Por: Thiago Leal

Um canadense falsificado no Paraguai: vencedor do Calder! Um estadunidense nascido na república rebelde de Taiwan: vencedor da Copa Stanley! Irlandeses deixando de lado o boxe, galeses abrindo mão do rúgbi e holandeses esquecendo a legalização para jogar hóquei! Além, claro, de um tanzaniano fracassando na NHL. É o final da saga dos homens que nasceram no fim do mundo e venceram — bom, alguns perderam — na América do Norte.

Willi Plett - Atacante - Assunção, Paraguai
Sim, a terra de Gamarra e Chilavert teve seu representante na NHL. Plett, cidadão canadense, até aos 12 anos de idade não tinha experimentado os prazeres do hóquei no gelo. Uma vez que conheceu o esporte, se apaixonou e passou a praticá-lo.

Apesar de sua empolgação, Plett carecia de um pouco mais de talento e agressividade. Dessa forma, o jogador, que havia iniciado sua carreira no antigo celeiro juvenil de estrelas St. Catharines Black Hawks, acabou enviado para o Niagara Falls Flyers, uma equipe pertencente a ligas de terceira divisão. Ao invés de desanimar, Plett tomou o acontecimento como um desafio para estimulá-lo a desenvolver seu jogo. Sua dedicação o levou de volta ao St. Catharines, onde fez uma temporada razoável. Suficiente, pelo menos, para ser escolhido pelo Atlanta Flames na quarta rodada do recrutamento de 1975.

Mal chegou à NHL e o paraguaio teve sua chance de estrear pelo Atlanta. Duas partidas depois, no entanto, foi rebaixado ao menor Tulsa Oilers, da CHL, para que pudesse melhorar seu estilo sob a tutela de Orland Kurtenbach, o histórico primeiro capitão da história do Vancouver Canucks.

Depois de passar 1975-76 em Tulsa e iniciar bem a temporada 1976-77, Plett foi chamado de volta ao Atlanta. Ao final dos playoffs, somando um total de 56 pontos na temporada regular e mais um nos playoffs, o paraguaio acabou por vencer o troféu Calder.

Plett jogou mais cinco temporadas pelos Flames, sendo três em Atlanta e duas depois da franquia se mudar para Calgary, disputando os playoffs em todas as ocasiões. Foi trocado com o Minnesota, onde jogou mais cinco temporadas pelos North Stars — indo à pós-temporada em quatro delas. Encerrou sua carreira na NHL defendendo o Boston Bruins, jogando os playoffs novamente. No total, 834 jogos e 437 pontos. E para quem disse que o garoto precisava de dureza, ficaram anotados 2.572 minutos de penalidades.

Rod Langway - Defensor - Taipei, Taiwan
Membro do Salão da Fama desde 2002 e maior jogador da história do Washington Capitals, Rod Langway, ex-defensor e capitão da equipe, nasceu em Taiwan, República rebelde da China comunista, quando seu pai servia ao exército americano instalado na ilha.

Langway, no entanto, só começou a se interessar por hóquei no colégio, aos 13 anos de idade. E o esporte mais rápido no gelo era o segundo na escala da futura estrela, que preferia praticar futebol americano. Foi como quarterback que ele conseguiu bolsa na Universidade de New Hampshire. A mudança das jardas para o rinque só ocorreu dentro da instituição, quando Langway decidiu defender a equipe de hóquei da UNH.

Seu talento na linha azul era tão notável que, em 1977, chamou a atenção tanto da NHL (Montreal Canadiens) quanto da WHA (Birmingham Bulls). Ambas as equipes o escolheram nos recrutamentos de suas respectivas ligas, e Langway passou uma temporada em Birmingham antes de ir a Montreal ganhar a Copa Stanley na temporada 1978-79.

Defendendo também a Seleção dos Estados Unidos, em 1982 Langway foi trocado para o Washington Capitals, onde se tornaria ídolo. Jogou 12 temporadas pela equipe, se tornou capitão do time, disputou três Jogos das Estrelas (1983, 1984 e 1985), venceu dois troféus James Norris (1983 e 1984) e, em 1998, ano em que os Capitals venceram pela primeira e única vez a Conferência Leste, recebeu a merecida homenagem de sua principal equipe, tendo o número cinco imortalizado na capital americana.

