Entre o final de dezembro e começo de janeiro aconteceu o Campeonato Mundial de Hóquei Junior. Para ser mais preciso, começou em 26 de dezembro e foi até 5 de janeiro, e essa edição foi realizada em Buffalo, nos Estados Unidos.

Para quem não teve chance de acompanhar mais de perto a competição, na primeira fase (a fase de grupos) as equipes foram divididas em Grupos A e B, sendo a seguinte configuração:
Grupo A: Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Finlândia e Eslováquia.
Grupo B: Canadá, Rússia, Suécia, Noruega e República Tcheca.

O sorteio dos grupos não foi muito correto com o grupo B, afinal de contas colocar esse tanto de candidatos ao ouro em um mesmo grupo só pode ter sido armação dos ianques. Claro que tem o outro lado da moeda, afinal de contas os Estados Unidos teriam uma grande chance de enfrentar na primeira rodada do mata-mata um forte rival.

Ao final dos quatro jogos na fase de grupos, onde cada time jogou uma vez contra todos os adversários do grupo, a classificação no primeiro grupo foi exatamente o que se esperava: Estados Unidos em primeiro e Finlândia em segundo, cada um com três vitórias no tempo regular, sendo que os americanos venceram uma quarta partida na prorrogação enquanto os finlandeses perderam uma na prorrogação. Uma diferença em relação ao sistema de pontos da NHL é que no mundial junior a vitória no tempo regular vale três pontos. Em terceiro ficou o time da Suíça, Eslováquia em quarto e a Alemanha em último no grupo.

No grupo B, uma certa surpresa foi ver a Suécia terminar em primeiro depois de uma dramática vitória contra o Canadá na prorrogação, deixando os canadenses em segundo, com a Rússia em terceiro, seguidos de República Tcheca e do fiasco norueguês, sendo esse o único time a não marcar nenhum ponto no campeonato.

Pelo fato de terem ficado em primeiro no seu grupo, os Estados Unidos tiveram o privilégio de passarem direto para as semifinais, aguardando o vencedor do confronto entre Canadá e Suíça. O mesmo privilégio que conquistou a Suécia por ter terminado em primeiro no seu grupo, aguardando então o vencedor do confronto entre Rússia e Finlândia.

Alguns fatos interessantes marcaram esse último Campeonato Mundial Júnior, como a decepção dos jogadores americanos ao verem a HSBC Arena em Buffalo sempre tomada por torcedores canadenses, deixando até mesmo os americanos como minoria, dando na verdade a impressão de que o jogo se passava no Canadá. Tudo bem, Buffalo é logo ali do outro lado da fronteira e muito proximo de Toronto, mas oras, Buffalo, até onde eu tinha verificado na última vez, continuava sendo uma cidade do estado americano de New York.

Outro assunto que rendeu muito na fase de grupos foi a suspensão do jogador canadense Zack Kassian depois de ter dado um tranco considerado ilegal em um jogador tcheco, mas Kassian não foi o único suspenso por jogadas violentas no mundial, um fato que tem se tornado corriqueiro na NHL e pelas ligas de hóquei no gelo mundo a fora. E isso ocorre exatamente no mesmo momento em que a NHL e outras ligas da América do Norte se esforçam para diminuir a violência e as contusões mais sérias em seus jogadores, principalmente as contusões cerebrais.

Rendeu muito assunto também a polêmica entrevista do técnico da Suécia depois de vencer o Canadá no último jogo da fase de grupos, garantindo o primeiro lugar do grupo para a seleção do país escandinavo e uma folga durante as quartas de final. Durante a entrevista coletiva após o jogo, o técnico sueco simplesmente falou que o jogo contra os canadenses não tinha sido difícil, que o Canadá era um time previsível, sem criatividade e fácil de ser batido. Para colocar mais lenha na fogueira, ele disse que os jogos contra a Russia e a Rep. Tcheca tinham sido muito mais difíceis. Tudo bem que os Suecos deram mais chutes a gol na partida, mas eles só conseguiram vencer nos tiros livres.

Então, dá para dar uma idéia da celeuma criada aqui no norte, quando o técnico da Suécia saiu tripudiando sobre a equipe canadense.

