O Boston Bruins sagrou-se campeão da Copa Stanley de 2011 derrotando o Vancouver Canucks no jogo 7 da final por 4-0. Venceu o melhor, como sempre. Mas, dessa vez, os deuses do hóquei não permitiram que um time detentor de uma incrível irregularidade tivesse vencido a Copa -- ainda que tenham permitido que o time chegasse ao jogo 7.
A irregularidade do time canadense era latente para quem assistia aos jogos, mas era perfeitamente traduzida nos placares. Vejamos:
Em Vancouver, vitórias apertadas, por 1 gol de diferença, do time local.
Em Boston, goleadas do time local.
No jogo 7, em Vancouver, goleada, com direito a shutout, do time de fora.
Talvez o maior exemplo da irregularidade do Vancouver nas finais esteja nas suas principais estrelas: os irmãos Sedin praticamente sumiram dos placares e Roberto Luongo comprovou que seus críticos têm razão: é um bom goleiro, mas não é confiável. Ora faz grandes jogos, ora passa vergonha. Do outro lado, o goleiro Tim Thomas foi muito além do confiável -- era o principal jogador do time, era a segurança de que, se houvesse falhas na linha, ele estaria lá para fazer mais que o possível para corrigi-las debaixo das traves. Inquestionável MVP dos playoffs, Thomas foi predominante como há algum tempo não se via um jogador ser.
Ao contrário dos Canucks, os Bruins brigaram do primeiro minuto do jogo 1 ao último minuto do jogo 7. Não são palavras de efeito, o time manteve a determinação o tempo inteiro. Nunca nada foi fácil para os Canucks, que, por sua vez, apagavam constantemente. Convenhamos: os jogos em casa foram moleza para o Boston.
O Boston é um time que passou vergonha no ano passado, quando vencia o Philadelphia Flyers por 3-0 na série e permitiu a histórica virada. Passou o ano e novamente os times se encontraram nos playoffs. Mas dessa vez os Bruins não deram chance ao absurdo e varrera os Flyers dos playoffs por 4-0. Em todas as outras séries nesses playoffs, os Bruins somente venceram o adversário no jogo 7.
O Boston é o time que fez aquela amplamente esculhambada troca de Joe Thornton (por Marco Sturm, Brad Stuart e Wayne Primeau), por diversas vezes criticadas por nós da TheSlot.com.br e pela maior parte da imprensa especializada. Somente anos depois é que passamos a entender a jogada da gerência, de abrir espaço na folha salarial e, assim, acomodar sobretudo Zedno Chara no elenco.
O Boston é o time de Zdeno Chara, o gigante (físico e qualitativo) que joga e mete medo. O defensor que o Ottawa Senators escolheu despachar quando tinha de escolher entre ele e Wade Redden. Levantando a Copa deve ter sido o ápice do ódio em Montreal. Depois do famoso imprudente e impune tranco sobre Max Paccioretti na temporada normal, Chara e os Bruins derrotaram o arqui-rival Montreal Canadiens na fase inicial dos playoffs.
O Boston é o time de Marc Savard, jogador esculhambado durante anos e que, paradoxalmente, sempre jogava muito. Até passar a sofrer com uma séria concussão nunca plenamente curada.
Savard foi parcialmente substituído no elenco por Rick Peverley, central pouco badalado que foi contratado no dia-limite de trocas e que contribuiu bastante para o título, mais que seus 4 gols e 12 pontos dizem.
O Boston é o time de Tomas Kaberle, defensor que finalmente encerrou a novela que se arrastava havia anos sobre sua saída do Toronto Maple Leafs. Saiu para o Boston, para ser campeão.
O Boston é o time de Mark Recchi. O que dizer de Mark Recchi? 43 anos de idade, desprezado pelo Pittsburgh Penguins anos atrás. Perambulou por Atlanta e Tampa Bay até chegar ao Boston. Na caminhada ao título, ele não foi apenas mais um, não foi um jogador de apenas completar elenco. Foi peça importante, foi líder. O cara foi campeão com o Carolina Hurricanes, cinco anos atrás. E foi campeão VINTE anos atrás com o Pittsburgh Penguins de Mario Lemieux. Depois de mais uma Copa, aposentou-se. Isso que é saber perfeitamente a hora de encerrar uma carerira.
O Boston é o time, naturalmente, de vários outros jogadores, mas nenhum deles tão importante quanto Tim Thomas, na temporada normal e nos playoffs. Caso raro de MVP de uma temporada inteira, da regular à Copa.
Gerais sobre as finais
EUA 4-0 Canadá. Isso mesmo, em mais um confronto entre EUA x Canadá numa final de Copa Stanley, ao menos durante a existência de TheSlot.com.br, o time americano prevaleceu mais uma vez. As outras finais: Anaheim sobre Ottawa em 2007, Carolina sobre Edmonton em 2006 e Tampa Bay sobre Calgary em 2004. Vale lembrar que em 1994 os Canucks também perderam na final (também num jogo 7) e que o último time canadense campeão da Copa é o Montreal Canadiens de 1993 (com Wayne Gretzky ainda jogando do outro lado!).
Uma final com brigas. Não apenas os vários entreveros pós-apito, houve brigas mesmo. Houve trancos demolidores, houve jogador saindo de maca. Claro que isso não é de todo incomum em se tratando de final, mas vinha sendo cada vez mais difícil de se ver ultimamente.
8-1 no jogo 3. Em termos de goleadas desse patamar em finais, minha memória só remetia a um dos jogos da final de 1996. Fui verificar no dia seguinte e, supresa!, foram exatos 8-1 no jogo 2 entre Colorado Avalanche e Florida Panthers.
Final de Copa Stanley com todos jogos ao vivo pela ESPN. Nada de VTs na madrugada, nada de "passamos à frente por premência de tempo" (ou coisa semelhante). Todos ao vivo. Quando você teve esse prazer pela última vez?
Por fim, a final da última temporada coberta por TheSlot.com.br.
Marcelo Constantino sonhou com 2026, mas já se impressiona ao lembrar que chegou a 2011.