Um dado histórico: Langway disputou pela Seleção das Estrelas da NHL o Rendez-vous '87, série de duas partidas entre os profissionais da liga americana contra a poderosa União Soviética, em resposta à Challenge Cup disputada em 1979 e vencida pelos soviéticos. Mas isso é assunto para uma outra coluna. Resumo da ópera de Langway na NHL: 994 jogos e 329 pontos.

Chris Nielsen - Atacante - Moshi, Tanzânia
Estrela de ligas menores, o jovem atacante Chris Nielsen teve vida curta no gelo: durou apenas dez temporadas, encerrando sua carreira na DEL, a liga alemã.

Cidadão canadense, este jovem tanzaniano fez uma bela temporada juvenil pelo Manitoba Southwest Cougars. Seus 72 pontos em apenas 39 jogos, com média de 1,8 ponto por jogo, o levaram à WHL, uma liga juvenil decente, onde defendeu o Calgary Hitmen. Em 1998, ainda muito jovem, Nielsen foi escolhido pelo New York Islanders com a 36.ª escolha geral do recrutamento. O atacante seguiu em Calgary, para ganhar a Copa dos Presidentes em 1999. Em 2000, com seu currículo endossado com Campeonatos Juvenis pela Seleção Canadense, Nielsen foi trocado com o Columbus Blue Jackets, e teve, finalmente, a oportunidade de estrear na NHL — jogaria a temporada 2000-01 por sua nova equipe.

Promissor, Nielsen acabou sendo aquém do esperado em Columbus, o que o fez alternar entre a equipe principal e o menor Syracuse Crunch, da AHL. Após mais uma oportunidade na NHL em 2001-02, a falta de rendimento mandou Nielsen de volta para a AHL e ele não subiria mais à liga principal.

Na AHL, Nielsen defendeu ainda os Chicago Wolves, o Manitoba Moose e o San Antonio Rampage. O atacante teve também uma passagem pela CHL, com os Laredo Bucks, e encerrou a carreira no Kassel Huskies da DEL. Seus números na NHL, 14 pontos em 52 jogos, mostram porque o Columbus preferiu não dar-lhe uma terceira chance.

Ed Kea - Defensor - Weesp, Holanda
Filho de uma família grande — 14 crianças —, o jovem Ed Kea foi para o Canadá muito cedo, aos quatro anos de idade, alojando-se em Ontário.

Comum das crianças locais, Kea passou a se interessar pelo hóquei no gelo em Collingwood, cidade onde cresceu, jogando com os Legionnaires, time de liga menor da OHA. Seguiu em ligas juvenis até 1969, quando pulou para a profissional EHL, para defender o Jersey Devils. Depois de passar também por WHL e CHL, Kea assinou como agente-livre com o Atlanta Flames em 1972.

Apesar de ter jogado apenas três partidas pelos Flames na temporada de estréia, em 1973-74, jogando o restante da temporada pelos menores da CHL Omaha Knights e Tulsa Oilers, Kea teve nova oportunidade em 1974-75, jogando de forma mais sólida e consistente pelos Flames.

O “holandês patinador” passou quatro temporadas em Atlanta e foi trocado para o St. Louis Blues, onde passou mais quatro temporadas. Deixando a NHL após oito temporadas e 175 pontos, Kea daria continuidade em sua carreira voltando à sua querida CHL para defender o Salt Lake Golden Eagles, até ser vítima de uma fatalidade: durante uma partida, Kea sofreu uma queda violenta que lhe causou um grave traumatismo craniano, sendo necessárias diversas operações até estar fora de risco. O jogador, no entanto, ficou com sérias seqüelas mentais e teve de abandonar o esporte.

Em 1999, Kea veio a falecer, por afogamento, no rancho de sua família, com apenas 51 anos de idade.


