A idéia desta matéria é olhar para os recrutas número 1
de 1991 a 2000 e ver como eles se saíram. Verificar se eles atenderam
às expectativas — tanto de um recruta n.º 1 geral quanto as que o cercavam
na época —, e sempre respondendo a uma pergunta final: Olhando hoje,
ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Pergunta polêmica, que geralmente tenta identificar se não havia naquele
ano um jogador que, ao longo da carreira, mostrou-se mais valioso. Claro,
falar hoje, depois de ocorrido, é fácil. Mas isso não é uma crítica à
escolha, trata-se apenas da constatação de como as coisas se saíram. Vamos
lá.
1991 - Eric Lindros (Quebec Nordiques)
Lindros foi uma das maiores promessas da história da NHL, o que gerou
também uma das maiores decepções. Criou problemas logo depois de recrutado
pelo então Quebec, forçando uma histórica negociação para o Philadelphia
Flyers, que cedeu Peter Forsberg — também recrutado naquele ano —,
uma (quase) meia dúzia de jogadores e ainda uma baita grana. Durante algum
tempo, Lindros jogou à altura do que se esperava, liderando os Flyers.
Até que bateu no teto, justamente no seu auge, e perdeu a final de 1997
para os Red Wings. Dali em diante, a carreira desceu a ladeira, até colidir
com um tranco fenomenal de Scott Stevens em plenos playoffs de 2000. De
lá para cá, vive tentando dar a volta por cima.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Lindros teve grandes momentos na NHL, mas que foram breves e que não geraram
os resultados esperados (a saber, no mínimo uma Copa Stanley). Peter Forsberg
e Scott Niedermayer têm carreiras melhores e mais úteis a seus times.
1992 - Roman Hamrlik (Tampa Bay Lightning)
Um sólido e muito bom defensor, que sabe subir bem ao ataque e que é ótimo
para ser usado em vantagem numérica. Não chega a ser dos grandes da liga,
mas está acima da média.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Não, ainda que aquele ano não tenha sido nada rico em grandes prospectos.
Sergei Gonchar é um defensor daquele recrutamento que teve, digamos, melhor
sorte na carreira. Outros, como Alexei Yashin, Mike Peca, Martin Straka
e Cory Stillman, estariam pelo menos num mesmo patamar. E não nos esqueçamos:
esse foi o ano em que Darren McCarty foi recrutado!
1993 - Alexandre Daigle (Ottawa Senators)
Desnecessário relembrar que Daigle é até hoje motivo de piada diante da
verdadeira catástrofe que foi sob a expectativa que se tem de um recruta
n.º 1. Seguramente a maior decepção desta lista.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Vamos listar somente dez escolhas muito melhores (isso porque há dezenas):
Chris Pronger, Paul Kariya, Jason Arnott, Saku Koivu, Todd Bertuzzi, Jamie
Langenbrunner, Brendan Morrison, Bryan McCabe, Vaclav Prospal e Eric Daze.
E ainda Rory Fitzpatrick!
1994 - Ed Jovanovski (Florida Panthers)
Dois anos depois de recrutado, Jovocop enfrentava um Eric Lindros no auge
da carreira em plenos playoffs e vencia o duelo, no corpo e no gelo. Seguiu
junto ao time para uma histórica final de Copa Stanley contra os Avs.
Foi progredindo após ser negociado para o Vancouver Canucks, mas ultimamente
problemas de contusão têm afetado sua carreira.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Sim. Ainda que Patrik Elias, Marty Turco, Daniel Alfredsson e Evgeni Nabokov
sejam do mesmo ano, Jovo é daqueles defensores que qualquer time adoraria
ter no elenco.
1995 - Bryan Berard (Ottawa Senators)
Não fosse o problema da contusão na vista, Berard talvez hoje fosse um
dos grandes defensores da liga. O começo foi ótimo, inclusive com direito
a Troféu Calder. Mas jogar no NY Islanders limitava o talento do jogador,
que acabou encontrando seu espaço no Toronto Maple Leafs, onde acabou
levando a tacada no olho que quase acabou com sua carreira. Heroicamente
ele se curou e retornou ao jogo e hoje é um dos bons defensores da NHL.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Não. Berard é um grande defensor, mas havia Jarome Iginla no recrutamento.
Havia também Wade Redden e Miikka Kiprusoff, mas vejo Iginla como um jogador
de carregar um time.
1996 - Chris Phillips (Ottawa Senators)
Defensor que não conseguiu mostrar na NHL o valor que tinha atuando nas
ligas juniores. Ainda que cumpra um bom papel nos Sens, esperava-se mais
de um primeiro recruta geral.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Não. Num recrutamento relativamente pobre de grandes prospectos, Zdeno
Chara tem sido muito mais defensor que Phillips.
1997 - Joe Thornton (Boston Bruins)
Eu lembro da onda em cima de Thornton na época do recrutamento. Alguns
chegavam a dizer que era o melhor recruta desde Mario Lemieux, num evidente
exagero. Era o tipo de prospecto de grande habilidade e de grande porte
físico. Foi colocado para jogar na NHL ainda muito cru, mas foi progredindo
ano após ano. Até que a gerência dos Bruins optou pelo auto-flagelo e
negociou o jogador para o San Jose, onde ele passou a jogar ainda melhor.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Sim, Thornton é jogador capaz de mudar a cara de um time, como fez com
o San Jose Sharks. Ainda que Roberto Luongo possa gerar controvérsia,
preferiria apostar ainda em Thornton.
1998 - Vincent Lecavalier (Tampa Bay Lightning)
Lembro que na época o gerente geral do Colorado Avalanche, Pierre Lacroix,
moveu o que pôde para ter Lecavalier. Negociou jogadores com times mais
fracos sempre buscando a escolha de primeira rodada em troca, e a franquia
acabou tendo quatro delas nas mãos, mas todas longe da primeirona. Consta
que Lacroix ofereceu todas elas ao Tampa Bay, que recusou. Não vejo Lecavalier
tendo realizado toda aquela expectativa de Lacroix, ainda que seja um
jogador de grande habilidade.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Sim, ele está num patamar superior a outros bons jogadores daquele ano,
como Brad Richards, Pavel Datsyuk, Scott Gomez e Jonathan Cheechoo.
1999 - Patrik Stefan (Atlanta Thrashers)
Stefan é o autor de
um
dos lances mais bizarros dos últimos tempos, ou mesmo da história
da NHL, mas, evidentemente, esse lance infeliz e medonho não fala pela
carreira dele. Que, aliás, não condiz com a expectativa depositada num
recruta número 1.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Não. Os irmãos Sedin (recrutados logo a seguir, e em seqüência, pelos
Canucks), Martin Havlat e Henrik Zetterberg, dentre outros recrutados
naquele ano, são melhores jogadores que Stefan.
2000 - Rick DiPietro (New York Islanders)
Mais famoso ainda recentemente por ter assinado o contratão de 15 anos
de duração com o New York Islanders, o mais longo da história da liga,
DiPietro é o goleiro de um time insistentemente fraco, mas que deposita
nele o principal pilar de sua construção. O goleiro ainda tem o que provar,
mas tem muito tempo para isso.
• Olhando hoje, ele foi a melhor escolha daquele recrutamento?
Entendo que DiPietro ainda precisa provar que vale o investimento, coisa
que jogadores como Dany Heatley e Marian Gaborik (os recrutados logo a
seguir) já fizeram.