

Okposo já era um talento promissor antes mesmo do menino João aparecer no Nassau Veterans Memorial Coliseum. Capitão alternativo da franquia, Kyle Okposo seria a principal peça de marketing dos Isles antes de Tavares acontecer. Moulson, por outro lado, é uma surpresa. De um jogador qualquer em Los Angeles, o sujeito de 26 anos virou um nome importantíssimo para o ataque do NY Islanders, sendo referência para as assistências de Okposo e assistente para o bom posicionamento de Tavares. Além de estar mostrando grande potencial decisivo.

Tavares se encaixa bem melhor nesta linha que na linha em sua primeira partida com os Isles, em pré-temporada, que formava ao lado de Weight e Sam Bergenheim.

O único defeito que vejo em John Tavares é que ele não desperdiça chutes. Defeito? Sim, porque já disse um homem que veio à Terra e cumpriu sua missão como maior jogador de hóquei no gelo de todos os tempos: "Você perde 100% dos chutes que nunca chuta". Okposo marca bem menos, mas chuta muito mais. Tavares poderia tentar mais chutes a gol. Quem sabe seus números melhorassem ainda mais. Tavares também vem sendo um pouco criticado por sua falta de velocidade. Mas em geral, o calouro tem tido sossego por parte da mídia, até porque os próprios Isles parecem proteger o rapaz. Isso me assusta! Uma decisão inteligente por parte da gerência em Long Island? A paz que Tavares tem para jogar nem se compara ao sufoco que Sidney Crosby viveu em sua primeira temporada. E se nomes como Wayne Gretzky, Mario Lemieux e Sidney Crosby resistiram a essa pressão, por mais que tenhamos exemplos contrários, acredito que, sem ela, John Tavares poderá se desenvolver mais rápido que os rapazes citados (vejam bem, não estou comparando Tavares a eles nem dizendo que Tavares será tão bom quanto eles, apenas que Tavares poderá precisar de menos tempo para atingir o potencial que dele se espera).

Dá para acreditar que continuará assim? Dá, porque o estilo de jogo de Tavares não me parece fenômeno momentâneo, uma vez que o rapaz está mais para um jogador completo de que para um atleta baseado em características particulares, como, por exemplo, Lindros, que tinha todo aquele tamanho e um domínio de disco tão manjado que com algum tempo qualquer defensor sabia como parar o Big Eric antes mesmo que ele chutasse a gol. Tavares não se baseia numa característica frívola como velocidade e apenas velocidade, ou o uso da força e apenas o uso da força, por exemplo. Obviamente em alguns momentos os gols vão diminuir e em outros aumentar.

Apesar de estar bem próximo dos oitos classificados aos playoffs, não acredito que o New York Islanders vá à pós-temporada. Mas já se pode sentir os ventos da mudança em Long Island. E Tavares é o principal responsável.

Ah, sim... eu às vezes me refiro ao rapaz como Tavares, às vezes como John e às vezes como João. Acostumem-se.

Longa vida ao #91!

Thiago Leal tem se preocupado em acompanhar os números de Tavares desde sua época de Oshawa Generals.
Bruce Bennett/Getty Images
A linha 26-91-21 marca e o New York Islanders bate o New York Rangers.
(28/10/2009)

Jim McIsaac/Getty Images
Matt Moulson acha graça, mas John Tavares mantém a concentração: frieza e foco no jogo.
(27/11/2009)

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Página publicada em 16 de dezembro de 2009.