Por
Eduardo Costa
Em 1973, a Federação Soviética de Hóquei,
em conjunto com a União de Hóquei da Tchecoslováquia,
propôs a criação de um campeonato mundial para jogadores
com menos de 20 anos. A Federação Internacional de Hóquei
no Gelo (IIHF) gostou da idéia e, em caráter não-oficial,
organizou, no ano seguinte, o primeiro Campeonato Mundial de Hóquei
Júnior. Veremos a seguir um breve resumo de cada competição
realizada até hoje, incluindo os três primeiros torneios
não-oficiais.
1974 -- A histórica cidade russa de Leningrado (hoje
São Petersburgo) teve a honra de sediar a primeira competição.
Foi o primeiro contato entre seleções européias
e um time amador canadense desde 1969. O Canadá foi representado
pelo Peterborough Petes, da Liga de Hóquei de Ontário.
A seleção dona da casa não deu margens para dúvidas
e venceu o torneio de forma arrasadora. Os soviéticos tinham
em seu elenco sete jogadores que futuramente viriam a vencer medalha
de ouro em Jogos Olímpicos ou mundiais adultos.
A Finlândia ficou com a prata, e os canadenses, com o bronze.
Viktor Khatulev liderou o torneio, com nove pontos (três gols
e seis assistências), mas foi o sueco Mats Ulander que foi eleito
o melhor atacante do torneio. O melhor defensor foi o soviético
Vladimir Kucherenko, enquanto o canadense Frank Salive foi o melhor
entre as traves.
1975 -- Pela primeira vez na história, o Canadá
sediou um mundial de hóquei. A expectativa da torcida em Winnipeg
e Brandon era que a seleção vencesse a competição
com facilidade, pois contavam com as principais estrelas de suas fortes
ligas de juniores. Entre eles, Bryan Trottier, que marcou cinco gols
e contribuiu para outros dois, e Dale McMullin, o líder em pontos
do Canadá na competição, com oito. Mas a União
Soviética mais uma vez contava com Viktor Khatulev, desta vez
eleito o melhor da competição. O título veio apenas
na última rodada, quando os soviéticos venceram os anfitriões
por 4-3. Com o resultado, a União Soviética ficou com
o ouro, o Canadá, com a prata, e a Suécia completou o
pódio. Os Estados Unidos foram os últimos colocados, sem
nenhum ponto conquistado em dez possíveis.
1976 -- O último mundial não-oficial foi realizado
na Finlândia. Os Estados Unidos resolveram não participar,
deixando a competição com apenas cinco seleções.
Mas, como as participações anteriores dos americanos não
foram boas, a ausência não foi sentida. A União
Soviética conquistou o tricampeonato, vencendo todas as partidas,
novamente com o Canadá em segundo. A Tchecoslováquia conquistou
sua primeira medalha ao ficar com o bronze. O torneio teve um ótimo
nível técnico, além do interesse da imprensa esportiva
européia, deixando claro que estava na hora de o torneio se tornar
oficial. A IIHF finalmente resolveu assumir a competição
em 1977.
1977 -- Sete partidas, sete vitórias. A União
Soviética manteve seu domínio, agora no já oficial
Campeonato Mundial Júnior, e conquistou o tetracampeonato na
cidade tcheca de Banske. Os 51 gols marcados pelos soviéticos
foram uma marca histórica, só batida em 1986, com os 54
gols dos canadenses em Ontário. Apesar da potência de seu
ataque, que incluía Sergei Makarov, um jovem roubou a cena atuando
na defesa: Viacheslav Fetisov iniciava de maneira brilhante sua carreira,
sendo eleito o melhor defensor da competição. A medalha
de prata, mais uma vez, ficou com o Canadá, que, pelo menos,
teve o artilheiro da competição, Dale McCourt, com 18
pontos. A seleção anfitriã ficou com o bronze.
Alemanha Ocidental e Polônia estrearam em mundial júnior
nesta edição.
