GARRA Os homens no gelo, como Chris Pronger e Erik Cole, pareciam estar dispostos a fazer qualquer coisa para gravar seus nomes na Copa Stanley (Lou Capozzola/Sports Illustrated - 19/06/2006)
por Michael Farber
A Copa Stanley foi passada do capitão do Carolina Hurricanes, Rod Brind'Amour, para Glen Wesley, para Bret Hedican e então para o ansioso Ray Whitney, que urrou, em rede nacional, "Certo", embora a palavra tenha sido precedida por um anglicismo claramente audível e ru-de (apesar de comum), um adjetivo lamentável que, por um pequeno ins-tante, transformou a NBC na HBO. Foi a primeira vez que um time campeão teve tanto a ver com Deadwood.
Mas vamos perdoar Whitney, que ganhou seu título. A NHL realmente fez tudo — para parafrasear Whitney — [bip] certo em 2005-06, desde os critérios de arbitragem e à remoção da linha vermelha ao acordo com os jogadores que permitirá à liga fazer o esporte crescer, ao menos um pouco, em seus 30 mercados.
A NHL continuará razoavelmente exótica até o Dia de São Nunca, mas um decisivo jogo 7 das finais, transmitido no horário nobre da NBC, fez com que a liga tivesse a possibilidade de atrair olhares antes distraídos de fãs de esportes que não precisaram se comprometer com uma longa série, mas ainda podiam se reclinar na poltrona e assistir a dois times parelhos lutando pelo troféu mais legal do mundo.
Ora, fazer mal é que não vai.
Não que não houvesse um ou outro problema. No sétimo aniversário do gol com o patim na área de Brett Hull, que tornou a orgulhosa cidade de Buffalo ainda mais amarga, o Carolina teve um gol anulado no fim do primeiro período, depois de uma revisão por vídeo controversa, que durou mais que algumas novelas de baixa audiência. Aparentemente, o defensor Steve Staios, dos Oilers, cobriu o disco com seu corpo depois que ele inha entrado; um replay da NBC durante o intervalo mostrou o disco claramente além da linha. Mas os cartolas da liga sustentaram a versão oficial, promul-gada pelo diretor de arbitragem Stephen Walkom, de que a jogada parou quando Staios deliberadamente rebateu o disco para dentro da área por causa de uma penalidade atrasada que tinha sido apitada no meio do gelo, para Ethan Moreau, dos Oilers.
Agora, talvez a situação fosse menos pantanosa se o juiz Brad Watson não tivesse assinalado pênalti na jogada, um nó górdio — ou seria um nó Gordie Howe? — que a gangue do replay da liga desatou, satisfazendo ninguém além do Edmonton Oilers. Se telespectadores mudam de canal quando os árbitros da NFL ficam por 90 segundos debaixo de um "capuz" olhando um replay como se fosse um peep-show, o demorado atraso poderia ter sido um chute um palmo abaixo do umbigo para uma liga que não precisava de todo esse tempo morto no ar. Se o telespectador quiser assistir a alguém falando interminavelmente no telefone, eles provavel-mente vão preferir sua filha adolescente.
Felizmente, a controvérsia foi eliminada depois que os Oilers conseguiram marcar apenas um gol durante uma furiosa ressurreição no terceiro perío-do, o único momento em que eles jogaram o jogo 7 como se fosse mesmo um sétimo jogo. O gol anulado dos Hurricanes tornar-se-á apenas uma curiosa nota de rodapé na vitória por 3-1, nada que possa estragar uma Copa memorável ou uma temporada geralmente superba.
O mais importante é que estes playoffs da Copa Stanley realmente acon-teceram. Um ano atrás, a liga estava no escuro, atolada em um embaraço-so locaute porque diretoria e jogadores não conseguiam se entender sobre como dividir um negócio de US$ 2,1 bilhões. O locaute poderia ter sido permanentemente debilitante, maso hóquei está mais para as reprises de A Feiticeira — carinhosamente eternos. Ele pode ser fechado e mutilado como seus donos fizeram no ano passado, e, ainda assim, lá estava ele, agarrando-se aos holofotes numa noite de segunda-feira em meados de junho, depois de uma série equilibarad de sete jogos que fez de um goleiro novato de 22 anos, Cam Ward, uma estrela nos moldes de Patrick Roy.
"Conseguimos levantar a Copa graças a aquele garoto", reconhece Brind'Amour.
Agora tudo começa de novo, o negócio do hóquei volta à tona com o recrutamento no sábado e o fim de vários contratos uma semana depois. Na NHL com teto salarial, será mais difícil do que nunca manter os elencos. Haverá rápidas ascenções — nem Hurricanes nem Oilers classificaram-se para os playoffs em 2004 — e quedas ainda mais rápidas. Não seria ne-nhum absurdo apostar que um dos estimáveis finalistas de 2006 não chegará sequer aos playoffs em 2007.
Mas, em uma noite mágica em Raleigh — em que brilhou o primeiro goleiro novato desde Roy a ganhar o Troféu Conn Smythe e que foi alongada por um replay e embelezada por um belo jogo —, isso era a última coisa em que qualquer um poderia pensar. Os Hurricanes comemoraram, alguns formidáveis Oilers choraram e uma Copa cheia de amor foi passada de mão em mão por homens que pareciam estar dispostos a fazer qualquer coisa para ver seus nomes gravados nela.
A NHL estava de volta, de verdade. E dando [bip] certo.
Michael Farber é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.