Por: Alexandre Giesbrecht

Como todas as finais da Copa Stanley, esta tem inúmeras imagens marcantes. Muitas são previsíveis, algumas são surpreendentes, mas todas suscitam as mais distintas emoções.

A primeira delas, que já está gravada a sangue nas retinas de boa parte dos torcedores da Nova Inglaterra, remete à nossa tradicional capa, que tem os campeões posando em torno da Copa Stanley, uma imagem que só é possível graças a um troféu tão único e imponente. Tente fazer isso em torno da Copa do Mundo Fifa: o troféu simplesmente sumirá; já a Copa Stanley é a figura principal. Não por acaso, todas as nossas capas dedicadas ao campeão desde o locaute tiveram essa foto. Se não é o momento em que "a ficha cai" para jogadores e torcida — o que só deve ocorrer uns dois, três dias depois —, é talvez o momento em que alegria coletiva é maior, já que o instante em que cada um dos integrantes do elenco, comissão técnica e diretoria campeões levanta a Copa é um êxtase individual.

Outra imagem marcante que também é previsível é a figura do comissário Gary Bettman ser vaiada antes de entregar a Copa ao capitão do time vencedor. O desnecessário discurso laudatório provê tempo suficiente para a torcida abrir as gargantas com vaias, especialmente ensurdecedoras quando o time da casa sai derrotado, como foi o caso nas três últimas decisões. Bettman teima em proferir frases de rasa importância, exaltando o óbvio e tornando aqueles segundos para o capitão vencedor uma excruciante espera. Não é muito diferente de oferecer um pirulito a uma criança e ficar segurando a uma altura que o pobre infante não consegue alcançar.

Talvez a mais previsível das imagens seja a do capitão levantando a Copa Stanley, honraria que na última quinta-feira foi concedida a Zdeno Chara, o segundo capitão europeu a erguê-la sobre sua cabeça — feito que também seria alcançado por Henrik Sedin caso os Canucks tivessem saído vencedores. Procure um sorriso mais sincero em qualquer outro esporte. Tente imaginar um caminho mais árduo. Não há. E cada um daqueles que têm essa honra sabem que fizeram por merecer. Não há campeão por acaso no hóquei. A Grécia da Eurocopa de futebol em 2004, o Santo André e o Paulista de Jundiaí nas Copas do Brasil de 2004 e 2005, o Florida Marlins da Série Mundial de beisebol de 2003, o New York Giants do Super Bowl de 2008. Todos campeões com seus méritos, mas em condições que dificilmente poderiam ser repetidas. Existe um campeão da NHL assim? Claro que não. E isso é perceptível nos rostos de cada um que tem aqueles 15,6 quilos sustentados por seus músculos.

O vandalismo ocorrido em Vancouver pouco após o jogo 7 também era algo previsível. Infelizmente, não é nenhuma novidade por ali. O que não era nada previsível era que em meio à selvageria que tomou conta do centro da cidade surgisse uma cena romântica que correu o mundo: um jovem casal dando uns "amassos" próximo à barricada da tropa de choque da polícia. Tinha tudo para ser uma cena de romantismo forçado, mas acabou por ser romântica de verdade. No fim das contas, o casal não estava dando uns "amassos". A moça tinha caído depois de ser atingida pelo escudo de um dos policiais. Seu namorado, um australiano que está morando por um tempo no Canadá, parou para ajudá-la. Diante do desespero da garota, para acalmá-la deu-lhe um beijo no exato instante em que o fotógrafo Rich Lam, da Getty Images, batia uma foto da confusão. O próprio Lam não percebeu a cena, possivelmente porque o beijo foi tão efêmero que não lhe podia passar pela cabeça algo diferente. Não demorou para o mistério ser esclarecido, primeiro sobre a identidade do casal, confirmada quando o pai do rapaz deixou um comentário no Facebook em que exaltava seu filho "fazendo amor, não guerra" — uma grande sacada, diga-se de passagem. Mais tarde, as circunstâncias foram esclarecidas, e o que tinha toda a cara de cena romântica de araque ganhou contornos românticos de verdade. E ajudou a dar tonalidades humanas a um episódio que a Colúmbia Britânica preferiria esquecer.

No meio de todas essas cenas, há infinitas outras, particulares para cada jogador, torcedor ou pessoa que tenha tido algum envolvimento, emocional ou real, com a final. Muitas delas permanecerão privadas e têm sentido apenas para as pessoas que as presenciaram. Outras terão seus 15 minutos de fama, ou menos, e depois simplesmente passarão a fazer parte do folclore das finais de 2011. O pessoal de Boston certamente lembrará com alegria dessas imagens. Já o povo de Vancouver terá de conviver com a dor que as mesmas imagens lhe trarão. É assim todo ano. E seguirá sendo.

Alexandre Giesbrecht, 35 anos, convida seus três leitores a visitar seu blog.
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Página publicada em 19 de junho de 2011.