1978 -- Melhor palco impossível para o primeiro e único
mundial júnior disputado por Wayne Gretzky. A cidade de Montreal
viu o garoto de 16 anos liderar a competição, com 17 pontos.
Apesar de não ter sido a final, a partida entre canadenses e
soviéticos foi a principal atração do evento. No
gelo duelo entre Gretzky e Fetisov, o defensor levou vantagem, com a
vitória dos europeus por 3-2. Mais tarde, os soviéticos
venceriam os suecos na disputa da medalha de ouro para somar sua quinta
conquista consecutiva. O Canadá ficou com o bronze. Gretzky e
Fetisov foram eleitos para a seleção ideal da competição.
Do lado sueco, o destaque foi o asa esquerdo Mats Naslund, que, mais
tarde, marcaria época vestindo a camisa do Montreal Canadiens
na NHL. A lanterna ficou com a Suíça, que fazia sua estréia
em mundiais de juniores e que levou assustadores 70 gols em apenas seis
partidas.
1979 -- Talvez tenha sido o mundial com o maior número
de craques já visto. No lado soviético estavam os defensores
Alexei Kasatonov e Slava Fetisov (em seu terceiro e último mundial
júnior); no ataque, dois membros do que seria a famosa Linha
KLM: Vladimir Krutov e Igor Larionov. Na seleção canadense,
Brian Propp e Brad McCrimmon. Os americanos tinham entre seus jovens
três jogadores que participariam um ano depois do famoso "Milagre
no Gelo": o central Neal Broten, o defensor Mike Ramsey e o asa
direita Dave Christian. A Finlândia contava com Jari Kurri e Reijo
Ruotsalainen. A seleção anfitriã, a Suécia,
tinha a futura estrela do Winnipeg Jets, Thomas Steen, o talentoso Hakan
Loob que depois viria a conquistar a Stanley Cup com os Flames,
em 1989 , o também futuro vencedor da Stanley Cup Mats
Naslund e o goleiro Pelle Lindberg, que brilharia na NHL defendendo
os Flyers. A Tchecoslováquia apresentava Anton Stastny
que mais tarde jogaria pelos Nordiques , Darius Rusnak, Jiri Lala,
Dusan Pasek, Ivan Cerny e Igor Liba. Enfim, todos os nomes acima fizeram
parte da elite do hóquei mundial posteriormente.
No gelo, a União Soviética conquistou o hexacampeonato,
vencendo cinco partidas e empatando uma. Vladimir Krutov foi o artilheiro
da competição, com oito gols e seis assistências,
sendo eleito o melhor atacante do mundial. Seu companheiro de seleção
Kasatonov foi eleito o melhor defensor, com o sueco Lindberg sendo o
melhor goleiro. A Tchecoslováquia ficou com a prata, e a Suécia,
com o bronze. Apesar de ter tido o segundo melhor ataque da competição,
os canadenses terminaram na modesta quinta colocação.
Das oito seleções participantes, apenas a Noruega (cinco
derrotas em cinco partidas) fez sua estréia na competição.
1980 -- Muitos dos destaques do ano anterior também disputaram
o mundial de 1980, em Helsinque, na Finlândia. O Canadá
repetiu a péssima quinta colocação de 1979, enquanto
a União Soviética chegava ao sétimo titulo em sete
edições de mundiais disputados. Vladimir Krutov, mais
uma vez, liderou o torneio em pontos, com 11 (sete gols e quatro assistências).
Jari Kurri teve o mesmo número de pontos, mas com menos gols.
Por falar em Kurri, a seleção finlandesa venceu todas
as suas partidas, exceto contra os campeões soviéticos.
