Por: Thiago Leal

Grandes prospectos costumam vir de equipes juvenis canadenses, ou das estadunidenses que jogam nas ligas canadenses WHL e OHL. Preferencialmente, são selecionados na primeira rodada do recrutamento, alguns com o privilégio de primeira escolha geral. E se perfilam para a disputa do Troféu Calder de calouro do ano e para disputar o Jogo das Jovens Estrelas. Costumam ter uma boa altura — pelo menos 1,80m, e se profissionalizam muito jovens, na casa dos 18, 19 anos. Esses são os filhotes de cisnes, que chegam à NHL prontos para brilhar.

Um jogador que passa por duas ligas juvenis estadunidenses e de porte menor, como a North American Hockey League e a United States Hockey League, e termina sua carreira juvenil em uma universidade de nível um pouco inferior em termos de time de hóquei, e ainda por cima tem apenas 1,75m e se profissionaliza aos 22 anos de idade dificilmente atrairia os holofotes na NHL, pelo menos em sua primeira temporada.

Mas e se este patinho feio chega ao Bakersfield Condors e marca 26 pontos em 18 jogos, é promovido ao Manitoba Moose e marca três pontos em cinco jogos, ele merece uma chance, certo? Ainda mais quando ele nasceu num lugar como Minnesota, o Estado do Hóquei. Dan Sexton teve a sua. E resolveu abraçá-la de um modo que o Anaheim Ducks decida estendê-la por mais algumas temporadas.

O atacante destro, natural de Apple Valley, começou sua carreira juvenil no Wichita Falls Wildcats da NAHL e, na temporada seguinte, defendia o Sioux Falls Stampede da USHL. Nada tão glamuroso quanto jogar pelo London Knights ou Calgary Hitman. Quando passou ao time universitário, Sexton foi admitido em Bowling Green. Não é um time de hóquei ruim e já revelou estrelas como Rob Blake e o bom Ken Morrow, mas nada que se compare a instituições badaladas como as Universidades de Boston ou Minnesota. Esses fatores fazem com que os bons números de Sexton nos juvenis sejam ignorados.

Como jogadores norte-americanos só podem ser recrutados até os 20 anos, Sexton, aos 22, não poderia mais ser selecionado e era um agente livre irrestrito. Ganhou uma oportunidade do Anaheim Ducks que, após assinar contrato, foi integrado ao elenco para os treinos e jogos de pré-temporada.

Pouca gente sabe ou lembra, mas os primeiros pontos de Sexton com a camisa do Anaheim Ducks foram duas assistências para Bobby Ryan no empate em 2-2 com o Phoenix Coyotes. A vitória, nos pênaltis, veio com um gol de Ryan. Sexton não jogou no segundo jogo dos Ducks na pré-temporada, contra o Vancouver Canucks. Mas no terceiro confronto, contra o Phoenix Coyotes, estava presente, sim, e marcou um gol na vitória por 4-3.

OK, faz sentido. Esse menino dá jogo. Mas não é prudente colocá-lo de cara para jogar suas primeiras partidas oficiais na NHL. Encerrada a pós-temporada, onde Sexton só jogou aquelas duas partidas, a gerência dos Ducks o mandou para seu único afiliado direto no momento, o Bakersfield Condors da ECHL. Sua "linhagem" foi criticada em Bakersfield. Como assim um cara que veio de ligas juvenis de nível menor e nem ao menos integrou o elenco de um time universitário decente?

Digamos Sexton teve o prazer de fazer quem escreveu esse tipo de crítica preconceituosa, embora tenha seu fundamento, quebrar o teclado. Em seu primeiro jogo pela franquia, marcou um gol e assinalou uma assistência, e os Condors venceram o Ontario Reign por 5-0. Na partida seguinte, também contra o Ontario, o Bakersfield perdeu por 8-2, mas um dos dois gols foi de Sexton. Na partida seguinte, contra o Victoria Salmon Kings, duas assistências de Sexton, com vitória do Bakersfield por 3-1. E mais um gol e uma assistência na vitória por 4-3 dos Condors novamente contra o Salmon Kings. E seu primeiro hat trick veio após os Condors vencerem o Alaska Aces por 7-4. O próximo foi contra os próprios Aces e Sexton tornou a marcar três pontos, sendo desta vez dois gols e uma assistência. Ele já somava 26 pontos em 18 jogos. 13 gols + 13 assistências. Demais da conta para provar que ele merecia um lugar melhor para jogar.

