Quando o calendário chegar ao décimo jogo, será o fim da festa para alguns garotos na NHL. Eles provavelmente não vão virar abóbora, mas sumirão do mapa de qualquer forma, em direção aos confins das ligas juniores, aguardando a próxima temporada e uma nova oportunidade.
Para alguns a sorte é diferente.
Se mais times seguirem o exemplo do Colorado Avalanche, esses "adolescentes" vão competir contra homens na grande liga em 2009-10.
Os Avs anunciaram nesta semana que Matt Duchene, terceira escolha geral do recrutamento de 2009, e Ryan O'Reilly, 33.ª escolha, continuarão com a equipe pelo restante da temporada. Isso quer dizer que eles serão profissionais para todos os efeitos.
Nos próximos dias, mais sete equipes terão que decidir o futuro de seus meninos.
Entenda por quê.
Os prospectos assinam contratos de introdução, com duração máxima de três anos. O contrato só entra em vigor a partir do momento em que o jogador disputar dez jogos na temporada. Se a equipe entender que o garoto ainda não está pronto para a NHL, ela o rebaixa para uma liga de juniores, mantendo o vínculo contratual, porém sem a possibilidade de convocá-lo de volta naquela mesma temporada. Nesse ínterim o contrato não corre, ou seja, permanece "congelado", com sua duração inalterada.
O impacto desta decisão é mínimo no curto prazo, mas apocalíptico no longo prazo.
Um jogador de 18 anos que inicia sua carreira profissional (disputa mais de dez jogos na temporada, queimando o primeiro ano de seu contrato de introdução) será agente livre irrestrito (UFA) aos 25 anos. Na condição de UFA, ele pode assinar com qualquer outra equipe da liga sem que seu antigo time receba um tostão em troca.
Antes disso, aos 21 anos, rumo a sua quarta temporada, esse jogador receberá um novo contrato, certamente mais pesado que o de introdução, consumindo recursos da organização e causando maior impacto no apertado teto salarial.
Então a menos que esse prospecto seja um fora de série, dispute mais de 20 minutos por jogo e apareça regularmente na lista de pontuadores, não vale a pena trocar um ano de desenvolvimento nos juniores (com a possibilidade de disputar a artilharia da liga menor, competir nos playoffs e participar do Campeonato Mundial de Juniores) por um ano de amargura na terceira linha do time profissional, acumulando um monte de zeros e um assustador saldo negativo de +/-.
Nesta situação, o melhor que a gerência pode fazer é trocar uma temporada do adolescente de 18 anos por outra do jogador já maduro aos 22 anos, mantendo-o por mais tempo na organização e retardando os efeitos dos novos contratos.
Apesar disso, o Avalanche aposta que Duchene e O'Reilly estão prontos para a NHL. E talvez estejam mesmo, vide o papel dos jogadores no sucesso recente do time.
A dupla dos Avs tem um começo de temporada totalmente diferente do que teve Steven Stamkos no ano passado.
Naquela ocasião, o Tampa Bay Lightning também acreditava que Stamkos estivesse pronto. Olhando para trás, a má temporada e toda a desconfiança teria sido evitada se o Lightning percebesse que ainda não era o momento do jogador. E os números mostravam isso, porque após oito jogos Stamkos tinha apenas um ponto.
Talvez a decisão da gerência à época tivesse sido diferente se o central não marcasse dois gols e três pontos em seu nono jogo, o que de fato sepultou as dúvidas e garantiu sua permanência pelo restante da campanha.
O ano de Stamkos foi salvo posteriormente pela excelente segunda metade de temporada, quando finalmente mostrou todo o seu potencial. De qualquer forma, caso fosse rebaixado, Stamkos teria brilhado nos juniores e hoje lutaria pelo Troféu Calder, além de ter mais um ano de contrato no futuro, sem ter sofrido, aos 18 anos, tanta pressão com o esculhambado time do Lightning de 2008-09.
O Phoenix Coyotes é uma bela ilustração do que não fazer com os garotos.
Na temporada passada, Kyle Turris e Mikkel Boedker foram titulares aos 18 e 19 anos, respectivamente. Ao lado deles estava Viktor Tikhonov, de 20. Hoje o trio de promessas dos Coyotes joga na segunda divisão (AHL), enquanto o gerente geral, Don Maloney, se arrepende da decisão de ter confiado nos garotos e queimado etapas.
"Para cada Patrick Kane, há provavelmente uma dúzia de outros jogadores que foram altas escolhas no recrutamento e que todo mundo esperava que causassem impacto aos 18, 19 ou 20 anos de idade, mas esse raramente é o caso," ele diz.
As equipes da NHL cada vez mais enfrentam a decisão de manter ou não seus talentosos meninos.
Desde o locaute, 52 jogadores com menos de 20 anos de idade iniciaram suas carreiras na NHL. Este número aumenta a cada ano. De 2005-06 a 2008-09, o número de "adolescentes" subiu de quatro para 16.
Na atual temporada são dez, por enquanto.
Entre eles estão seis provenientes do último recrutamento: John Tavares, Viktor Hedman, Evander Kane, Dmitry Kulikov, Duchene e O'Reilly. Desta lista apenas Kulikov corre algum risco, até porque a experiência Jay Bouwmeester deve ter ensinado algo ao Florida Panthers. Os demais certamente continuarão na NHL pelo restante da temporada.
Os outros quatro são Michael Del Zotto, Erik Karlsson, Tyler Myers e James Wright, todos escolhidos no recrutamento de 2008. Wright pode ser rebaixado pelo Lightning, mas os outros têm grande chance de continuar na liga, principalmente Del Zotto, a grata surpresa do New York Rangers.
Dos 42 jogadores "precoces" (eliminando os dez atuais), apenas 25 tiveram uma temporada completa já no primeiro ano. Os demais foram rebaixados antes que começasse a vigorar o contrato de introdução (ou seja, antes do décimo jogo).
Entre os 25 estão Sidney Crosby, Patrick Kane, Anze Kopitar, Jordan Staal, Drew Doughty e Zach Bogosian, resumindo a lista àqueles que mais se destacaram em sua primeira aparição, mas também estão Stamkos, Sam Gagner, Guillaume Latendresse, Joshua Bailey e Jiri Tlusty, exemplos de precipitação das equipes.
O próprio Avalanche
deu uma lição, em 2005-06, de como tratar as jovens promessas. Naquela temporada, Wojtek Wolski se destacou em sua passagem pela equipe no começo da temporada, marcando dois gols e seis pontos nos nove jogos de experiência. Mesmo assim, a gerência decidiu rebaixá-lo para os juniores, onde o polonês marcou 47 gols e 128 pontos, terminando a temporada em terceiro lugar entre os artilheiros da OHL.
No ano seguinte, já na NHL, Wolski anotou 22 gols e 50 pontos, atuando 15:31 minutos por jogo, efetivando-se como titular. E dali em diante sua participação e seu nível de jogo evoluíram, sendo um dos destaques do time do Colorado que hoje lidera a Conferência Oeste.
O perigo para a gerência dos Avs é ser traída pelo momento, porque é possível que Duchene e O'Reilly não suportem o ritmo da estafante temporada de 82 jogos da NHL. É o que geralmente acontece com os jovens atletas no decorrer da campanha.
E então as equipes percebem que a distância entre a liga de juniores e a liga profissional pode ser de um passo maior do que as pernas.
É tentador segurar os garotos e ganhar alguns jogos agora, mas o ideal é pensar no longo prazo.
Claus Andersen/Getty Images |
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