Por: Eduardo Costa

Quem acompanhou, de perto ou de longe, jamais esquecerá. Foi um pandemônio, uma balbúrdia. E tudo em nome do hóquei. Mulheres perdendo a linha, cataratas de cerveja e até mesmo vandalismo se tornaram a lógica conseqüência de um período glorioso de nossa existência.

Mas, por mais que pareça, não estou falando sobre a confraternização da redação da TheSlot.com.br, motivada pelo sucesso colossal da edição 142 — a que celebrou a sapiência de Darius Kasparaitis —, em um concorrido prostíbulo paulistano, no último domingo. Refiro-me ao que acontecia dentro — e, principalmente nas adjacências — do Rexall Place, em Edmonton, durante os dois meses finais da última temporada, período esse que viu a cidade voltar, momentaneamente, a um patamar de respeitabilidade que não vivia desde o fim dos anos 90. O Rexall Place tremia até mesmo durante a execução do hino canadense, e ruas eram tomadas pela insanidade coletiva até altas horas. Como logo após eles eliminarem os Red Wings, na sexta partida das quartas-de-final do Oeste.

Porém, como nosso nobre leitor se recorda muito bem, tudo isso terminou com um sabor agridoce. Amargo por ter chegado tão perto e não ter concretizado a façanha; por ter ficado a 60 minutos da tão sonhada sexta Copa Stanley. Doce pela inesperada campanha, pelo arranque final, pela integração entre time e torcida.

Após o fúnebre final da longa corrida, veio mais uma decepção. Durante a entressafra da NHL, Chris Pronger mudou de endereço. Isso foi brutal para a metade azul da província de Alberta. A atitude de Pronger abriu uma ferida que talvez jamais cicatrize no torcedor petroleiro. Já faz um bom tempo que isso aconteceu, mas gostaria de voltar um pouco a esse obscuro assunto. Até porque Pronger passou a ser um péssimo exemplo para nosso leitores, em especial os mais jovens, ainda em processo de formação de caráter.

Após uma pós-temporada brilhante — 21 pontos e uma média impressionante de 30:57 de tempo de gelo —, Pronger fez à direção dos Oilers um imperial pedido de troca. E tudo por quê? Porque sua esposa não gostou de Edmonton! A Sra. Pronger exigiu, e o grande defensor, submisso como um poodle de madame, buscou uma nova equipe. Ora, é evidente que apreciamos as mulheres da mesma forma que estimamos hóquei e cerveja, mas, em se tratando do esporte que amamos, a única coisa de que elas podem participar é o ato de manter nossos canecões de cerveja sempre cheios, para que nenhuma ação do nosso passatempo favorito seja perdida com idas e vindas à cozinha. Mas Pronger ignorou que é descendente do rústico Homo sapiens, tendo, portanto, respaldo genético para não acatar imposições vindas do sexo oposto. E, com isso, até hoje os Oilers agonizam.

Essa perda significativa, combinada com a saída do cumpridor Jaroslav Spacek, vem resultando num quadro que já era previsto antes do início desta temporada: uma defesa sem força ofensiva, que colabora muito pouco com a equipe de vantagem numérica e que ainda não está madura o suficiente. É inegável, porém, que o time de Alberta conseguiu um belo pacote em troca de Pronger, mas não suficiente para garantir um hoje seguro. Um dos valores que veio dos Ducks foi o defensor Ladislav Smid. Escolha de primeira rodada (nona geral) em 2004, Smid tem tamanho e ótimo controle de disco, mas ainda está a algumas temporadas de chegar a ser um defensor número 1. Smid necessitaria ter à sua volta um zagueiro que lhe ensinasse os atalhos para encurtar as distâncias entre ser um ótimo prospecto e uma realidade. O capitão Jason Smith, que seria a escolha óbvia para um par interessante, não vem contribuindo nem mesmo para salvar sua própria pele, sendo massacrado constantemente pela imprensa local.

Marc-André Bergeron é outro zagueiro relativamente novo, que, quando ganhava minutos ao lado de Pronger, cumpria com seu papel, mas agora, fazendo dupla com o pífio Matt Greene, erra constantemente e em momentos cruciais, como recentemente, contra o Vancouver Canucks, quando bobeou na frente de Markus Naslund, deixando-o na boa para fazer o gol da vitória do time da Colúmbia Britânica. Para quem tem boa memória, Bergeron também foi aquele indivíduo que se atrapalhou sozinho com o disco, contra o Dallas Stars, deixando Patrik Stefan com gelo livre e gol vazio. Só que, como era Stefan, o bizarro aconteceu.

Com a necessidade elementar de adquirir de um zagueiro com um curriculum vitae decente, não é de se estranhar que o gerente geral Kevin Lowe esteja acampado na porta do GG do Boston Bruins, Peter Chiarelli. Como o amigo leitor deve ter conferido na última edição, a coluna do judicioso (sempre) e sóbrio (quando?) Humberto Fernandes, fala sobre a renovação do contrato de Brad Stuart com os Bruins, que tem tudo para virar uma novela mexicana. E, se eles não chegarem a um acordo, os Oilers têm atacantes disponíveis e certa folga no teto salarial para bancar uma troca com o time de Boston.

E é bom, caso esse plano não se concretize, que exista um plano B. A TheSlot. com.br, utilizando seu caráter humanitário, indica o Toronto Maple Leafs, que pode se desfazer de um de seus três caros defensores — Bryan McCabe, Tomas Kaberle e Pavel Kubina. Mas, para provar que filantropia é mesmo uma das qualidades Thesloteanas mais latentes, alertamos Lowe que evite Kubina, que, na verdade, não é nem metade do que os analistas apregoavam e tem um contrato de cifras obesas.