O Anaheim Ducks não possui afiliado na AHL. O Iowa Chops está suspenso por irregularidades administrativas e os prospectos dos Ducks estão espalhados pelos demais times da liga, com concentração maior no San Antonio Rampage. Mas Sexton foi enviado para uma cidade que respira tanto hóquei no gelo quanto o estado onde nasceu: Winnipeg, para jogar pelo Manitoba Moose. Em cinco jogos foram três pontos. Como Teemu Selanne havia quebrado a mão esquerda em uma partida contra o Dallas Stars, os Ducks chamaram Sexton para, finalmente, fazer sua estreia na NHL, onde muito calouro de primeira rodada de recrutamento chegou a fracassar. Sua estreia seria em casa — não a casa dos Ducks, mas a sua terra natal, contra o Minnesota Wild. Coincidentemente, contra o jogador que usa o mesmo número que Sexton usava nos juvenis, na faculdade e ligas menores: #8. Em virtude disso, o rapaz escolheu a camisa #42 (seria 4x2?). No site oficial do Anaheim, Sexton relatou que poucos dias antes do confronto com o Wild, conversou com um amigo de infância como seria legal estrear lá, em St. Paul. E aconteceu.

Sexton teve 13 minutos de gelo e não chegou nem a chutar a gol. Timidez? Seus primeiros chutes foram contra o Ottawa Senators. Sem pontos. E no terceiro período da partida contra os Stars na California os Ducks perdiam por 3-1. Até que Sexton recebeu assistência de Ryan e diminuiu o placar. OK, um golzinho. Bom, mas pode melhorar. E o que seria melhor que marcar o gol de empate a um minuto do fim do jogo? Sem assistência? Sexton marcou. Os Ducks levaram um jogo perdido à prorrogação e venceram. Putz! QUEM DIABOS É DAN SEXTON? Opa! "Diabos" não! Essa palavra não é bem vinda em Anaheim!

Já "Detroit"... sim, essa palavra traz boas lembranças. Primeiro Sexton contribui com assistência para Saku Koivu marcar. E depois marca mais um gol. Wings vencem por 3-2 na prorrogação, mas... Sexton? De novo? De novo! E novamente contra o Columbus Blue Jackets, vitória por 3-1. O primeiro gol dos Ducks foi marcado por Sexton, claro, que também esteve presente na vitória por 3-2 sobre o Vancouver Canucks.

Sexton é o novo ídolo de Anaheim. O camisa #42. O responsável pelo despertar de Bobby Ryan e, principalmente, Saku Koivu, a mais badalada contratação dos Ducks que não vinha fazendo nada até que o novato de 22 anos de idade aparecesse em sua linha.

Numa temporada quase perdida onde os Ducks até voltaram a parecer Mighty e a eliminação dos playoffs parecia certa (o time é o último nos playoffs), Sexton despertou a torcida e surgiu como esperança. Se não de uma classificação à pós-temporada, pelo menos de um futuro bem melhor a uma franquia de velhos medalhões (Selanne, Koivu, Scott Niedermayer) que espera mais de sua juventude: Ryan, Getzlaf, Perry, Lupul e, agora, ele próprio, Dan Sexton.

Thiago Leal manda um abraço a seus amigos do Honda Center Brasil, que também foram surpreendidos por Dan Sexton.
Arquivo TheSlot.com.br
O rapaz preferiu concluir seus estudos em Bowling Green para só depois se profissionalizar, já aos 22 anos de idade.

Henry A. Barrios
Sexton provou seu valor para a NHL em jogos como este, onde assinalou duas assistências para derrotar o Ontario Reign.
(28/10/2009)

AP
Dois gols no terceiro período: Dan Sexton salvou a vitória contra o Dallas e virou ídolo em Anaheim.
(08/12/2009)

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Página publicada em 16 de dezembro de 2009.