Por: Humberto Fernandes

O que se passa na cabeça do gerente geral Lou Lamoriello, do New Jersey Devils, é algo tão intrigante quanto o final da segunda temporada do seriado Prison Break.

Faltando três jogos para o término da temporada regular, Lamoriello demitiu o treinador Claude Julien e assumiu o posto atrás do banco de reservas. Foi apenas a quinta troca de técnicos na temporada, sendo a única em equipe classificada para os playoffs. Dessa forma os Devils se juntaram ao nada seleto grupo composto por Philadelphia Flyers, Columbus Blue Jackets, Chicago Blackhawks e St. Louis Blues.

Demitir treinadores às vésperas dos playoffs não é novidade para Lamoriello. Na temporada 1999-00, o gerente geral demitiu Robbie Ftorek a oito jogos do fim da temporada regular e efetivou Larry Robinson em seu lugar. Os Devils sagraram-se campeões da Copa Stanley com Robinson.

Eliminando-se a hipótese de superstição, resta-nos acreditar no que foi declarado oficialmente para entender a mudança atual. Para Lamoriello, a equipe não estava preparada mental e fisicamente para enfrentar a dureza dos playoffs. Os números não traduzem atributos físicos e mentais, mas servem como indicativo do potencial de uma equipe, embora no hóquei isso às vezes não se traduza em sucesso nos playoffs. Com Julien os Devils registraram a campanha de 47-24-8, somando 102 pontos, a caminho do título da Divisão do Atlântico. Nada mal.

Embora tenha vencido quatro dos últimos cinco jogos, Julien registrava apenas sete vitórias nas últimas 15 partidas, em que a equipe não contou com sua força máxima, desfalcada pelos atacantes Brian Gionta, John Madden e Patrik Elias, responsáveis por 28% dos gols marcados. De fato os Devils estiveram cambaleantes, mas aos poucos prevalecia a tendência de recuperar o poder de fogo perdido.

Insegurança no time, no entanto, não combina com Lamoriello. Julien foi o sétimo treinador da equipe desde 2000, considerando as idas e vindas de Robinson. E assim, pelo segundo ano seguido, o gerente geral e presidente acumulará funções na pós-temporada, treinando o time na corridas pelas 16 vitórias.

A carreira de Lamoriello como treinador começou no fim da década de 1960, quando assumiu o posto no Providence College, na liga universitária. Foram 11 temporadas à frente da equipe, até 1981. Em dezembro de 2005, Lamoriello substituiu Robinson, guiando os Devils a 32 vitórias em 50 jogos, sendo 11 consecutivas no final da temporada, o suficiente para a arrancada histórica rumo ao título da Divisão do Atlântico. Nos playoffs a equipe varreria o New York Rangers antes de cair diante do futuro campeão Carolina Hurricanes.

Julien estava em sua primeira temporada nos Devils e quarta na NHL. Em 2003 o treinador assumiu o Montreal Canadiens após ótimo trabalho à frente do Hamilton Bulldogs, afiliado menor situado na AHL. Porém a competência de Julien não salvou os Canadiens, que fracassaram na tentativa de classificação aos playoffs. Na temporada seguinte, no entanto, a única em que pôde treinar sua equipe do começo ao fim, guiou os Habs à segunda rodada nos playoffs, até a varrida sofrida diante do Tampa Bay Lightning, futuro campeão. Em 2006, embora estivesse com retrospecto acima dos 50%, Julien caiu após 41 jogos.

Em sua primeira declaração pública após a demissão, Julien manifestou-se surpreso pelo ocorrido, mas não criticou o ex-patrão. Manteve a boa conduta, mesmo ao sair sem motivo algum aparente.

Na estréia de Lamoriello, os Devils venceram e praticamente asseguraram a segunda posição na Conferência Leste. Esse é o time de Julien, porque ainda vai demorar para que o "novo" treinador imprima sua cara no estilo de jogo da equipe. Tão perto dos playoffs, pode ser que não haja tempo para tal. E aí Lamoriello estará numa enrascada. Se os Devils fracassarem, muitos irão dizer que foi um equívoco demitir Julien. A solução é torcer para que Martin Brodeur continue carregando o time.