Essa necessidade urgente de um defensor derruba a teoria, defendida por muitos antes de a atual temporada começar, de que, com o ataque que possuem, os Oilers chegariam ao dia-limite de trocas em uma situação confortável na tabela. Shawn Horcoff, Ryan Smyth, Ales Hemsky, Jarret Stoll, Joffrey Lupul, Petr Sykora, Raffi Torres, Ethan Moreau e Fernando Pisani compensariam a defesa inexperiente. Sem dúvida, trata-se de um fronte com poder de destruição comparado até mesmo com o dos integrantes da TheSlot. com.br encostados em um balcão de bar qualquer. Mas esse grupo respeitável de atacantes vem enfrentando um monstro terrível, peçonhento e intrépido, um monstro que se apoderou da maioria deles: a inconsistência. Um belo exemplo é Sykora, que começou a temporada ocupando a primeira página dos diários locais, cortesia de uma superprodução. Hoje, Sykora está mais perto das páginas do obituário do que das manchetes esportivas.

E, o que é pior, a maior parte dos atacantes citados acima está rendendo ainda menos justamente contra os rivais de divisão. Com a NHL absurdamente (novidade?) destruindo o bom senso e adotando a política dos 300 jogos entre times da mesma divisão, os pontos disputados entre esses times valem muito ao final da temporada regular. E, dos últimos dez confrontos com os rivais diretos, os Oilers haviam vencido apenas um. Isso até enfrentarem o Colorado Avalanche em Denver, no último sábado.

O treinador Craig MacTavish fez os jogadores encararem essa partida como um legítimo jogo de playoffs. Uma derrota significaria um abismo entre eles e o dono do oitavo posto até agora (Minnesota Wild). O mesmo cenário também valia — e ainda vale — para o time de Denver, que também tentava — ainda tenta — encurtar a distância que o separa do time de Jacques Lemaire.

O recado de MacTavish foi entendido e, assim como na pós-temporada de 2006, contou com a colaboração de Dwayne Roloson, que foi fundamental, tendo uma atuação alentadora na vitória por 3-2, em especial no terceiro período. O Avalanche até chegou mais, deu 39 chutes, levando 28. Os 32 trancos da partida também colaboraram para a atmosfera de jogo decisivo.

Para iludir um pouco mais, três peças ofensivas que têm que chamar a responsabilidade nos momentos ímpares assim o fizeram: Ryan Smyth, Shawn Horcoff e Ales Hemsky foram os autores dos três gols que vazaram Peter Budaj. Três gols que ilustraram uma vitória que poderia ter servido como um divisor de águas para o Edmonton.

Poderia, porque na terça-feira eles voltaram a perder para os Canucks.

Atuando em casa e contra outro rival direto pela oitava vaga, o Edmonton abusou da indisciplina e teve em Torres o vilão da noite. Durante dois momentos em que estavam em desvantagem numérica de um homem, os Oilers cometeram outra penalidade. Em ambas, cortesia de Torres. Situações de cinco contra três que foram aproveitadas pela equipe de Vancouver. O prejuízo petroleiro só não foi maior porque o Minnesota Wild também terminou a noite sem somar pontos.

Nessas duas últimas partidas analisadas, ficou evidente a má fase de Lupul. O jovem atleta, que, assim como Smid, também veio na troca que mandou Pronger para os Ducks, chegou com status de goleador, ganho durante a última pós-temporada, em especial quando empalou o Colorado Avalanche com seus quatro gols no terceiro jogo da série. Lupul, nativo de Edmonton, pouco fez para justificar essa fama, e atritos com as vacas sagradas do elenco só fizeram com que sua confiança desaparecesse de vez. Como todos sabemos, um jogador de hóquei sem confiança é como redator da TheSlot. com.br sóbrio: simplesmente não produz.

Outra novela em potencial tem como protagonista a alma da franquia, Ryan Smyth.

O líder do time em pontos (45) e gols (27) está de olho no último grande contrato de sua carreira e, como não é mais um garoto, não deve colocar valores emocionais no prato correspondente aos Oilers na balança. Ou seja, vai pedir alto para continuar em Edmonton. As negociações já começaram, e Smyth já tem sobre a mesa a primeira oferta. Tudo de que os Oilers não precisam é essa novela se tornando longa e cansativa, contribuindo também para mais resultados negativos dentro dos rinques.

E pensar que ainda temos na retina a imagem daquele Rexall Place que pulsava forte nos últimos meses da última temporada. Esta atual versão dos Oilers praticamente está sem pulso, à espera de um final trágico, tal como Capitals em 1999, Hurricanes em 2003 e Ducks em 2004. Equipes que, um ano após ter perdido as finais da Copa Stanley, sequer terminaram entre as oito melhores de suas conferências.

Eduardo Costa admirou a perseverança de Marcelo Constantino e Humberto Fernandes, que venceram adversidades desumanas e se fizeram presentes na última edição.
Jason Scott/CP/AP
Taylor Pyatt vence Dwayne Roloson e sai pro abraço. Derrotas para rivais de divisão têm sido uma constante dramática para os Oilers nesta temporada. Notem também a presença inútil do freezer Petr Nedved, à direita, no lance.
Richard Lam/CP/AP
Dias antes, o mesmo adversário e as mesmas frustrações. Aqui, Joffrey Lupul (15) é atingido por Willie Mitchell. O ex-Ducks é uma das maiores decepções desta temporada.
Arquivo pessoal (inveja?)
Numa sociedade justa e normal, as mulheres têm importância fundamental, como esta beldade, que serve o néctar sagrado aos integrantes da TheSlot.com.br enquanto assistíamos a Los Angeles Kings x Calgary Flames. Mas, no mundo de Pronger, quem manda é a patroa. Azar dos Oilers.
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Página publicada em 7 de fevereiro de 2007.