Reijo Ruotsalainen foi eleito o melhor defensor, e Jari Paavola, o melhor
goleiro. Igor Larionov disputou seu segundo e último mundial
júnior, tendo sido eleito para a seleção ideal
da competição. Hakan Loob e Thomas Jonsson levaram a seleção
sueca à medalha de bronze. A Finlândia, melhor ataque da
competição com 29 gols, ficou com a prata. A Suíça,
mais uma vez, era a lanterna, tendo perdido todos os cinco jogos que
disputou e levando a segunda maior goleada da história dos mundiais
sub-20, ao perder por 19-1 para os finlandeses.
1981 -- Nas sete edições anteriores, a União
Soviética só havia perdido uma partida. O mundial júnior
de 1981, realizado na Bavária (Alemanha Ocidental) seria marcado
pelo fim da longa seqüência de títulos dos soviéticos,
que perderam dois dos cinco jogos que disputaram na Alemanha. A Suécia
foi a grande equipe da competição, tendo como destaques
o goleiro Lars Eriksson, o defensor Hakin Nordin e o atacante Patrick
Sundstrom. Todos foram eleitos os melhores da competição
em suas respectivas posições. Outra coisa anormal desse
mundial foi a estrondosa média de 10,3 gols por jogo. Boa parte
dessa média elevada deveu-se à seleção da
Áustria, que fazia sua estréia em mundiais e, em apenas
cinco partidas, levou 67 gols, incluindo a humilhante para dizer
o mínimo derrota para a Tchecoslováquia por 21-4,
um recorde em mundiais de juniores. Com tantos placares altos, não
é de se assustar que seis jogadores tenham empatado na artilharia
da competição, com nove pontos cada. A seleção
anfitriã terminou na quinta posição, com destaque
para o atacante de força Dieter Hegen e seus oito gols. Além
do ouro da Suécia, a Finlândia ficou com a prata, e os
soviéticos, com um amargo bronze.
1982 -- Comandada pela dupla de treinadores Mike Keenan e Dave
King, a seleção canadense finalmente venceria o mundial
júnior em 1982. Com seis vitórias e um empate em sete
partidas e com a melhor defesa da competição, o Canadá
teve o privilégio de mandar algumas de suas partidas em casa
(Winnipeg), apesar de a sede do mundial ter sido o estado norte-americano
de Minnesota. A União Soviética, pela primeira vez, ficou
de fora do pódio, terminando na quarta colocação
e tendo sido humilhada com uma derrota de 7-0 para o Canadá.
A seleção do mundial teve três canadenses: o goleiro
Mike Moffat, o defensor Gord Kluzak e o atacante Mike Moller, que liderou
sua equipe com 14 pontos. O artilheiro da competição foi
o finlandês Raimo Summanen, com sete gols e nove assistências.
Summanen fazia parte da mais eficiente linha da competição,
junto com Petri Skriko e Risto Jalo. O trio combinou 47 pontos (22 gols
e 25 assistências). A Tchecoslováquia ficou com a prata
e teve em Vladimir Ruzicka seu principal nome. A Finlândia foi
bronze. A Suíça, sempre ela, mais uma vez fez feio, terminando
na lanterna, com sete derrotas e assustadores 81 gols sofridos em sete
partidas. A seleção americana decepcionou sua torcida
e terminou a competição em sexto lugar.
Na próxima edição, os campeonatos mundiais de juniores
realizados entre 1983 e 1990. Mario Lemieux, Steve Yzerman, Esa Tikkanen,
Brian Leetch, Jeremy Roenick, Mike Modano e os russos Sergei Fedorov,
Pavel Bure e Alexander Mogilny são alguns dos destaques. Colaboraram
para essa matéria: Humberto Fernandes e Heiko Lundvall.
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Eduardo Costa recebeu de sua empresa um vale de natal no valor
de 30 reais. Comprou tudo em cerveja. |
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FUTURA LENDA Slava Fetisov
com uma das suas três medalhas de ouro (Allsport) |
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A HISTÓRIA DOS MUNDIAIS DE JUNIORES |
Parte I (edição 28) |
Parte II (edição
29) |
Parte III (edição
30) |
Parte IV (edição
31) |
Parte V (edição
32) |
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