Por
Alexandre Giesbrecht
Eles são viscosos. Ele têm um cheiro natural ruim e fedem
ainda mais depois de três períodos de hóquei. Em
todos os playoffs da NHL, não existem criaturas mais feias. E
estamos falando sobre o Detroit Red Wings, não sobre os polvos
mortos que a torcida louca desse time tradicionalmente joga no gelo
durante os playoffs.
"Um polvo fede? Fede. Mas não tanto quanto os jogadores
do Detroit Red Wings", declarou o zagueiro Darius Kasparaitis,
do Colorado Avalanche depois do jogo 1.
Como se eles já não tivessem motivação suficiente
para o jogo 2 das finais da Conferência Oeste, os Avs desenvolveram
um intenso dissabor para com aquelas lulas de Detroit ao longo dos anos.
Nenhum time que tenha amor-próprio gosta de estar no meio da
chuva roxa de polvos caindo do céu. O Avalanche está cansado
de ficar no meio daquela nojeira.
"Eca", disse o Wing Tomas Holmstrom. Aqueles cefalópodos
devem ser realmente assustadores. Afinal, quando foi a última
vez que você ouviu um jogador de hóquei falando "eca"?
A espatifada das adoráveis coisas mortas ("dead things")
dos Red Wings deixa uma mancha horrível no gelo. Que nojo! Quando
os Red Wings marcaram três vezes no terceiro período da
sua vitória por 5-3 em casa sobre o Colorado, no primeiro jogo
da série, apenas estar naquele estádio já fedia
como um caminhão de gambás (não os corintianos,
os animaizinhos) para o Avalanche.
A tradição de poluir os jogos de playoffs em Detroit com
polvos vem de muito longe, quando ganhar a Stanley Cup exigia muito
menos tempo do que o período de gestação de um
elefante. Eram necessárias apenas oito vitórias nos playoffs
para um time ser o campeão. Oito tentáculos. Pegou?
Esse sacrifício cerimonial de polvos para os deuses do hóquei
é mais obsceno do que o durão dos Wings, Chris Chelios.
É tão acoplado às tradições de Detroit
quanto outra má idéia, os carros Edsel. Não é
tão velho quanto o técnico Scotty Bowman, mas, é
claro, poucas coisas o são. E é, sem dúvida, a
tradição mais desagradável da NHL. Literalmente.
"Isso fede", reclamou o capitão-assistente do Colorado
Mike Keane.
Não muito longe da porta dos fundos da Joe Louis Arena, mais
ou menos à distância em que o zagueiro Adam Foote, dos
Avs, poderia jogar o malaco Darren McCarty, do Detroit, corre o frio
e lamacento Rio Detroit. Nenhum polvo se atreve a viver ali. As criaturas
com tentáculos são mais espertas do que parecem.
Mas em todas as primaveras a população local ganha um
apetite monstruso por sushi. Não para comer, mas para arremessar
no gelo quando os Red Wings marcam um gol importante. Então os
mercados de peixe locais importam polvos lá das Filipinas para
a Cidade do Motor. Custa cerca de US$ 2,99 o quilograma. Um polvo de
bom tamanho vai custar uns US$ 25. Não, não tem gosto
de frango.
"Quando você é acertado por um polvo você o
pega e leva para casa uma salada de frutos do mar", disse Kasparaitis.
"Mas é melhor como isca para pescar tubarões".
Você arremessa um polvo da mesma maneira que Buffalo Bill girava
seu laço. A técnica certa está concentrada no pulso.
Agarre-o. Rasgue-o. E olhe para baixo.
"Nossa torcida é generosa. Eles não jogam se jogadores
dos Red Wings ainda estão no gelo", conta Kris Draper, central
do Detroit. "Mas tenho certeza de que todos os espectadores nos
assentos inferiores ganham um banho de suco de polvo. Isso não
deve ser uma visão bonita".
Arremesso de polvos tornou-se uma arte em Detroit. Quem disse que esta
cidade americana não tinha cultura?
Na verdade, o Detroit Tigers, que aparentemente ainda tem um time de
beisebol na MLB, andam tão desesperados para atrair público
para seu novo estádio que na semana passada eles instituíram
um concurso de arremesso de polvos com fundas antes da derrota antecipada
para o Cleveland.
Os participantes não poderiam chegar depois das 16:30h e deveriam
trazer consigo seu próprio polvo. Arremessos seriam julgados
baseados na distância e precisão. O sortudo vencedor receberia
um ingresso para o jogo 2 entre Avs e Wings, uma viagem grátis
de limusine, uma toalha úmida e, o melhor de tudo, uma chance
de escapar do jogo dos Tigers antes do primeiro arremesso (do time).
"Seria ruim se um jogador fosse acertado por um polvo. Mas acho
que é uma grande tradição. E é popular ao
redor do mundo", opina o goleiro Dominik Hasek, dos Wings, nativo
da República Tcheca. "As pessoas na Europa, quando pensam
em hóquei de Detroit, pensam nos polvos sobre o gelo".
E pensar que Detroit já foi conhecida como a casa de Henry Ford...
Nossa, como esta cidade cresceu!
Como mesmo os canadenses devem admitir, os Red Wings têm os mais
astutos e apaixonados torcedores do planeta, então apenas um
idiota ousaria questionar a sofisticação de um lugar que
se autodenomina "Hockeytown" (cidade do hóquei). Mas
responda a esta charada: quem tem QI mais alto? O polvo ou o cara que
enfia uma criatura do mar morta dentro das suas calças?
Nos últimos meses a segurança nos estádios americanos
cresceu a níveis paranóicos, o que é compreensível,
dados os tempos perigosos em que vivemos. Jornalistas que cobririam
o jogo 1 entre Avs e Wings tinham de ter suas malas revistadas e pilhadas
não apenas uma, mas duas vezes. Quando essa inspeção
era questionada como abuso, um segurança com cara de poucos amigos
berrava: "O quê, vocês não têm terroristas
em Denver?".
Então como alguém contrabandeia um polvo para dentro da
arena sem ser pego?
"Acho que é porque ele não aciona o detetor de metais",
responde Keane, do Colorado, um veterano da Guerra dos Polvos. "Eles
impedem que armas, facas e outras coisas estranhas entrem na arena,
mas, se um segurança vir um polvo na mala de um torcedor, acho
que vai dizer: 'Oh, é só um polvo. Lula. Peixe. Isso é
bom. Ande logo'. Mas eu digo uma coisa: é preciso ser um torcedor
fanático para carregar um polvo o dia inteiro esperando que o
Detroit marque um gol. Eu adoraria fazer com que os Wings não
marcassem, apenas para fazer todos esses torcedores levarem aquela coisa
fedorenta para casa com eles".
|
Alexandre Giesbrecht apenas traduziu este artigo de Mark Kiszla,
do Denver Post, não odiando, pois, os Wings a este ponto. |
|
|
POLVOS. LULAS. PEIXES. SEI LÁ.
O torcedor Chris Birch tenta seu arremesso de polvo no jogo de beisebol
(Duane Burleson/AP - 20/05/2002) |
|
|
|