O Carolina Hurricanes tanto se esforçou durante a temporada que conseguiu: não irá defender a Copa Stanley nos playoffs.

Os Canes estão se especializando em grandes quedas. Do vice-campeonato de 2002 para a última posição geral da Liga em 2003 e do título de 2006 a eliminados em 2007.

A equipe dessa temporada era bem melhor que aquela, então considerada mais uma das cinderelas da liga — nome dado ao time que faz um campanha brilhante em uma temporada e retoma a mediocridade habitual nos anos seguintes. O que deu errado?

Problemas em todos os setores. O goleiro Cam Ward fez temporada muito abaixo do esperado, não roubando jogos para a equipe. E são esses jogos que determinam a condição de eliminado na classificação. A defesa enfrentou uma série de contusões, forçando a gerência a se movimentar mais de uma vez para reforçá-la, a ponto de negociarem o tão-esperado-prospecto Jack Johnson. Por fim, o ataque foi um dos piores da conferência, representado por Eric Staal e sua queda drástica na pontuação.

Na acirrada disputa pela classificação na Conferência Leste, realmente os Hurricanes não tinham elenco para defender a Copa.

Na Conferência Oeste, a briga é pela definição das posições. Como já era esperado, os confrontos serão conhecidos apenas nos últimos dias.

Detroit Red Wings, Anaheim Ducks, Vancouver Canucks e Nashville Predators devem conquistar as primeiras posições, mas isso certamente não representará uma grande vantagem na primeira rodada dos playoffs em relação aos adversários, porque todos os demais times podem surpreender.

Caso os Wings confirmem a primeira posição, provavelmente enfrentarão o Calgary Flames, equipe que mais venceu jogos em casa e que está quente nesse final de temporada regular, lutando para garantir a última vaga. Poderá ser tanto a revanche dos Wings, eliminados em 2004, como a consagração de Miikka Kiprusoff. Ao cair o primeiro disco no gelo, não importa quem é o primeiro e quem é oitavo. Isso não faz diferença.

Ducks e Canucks devem ter como adversários Wild e Stars. Ninguém sabe muito o que esperar do Wild, além do talento de Marian Gaborik e do estilo de jogo defensivo do time. A se julgar pela campanha da equipe nos playoffs de 2003, quando surpreendeu dois favoritos em sete jogos (Colorado e Vancouver), o Wild será um adversário difícil de ser batido. Os Stars foram considerados por esse colunista o adversário mais tranquilo da conferência, mas desconsiderando o fator "amarelão", é perfeitamente possível que vençam um confronto, mesmo não sendo favoritos.

A pior situação é a dos Predators, que estão em rota de colisão com o San Jose Sharks. Seria a repetição do confronto do ano passado, vencido pelos Sharks em cinco jogos. Nessas horas ter perdido a disputa pelo título da Divisão Central e a primeira posição geral pode custar caro para os Predators, porque o San Jose é tido por muitos como o grande favorito do Oeste para a Copa Stanley.
Humberto Fernandes voltou a malhar e correr após cinco anos praticando sedentarismo. Nesse período, viu surgir e consolidar-se a única revista online semanal sobre hóquei no gelo no país: TheSlot.com.br.
Mel Evans/AP
Você já viu essa cena. Lou Lamoriello, presidente e gerente geral, aventurando-se como treinador do New Jersey Devils, nos playoffs de 2006. Um ano depois, o filme irá se repetir.
(22/04/2006)
Bill Kostroun/AP
Martin Brodeur conquistou sua 47.ª vitória na temporada, igualando o recorde de Bernie Parent de maior número de vitórias em uma única temporada.
(03/04/2007)
Mike Carlson/AP
De vencedor do Troféu Conn Smythe a decepção na temporada, Cam Ward. De campeão a eliminado da disputa, Carolina Hurricanes.
(03/04/2007)
Jeff McIntosh/AP
O Calgary Flames luta para garantir a última vaga enquanto o Colorado Avalanche tenta o improvável. Quentes, os Flames serão a ameaça real nos playoffs.
(03/04/2007)
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Página publicada em 4 de abril de 2007.