O tema não é novidade por aqui. Já foi até capa, e, sem uma pesquisa, dá para imaginar que tenha sido abordado em todas as temporadas que cobrimos desde o início. Estou falando do time que conquista a Copa Stanley e no início da temporada seguinte começa de maneira claudicante, uns mais, outros menos. Ora, uma simples campanha mediana já costuma ser chamada de ressaca nesses casos. Por isso é tão impressionante a largada dos Penguins nesta temporada recém-iniciada. Nos primeiros nove jogos, foram nada menos que oito vitórias e uma derrota. Cinco das vitórias vieram fora de casa, o que representa um aproveitamento de 100% longe da Mellon Arena. O goleiro Marc-André Fleury neste instante tem campanha de 8-0.
Quando as garrafas de champanhe já estavam vazias depois da festa, quando a Copa Stanley já tinha viajado o mundo em sua peregrinação efusiva com cada membro do time campeão, começou-se a imaginar como seria 2009-10, e o que mais se ouvia em relação ao Pittsburgh era que duas longas pós-temporadas poderiam afetar o time, da mesma maneira que acabariam por afetar os Red Wings, rivais nas finais desses dois playoffs. A perda de jogadores razoavelmente importantes, como Maxime Talbot (por contusão, até no mínimo o mês que vem), Rob Scuderi e Hal Gill (ambos assinaram com outros times como agentes livres), também preocupava.
Mas parece que a mágica do técnico Dan Bylsma ainda não acabou. Sim, estou falando de mágica. Ou alguém tem outra explicação para a campanha de 26-4-4 do time nos últimos 34 jogos de temporada regular, ou desde fevereiro, quando Bylsma assumiu o comando de um time que até então não caminhava para lugar algum? E a campanha das últimas semanas só reforça esse conceito, pois não se está vendo uma maravilha de time no gelo. E Bylsma sabe disso: "Acho que não jogamos o que achamos que podemos. Há áreas que sabemos que temos de melhorar se quisermos ser um bom time. Temos um longo caminho pela frente."
Isso ficou bastante claro no terceiro jogo da temporada, uma derrota por 3-0 em casa para os Coyotes, em que os jogadores no gelo pareciam um bando de sonâmbulos. Desde então, foram seis vitórias seguidas. A confiança parece ser a chave desse processo, apesar de Bylsma ter deixado claro logo no início da pré-temporada que o título conquistado em junho deveria ser esquecido. Seja esse ou não o motivo, a coisa está funcionando até agora. Na partida desta terça-feira, contra os Blues, os Pens dominaram do início ao fim, especialmente no primeiro período, que se encerrou com uma vantagem de 20 a 3 em chutes a gol. Esse domínio gerou uma das mais divertidas aberturas de texto do ano, no jornal Pittsburgh Post-Gazette do dia seguinte: "Isso não pode ser tão fácil como os Penguins fizeram parecer. Não tem como ser. Se fosse, eles terminariam a temporada com campanha de 81-1, e isso não vai acontecer. De jeito nenhum. É difícil imaginar uma campanha melhor que 80-1-1. Talvez até 79-3, se eles passarem por uma má fase prolongada em algum momento."
Tão surpreendente quanto o sucesso inicial é a produção das duas estrelas do time: Evgeni Malkin (três gols, 11 pontos) e Sidney Crosby (quatro gols, oito pontos) não estão exatamente em uma má fase, mas nenhum deles parece estar por ameaçar Alexander Ovechkin, dos Capitals, o artilheiro da liga com nove gols e 16 pontos em oito partidas. Não que ter o artilheiro seja tão importante assim, tanto é que os Caps recentemente ficaram quatro jogos sem ganhar e os Penguins do ano passado foram apenas o terceiro clube nos últimos vinte anos a conquistar a Copa Stanley depois de fazer o artilheiro da temporada regular. A diferença é que os coadjuvantes estão produzindo a contento, não só ofensiva como defensivamente, já que Jay McKee, o jogador que mais bloqueou chutes na liga até agora, está provando que é uma versão mais velha de Scuderi.
É claro que nem tudo são flores, mesmo com quase 90% de aproveitamento. O zagueiro Sergei Gonchar contundiu-se na vitória sobre os Blues e deve ficar de um a dois meses fora da equipe. Sua contusão no ano passado foi um dos principais motivos da queda livre sofrida entre dezembro e fevereiro, que chegou a deixar o time cinco pontos atrás da última vaga aos playoffs. A equipe de vantagem numérica é outra preocupação, assim como a baixa produção de Chris Kunitz e de Ruslan Fedotenko, pontas respectivamente nas linhas de Crosby e Malkin.
Da mesma maneira que a longa temporada garante que o time não vai vencer seus próximos 73 jogos, ela é um forte indício de que Kunitz e Fedotenko podem se recuperar, e o próprio elenco sabe de tudo isso. "Ninguém quer se pegar pensando em março", reconhece Crosby. "Não vamos começar a fazer isso agora. Tivemos sucesso até aqui, e isso é muito bom, mas nada é automático, e as coisas podem virar de uma hora para outra. Não seria muito inteligente ficar pensando lá na frente."
Mesmo a contusão de Gonchar pode não ter o mesmo efeito da que o tirou da primeira metade da temporada passada. Desta vez, seus substitutos em potencial, Kris Letang e Alex Goligoski, estão um ano mais experientes, e a experiência do russo pode ser provida por Martin Skoula, que ainda não foi escalado para nenhuma partida desde sua contratação e agora tem chance de provar que é mais que um cone de treinamento. Sim, os Penguins estão piores agora do que antes da partida contra os Blues, mas a situação ainda está longe de ser desesperadora.