22 de maio de 2002
Wings x Avs: Assunto dos polvos atraindo tinta na imprensa

Por Alexandre Giesbrecht

Eles são viscosos. Ele têm um cheiro natural ruim e fedem ainda mais depois de três períodos de hóquei. Em todos os playoffs da NHL, não existem criaturas mais feias. E estamos falando sobre o Detroit Red Wings, não sobre os polvos mortos que a torcida louca desse time tradicionalmente joga no gelo durante os playoffs.

"Um polvo fede? Fede. Mas não tanto quanto os jogadores do Detroit Red Wings", declarou o zagueiro Darius Kasparaitis, do Colorado Avalanche depois do jogo 1.

Como se eles já não tivessem motivação suficiente para o jogo 2 das finais da Conferência Oeste, os Avs desenvolveram um intenso dissabor para com aquelas lulas de Detroit ao longo dos anos. Nenhum time que tenha amor-próprio gosta de estar no meio da chuva roxa de polvos caindo do céu. O Avalanche está cansado de ficar no meio daquela nojeira.

"Eca", disse o Wing Tomas Holmstrom. Aqueles cefalópodos devem ser realmente assustadores. Afinal, quando foi a última vez que você ouviu um jogador de hóquei falando "eca"?

A espatifada das adoráveis coisas mortas ("dead things") dos Red Wings deixa uma mancha horrível no gelo. Que nojo! Quando os Red Wings marcaram três vezes no terceiro período da sua vitória por 5-3 em casa sobre o Colorado, no primeiro jogo da série, apenas estar naquele estádio já fedia como um caminhão de gambás (não os corintianos, os animaizinhos) para o Avalanche.

A tradição de poluir os jogos de playoffs em Detroit com polvos vem de muito longe, quando ganhar a Stanley Cup exigia muito menos tempo do que o período de gestação de um elefante. Eram necessárias apenas oito vitórias nos playoffs para um time ser o campeão. Oito tentáculos. Pegou?

Esse sacrifício cerimonial de polvos para os deuses do hóquei é mais obsceno do que o durão dos Wings, Chris Chelios. É tão acoplado às tradições de Detroit quanto outra má idéia, os carros Edsel. Não é tão velho quanto o técnico Scotty Bowman, mas, é claro, poucas coisas o são. E é, sem dúvida, a tradição mais desagradável da NHL. Literalmente. "Isso fede", reclamou o capitão-assistente do Colorado Mike Keane.

Não muito longe da porta dos fundos da Joe Louis Arena, mais ou menos à distância em que o zagueiro Adam Foote, dos Avs, poderia jogar o malaco Darren McCarty, do Detroit, corre o frio e lamacento Rio Detroit. Nenhum polvo se atreve a viver ali. As criaturas com tentáculos são mais espertas do que parecem.

Mas em todas as primaveras a população local ganha um apetite monstruso por sushi. Não para comer, mas para arremessar no gelo quando os Red Wings marcam um gol importante. Então os mercados de peixe locais importam polvos lá das Filipinas para a Cidade do Motor. Custa cerca de US$ 2,99 o quilograma. Um polvo de bom tamanho vai custar uns US$ 25. Não, não tem gosto de frango.

"Quando você é acertado por um polvo você o pega e leva para casa uma salada de frutos do mar", disse Kasparaitis. "Mas é melhor como isca para pescar tubarões".

Você arremessa um polvo da mesma maneira que Buffalo Bill girava seu laço. A técnica certa está concentrada no pulso. Agarre-o. Rasgue-o. E olhe para baixo.

"Nossa torcida é generosa. Eles não jogam se jogadores dos Red Wings ainda estão no gelo", conta Kris Draper, central do Detroit. "Mas tenho certeza de que todos os espectadores nos assentos inferiores ganham um banho de suco de polvo. Isso não deve ser uma visão bonita".

Arremesso de polvos tornou-se uma arte em Detroit. Quem disse que esta cidade americana não tinha cultura?

Na verdade, o Detroit Tigers, que aparentemente ainda tem um time de beisebol na MLB, andam tão desesperados para atrair público para seu novo estádio que na semana passada eles instituíram um concurso de arremesso de polvos com fundas antes da derrota antecipada para o Cleveland.

Os participantes não poderiam chegar depois das 16:30h e deveriam trazer consigo seu próprio polvo. Arremessos seriam julgados baseados na distância e precisão. O sortudo vencedor receberia um ingresso para o jogo 2 entre Avs e Wings, uma viagem grátis de limusine, uma toalha úmida e, o melhor de tudo, uma chance de escapar do jogo dos Tigers antes do primeiro arremesso (do time).

"Seria ruim se um jogador fosse acertado por um polvo. Mas acho que é uma grande tradição. E é popular ao redor do mundo", opina o goleiro Dominik Hasek, dos Wings, nativo da República Tcheca. "As pessoas na Europa, quando pensam em hóquei de Detroit, pensam nos polvos sobre o gelo".

E pensar que Detroit já foi conhecida como a casa de Henry Ford... Nossa, como esta cidade cresceu!

Como mesmo os canadenses devem admitir, os Red Wings têm os mais astutos e apaixonados torcedores do planeta, então apenas um idiota ousaria questionar a sofisticação de um lugar que se autodenomina "Hockeytown" (cidade do hóquei). Mas responda a esta charada: quem tem QI mais alto? O polvo ou o cara que enfia uma criatura do mar morta dentro das suas calças?

Nos últimos meses a segurança nos estádios americanos cresceu a níveis paranóicos, o que é compreensível, dados os tempos perigosos em que vivemos. Jornalistas que cobririam o jogo 1 entre Avs e Wings tinham de ter suas malas revistadas e pilhadas não apenas uma, mas duas vezes. Quando essa inspeção era questionada como abuso, um segurança com cara de poucos amigos berrava: "O quê, vocês não têm terroristas em Denver?".

Então como alguém contrabandeia um polvo para dentro da arena sem ser pego?

"Acho que é porque ele não aciona o detetor de metais", responde Keane, do Colorado, um veterano da Guerra dos Polvos. "Eles impedem que armas, facas e outras coisas estranhas entrem na arena, mas, se um segurança vir um polvo na mala de um torcedor, acho que vai dizer: 'Oh, é só um polvo. Lula. Peixe. Isso é bom. Ande logo'. Mas eu digo uma coisa: é preciso ser um torcedor fanático para carregar um polvo o dia inteiro esperando que o Detroit marque um gol. Eu adoraria fazer com que os Wings não marcassem, apenas para fazer todos esses torcedores levarem aquela coisa fedorenta para casa com eles".

Alexandre Giesbrecht apenas traduziu este artigo de Mark Kiszla, do Denver Post, não odiando, pois, os Wings a este ponto.
POLVOS. LULAS. PEIXES. SEI LÁ. O torcedor Chris Birch tenta seu arremesso de polvo no jogo de beisebol (Duane Burleson/AP - 20/05/2002)
 
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Página publicada em 20 de maio de 2002.