Os irlandeses
Um dos países que mais contribui com a cultura norte-americana, a Irlanda também teve representantes na NHL. Todos, por sinal, bem fracos — e bem antigos, na época dos “Seis Originais”. Vejamos a lista:

James “Jim” McFadden - Central - Belfast, Irlanda do Norte
Vencedor do Calder em 1948, fez parte dos Detroit Red Wings de 1946 a 1951, vencendo a Copa Stanley em 1950. Defendeu também o Chicago Blackhawks e encerrou a carreira no Calgary Stampeders, da WHL, em 1957. Pela NHL, somou 226 pontos em 412 jogos. É o mais expressivo dos irlandeses que deixaram seu bravo sangue na NHL.

Jack Riley - Central - Berckenla, Irlanda
Com quase 20 anos de hóquei nas costas, Riley passou por várias ligas menores. Na NHL, no entanto, disputou 104 partidas e marcou 32 pontos, com passagem por Detroit Red Wings, Montreal Canadiens e Boston Bruins.

Samuel “Sammy” McMannus - Asa-esquerdo - Belfast, Irlanda do Norte
Mais um com vida longa no esporte, passando quase 20 anos no rinque. Teve apenas duas oportunidades na NHL durante a década de 30, defendendo o extinto Montreal Maroons e o Boston Bruins — apenas uma partida. Totalizou 26 jogos e um mísero ponto.

Sidney “Sid” Finney - Central - Banbridge, Irlanda do Norte
Jogou hóquei por 21 anos, e em três oportunidades nos anos 50 defendeu o Chicago Blackhawks. Fez mais sucesso na WHL com o Calgary Stampeders, onde atuou ao lado do compatriota McFadden. Somou 59 partidas na NHL com 17 pontos assinalados.

Bobby Kirk - Asa-direito - Dough Grange, Irlanda
Teve apenas parte de uma temporada na NHL, em 1937-38, junto aos New York Rangers. Foram 39 partidas e 12 pontos em sua única passagem pela Grande Liga. Sua carreira se consolidou em ligas menores, por equipes como Philadelphia Ramblers e Hershey Bears.


Os galeses

A “Era de Ouro” do hóquei no gelo era mesmo estranha — afinal, não é sempre que galeses têm vez em alguma coisa que não seja rúgbi. Mesmo assim, o país menos influente no Reino Unido, conhecido apenas porque Ryan Giggs do Manchester United decidiu jogar futebol, teve três representantes na NHL.

Wilf Cude - Goleiro - Barry, País de Gales
Disputou dez temporadas na Liga durante as décadas de 30 e 40, a maior parte delas pelos Montreal Canadiens. Também teve passagem por Philadelphia Quakers, Boston Bruins, Chicago Blackhawks e Detroit Red Wings. Jogou 282 partidas e obteve 100 vitórias, 24 delas sem sofrer gol, e uma média de gols sofridos por partida de 2,72. Nos anos 30, sem dúvida, era uma boa média.

Cy Thomas - Atacante - Dowlais, País de Gales
Teve apenas duas oportunidades na NHL durante a temporada 1947-48, uma pelo Chicago Blackhawks, outra pelo Toronto Maple Leafs. Em 14 jogos, marcou quatro pontos. Sua carreira se resumiu a ligas menores e durou menos de dez anos.

Jack Evans - Defensor - Garnant, País de Gales
O maior dos galeses a passar pela NHL. Totalizou 752 jogos e 99 pontos entre as décadas de 40 e 60, além de ter atuado como treinador nos anos 70 e 80. Seu fato mais marcante, claro, foi vencer a Copa Stanley em 1961, ao lado de Bobby Hull no Chicago Blackhawks. Como treinador, sua passagem mais marcante foi no Hartford Whalers, onde passou cinco temporadas.

Thiago Leal assistiu Slap Shot 2 na terça-feira à noite e não recomenda o filme aos fãs do esporte.
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"Presidente" Rod Langway, pseudo-chinês criado nos EUA: maior jogador da história do Washington Capitals.
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O tanzaniano Chris Nielsen brilha com o Syracuse Crunch; NHL que é bom, nada!
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Mesmo sem lutar boxe, os irlandeses sabem derrubar. Jim McFadden, estrela do Detroit Red Wings, foi o que mais se destacou na NHL.
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Jack Evans teve seu nome cravado na Copa Stanley e ganhou o posto de maior galês da NHL em todos os tempos.
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Página publicada em 14 de fevereiro de 2007.