Por: Marcelo Constantino

Era o primeiro reencontro entre Montreal Canadiens e Boston Bruins depois do infame tranco de Zdeno Chara em Max Pacioretty, ocorrido no último dia 8 de março. É evidente que uma das grandes questões em jogo era sobre se alguém (e quem) partiria para cima de Chara. É raro ter mais tempero que isso para uma partida de temporada normal.

Mas, sim, havia mais tempero para o jogo. No dia anterior à partida, Mark Recchi disse a uma rádio local que ele acredita que os Canadiens exageraram nas notícias sobre a contusão de Pacioretty. Logo Recchi, que não é nenhum garoto iniciante e falador de besteiras juvenis.

Conforme escrevi na época, eu entendo que o tranco de Chara não foi deliberado para fazer a cabeça de Pacioretty espatifar-se naquela quina. Entendo, no entanto, que Chara era culpado por imprudência. Mas não é esse o entendimento em Montreal. Lá, Zdeno Chara é o demônio em forma humana, e o board da NHL (que não o puniu) é uma grande congregação satânica que protege os seus. Por isso, sobretudo, havia grande expectativa quanto ao que os Habs fariam no gelo em termos de vingança.

A rivalidade entre os times é clássica, histórica. Trata-se de dois originais da NHL. Protagonizaram ainda algumas séries memoráveis nos últimos anos de playoffs. E o jogo da quinta-feira seria o último encontro da temporada normal entre os dois. O confronto nada teria de briga pelos playoffs -- só uma catástrofe retira qualquer um dos times dos playoffs --, mas envolvia uma briga por posições nos playoffs. Os Bruins apareciam com boa vantagem sobre os rivais canadenses, com três pontos de vantagem e dois jogos a menos. O momento dos Habs na temporada era, e ainda é, bem mais ou menos; o dos Bruins é melhor.

O jogo era em Boston, havia expectativas também quanto ao comportamento da torcida local. Mas o foco mesmo era se haveria sangue, se alguém partiria para a vingança contra Chara, mesmo com todos os poréns declamados pelos dois lados. Claro que o velho clichê de “responder no gelo, com uma vitória” é valido. Entretanto, melhor do que vencer seria vencer no gelo e no punho.

Mas os Canadiens não foram atrás de Chara. Não venceram. Não jogaram nada, a bem da verdade. O jogo foi um massacre, mas no gelo, em termos de placar. O Boston humilhou o Montreal com um 7-0 retumbante. Os gols vieram em bandos. Com um minuto de jogo, já estava 1-0. Mais dois gols no mesmo período e mais quatro no terceiro selaram a goleada. Para piorar o lado canadense, Chara foi escolhido como destaque do jogo, tendo contribuído ainda com três assistências.

Quando sofreu o quinto gol, já no terceiro período, Carey Price foi sacado do time. Seu reserva, Alex Auld, ainda teve tempo de sofrer mais dois antes de o pesadelo encerrar. Ruim estava, ruim permaneceu.

Briga mesmo, apenas uma, já no fim do segundo período, entre Gregory Campbell e Paul Mara. Foi rápida, pouco significativa. Os Habs já perdiam por 3-0. Minutos antes houvera um entrevero entre o mesmo Mara e Mark Recchi, o autor da declaração infeliz. Nada além disso em termos de brigas.

Resta aos Canadiens o louvor politicamente correto de não terem partido para a vingança. Algo como uma “atitude superior”. Balela. Perderam, e perderam feio. E nada fizeram para vingar Max Pacioretty. A tal “atitude superior” passava longe de boa parte das análises pós-tranco. Na verdade, serve apenas como consolo. E eu duvido que os torcedores compartilhem dessa balela.

Marcelo Constantino recomenda expressamente “Incêndios”, um dos melhores filmes dos últimos anos.

Elise Amendola/AP
Mais um gol sofrido por Carey Price. Foi rotina no reencontro entre Bruins e Habs.

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Página publicada em 27 de março de 2011.