Por: Alexandre Giesbrecht

É inevitável analisar as finais da Copa Stanley deste ano comparando-as com as finais do ano passado. Pode parecer um clichê, mas o título "Revanche" que estampa nossa capa nesta semana não foi cunhado por acaso. Poucas revanches foram tão esperadas nas últimas décadas. Ou melhor, até houve outras, mas nunca foram realizadas. Quem não gostaria de imaginar os Wings pegando os Devils na final em 1996 ou 1997? Ou os Avs pegando os mesmos Devils depois de 2001? Ou ainda novas edições de Lightning x Flames?

Desta vez, poderemos conferir como dois times parelhos se comportam com um ano a mais de experiência. E com detalhes que só enriquecem os quatro a sete jogos que teremos pela frente nos próximos dias. Por exemplo, Marián Hossa e Ty Conklin do lado de lá, o primeiro enfrentando o ódio de parte da torcida de Pittsburgh por ter "traído" o time ao debandar para Detroit poucos dias depois de encerradas as finais de 2008 — ué, ele não fez o que era seu direito? — e o segundo a enfrentar o ostracismo da reserva de um goleiro que desde os playoffs passados tem enfrentado seus críticos com boas atuações.

Pelos campeões da Conferência Leste, os Penguins tentam provar que de junho passado para cá amadureceram e estão prontos para ganhar um título que não veem há 17 anos. É uma tese interessante, mas que foi posta a prova durante a temporada regular, quando o time caiu pelas tabelas mesmo sem um número de contusões de jogadores importantes que justificasse tal queda, o que levou muitos, inclusive este colunista, a imaginar que talvez o ex-técnico Michel Therrien não fosse tão querido assim.

As campanhas de ambos os times neste mata-mata não dizem muito sobre o que esperar das finais. Os Wings, por exemplo, passaram com surpreendente facilidade pelos Blackhawks, assim como tinham ignorado quase por completo os Blue Jackets na primeira fase — o que, convenhamos, só foi surpresa para quem... bem, para ninguém. Mas, entre essas duas séries, tiveram grandes problemas contra os Ducks e ficaram a menos de cinco minutos de enfrentar a loteria da prorrogação no jogo 7.

Essa anômala série é melhor explicada por uma boa atuação do adversário do que por algo que indique fraqueza. É bem verdade que o insubstituível Dallas Drake deixou o time para sua merecida aposentadoria depois de revolucionar a liga com talento e raça inigualáveis, mas Hossa, se não é um enviado dos deuses do hóquei como Drake, é um atacante de respeito. O resto do time é praticamente o mesmo que dominou os Penguins um ano atrás.

Os Penguins não sofreram mudanças radicais, mas estão bem menos intactos em relação ao ano passado do que os Wings. Enquanto Hossa substituiu um semideus em Detroit, em Pittsburgh ele foi substituído por um atacante de sobrenome Satan. Não demorou nem dois segundos e meio para se perceber a diferença, mas meses passaram-se até que algo fosse feito a respeito: em março ele foi para o time de baixo dos Penguins, para abrir espaço sob o teto salarial para a troca que rendeu Bill Guerin, este sim produzindo ao lado de Sidney Crosby. Nos playoffs, Satan voltou em outra função, na quarta linha, e nela tem se dado bem.

Outra mudança se deu com a saída de Ryan Whitney da defesa, que estava congestionada por excesso de jogadores capazes (embora Whitney fosse melhor que quase todos eles). Ele rendeu o ponta Chris Kunitz, que não é nenhum craque, mas serviu para mandar Pascal Dupuis para a quarta linha, onde ele é mais eficiente. Ruslan Fedotenko é outra cara nova, que veio para o lugar de Ryan Malone — claramente, um downgrade na posição. Petr Sykora não deixou o elenco, mas sua falta de produtividade na reta final custou-lhe o lugar no time durante os playoffs.

No papel, os Penguins estão piores que no ano passado, embora os 365 dias de experiência a mais façam a diferença em um elenco que ainda é bastante jovem. A campanha até aqui no mata-mata teve a inesperada varrida contra os Hurricanes, precedida por uma difícil série contra os Capitals e uma de dificuldade mediana contra os Flyers. Nas duas primeiras séries o time teve problemas, mas acabou passando mesmo sem resolvê-los. Aí veio a facilidade que foi a série final do Leste. "Eles foram intimidados pelos beligerantes Flyers, levados ao limite pelos ultratalentosos Capitals e receberam uma vigorosa massagem dos Hurricanes", escreveu Gene Collier, colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette.

Maso último mês e meio de jogos para valer pouco indica e até as mudanças que ocorreram não significam grande coisa. É mais do que óbvio: se o que está por vir fosse previsível, para quê os times entrariam no gelo? Melhor que tentar prever é sentar-se na frente do computador para assistir aos jogos. Porque a única previsão que tem boas chances de se concretizar sem ser na base da sorte é que estas finais serão uma série e tanto.

Alexandre Giesbrecht, 33 anos, tem Michel Laurence como um de seus ídolos no jornalismo.
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Página publicada em 28 de maio de 2009.