Nas quartas de final a Suíça não foi capaz de representar um empecilho para a seleção canadense, e a seleção do Canadá venceu fácil por 4 a 1, passando para a semifinal. Na outra partida da rodada, a Rússia teve mais trabalho para vencer a Finlândia por 4 a 3 e também passar para a fase seguinte.

Já nas semifinais, a Rússia colocou um fim na empáfia e na bossa sueca, ao eliminar a Suécia por 4 a 3, e terminar o sonho do ouro para o time escandinavo. Com o passaporte carimbado para a final e o direito de disputar o ouro, a Rússia assistiu de camarote ao embate entre Estados Unidos e Canadá, no que se transformou em uma espécia de vingança pelo fato do último confronto entre essas duas seleções de juniores ter terminado com vitória americana e a conquista do ouro por eles.

Agora, jogando em Buffalo, era a vez dos americanos mostrarem a força da sua torcida, mas os canadenses roubaram a cena e lotaram a arena para empurrar o seu time para a final do campeonato e pela busca do ouro. Os jogadores americanos declararam depois da partida que a maior frustração do campeonato inteiro foi disputar uma partida valendo vaga na final em solo americano e ter a impressão que estavam jogando no Canadá.

Empurrados pela torcida e por gritos de "goodbye", os canadenses venceram os Estados Unidos e marcaram um encontro com os russos na finalissima do campeonato.

Quantos aos marrentos suecos... bem, eles perderam dos Estados Unidos na briga pelo bronze e voltaram para casa sem nada, enquanto os americanos conquistaram o prêmio de consolação com o terceiro lugar do campeonato.

A partida final do campeonato marcaria o confronto entre as duas seleções mais vencedoras de mundiais juniores da história. Nos últimos 37 campeonatos, 30 foram vencidos pela Rússia ou pelo Canadá, sendo exatamente 15 vitórias para cada um. O jogo se tornou mais do que apenas uma final, seria também um desempate.

E como todo grande jogo que se preze, não faltou emoção. Os canadenses começaram com tudo e davam a impressão de caminharem para uma vitória certa e tranquila, para a alegria dos torcedores canadenses. Quando terminou o segundo período e o Canadá vencia por 3 a 0, muita gente, inclusive eu, pensou: "acabou, o ouro é nosso".

Ledo engano, meus amigos leitores. A Rússia conseguiu arrancar um empate heróico no terceiro período. A reação começou de forma avassaladora com dois gols antes dos três minutos e separados por apenas 13 segundos.

Com sete minutos e meio, a Rússia empatava e assombrava o mundo. Mas o mais incrível ainda estava por vir, eles conseguiram virar a partida aos 15 minutos e faltando pouco mais de um minuto para o final do jogo eles selaram a gigantesca e fenomenal vitória por 5 a 3 sobre o Canadá, garantindo por hora a supremacia da Rússia nos mundiais de juniores.

Inacreditável! É claro que virou notícia em todos os jornais, rádios e revistas canadenses, sem falar nos websites.

Os jogadores canadenses, atônitos, não sabiam o que dizer nem o que pensar na hora da premiação e muito menos o que falar nas entrevistas pós-jogo. Muitos evitaram dar entrevistas e os que se aventuraram caíram naquela mesmice de "valeu pela prata, foi um bom campeonato, erramos na hora que não podíamos, o jogo tem 60 minutos" e mais um monte de blá-blá-blá.

No final das contas, realmente ficou a lição para um grupo de jovens jogadores que é preciso jogar com seriedade até que a partida esteja realmente encerrada e a vitória concretizada. Mas será que eles realmente aprenderam?

O campeonato realmente teve um bom nível com algumas partidas boas de ver. O lado negativo, a meu ver, foi a forte indisciplina e falta de respeito pelo jogador adversário mostrado por praticamente todas as seleções. E isso ficou bem claro nas suspensões e punições impostas pela federação a jogadores que atuaram de forma antidesportiva, sem falar nos que escaparam e não foram punidos.

E para fechar a matéria, vale registrar que a seleção russa, depois de conquistar o ouro com muito mérito, garra e determinação, acabou exagerando na comemoração. Exageraram tanto que foram expulsos do avião que os levaria de volta dos EUA para a Russia por "excesso de barulho" e por "importunar o bem estar de outros passageiros".

O que era para ser uma brilhante comemoração acabou virando caso de polícia, mas nada que manche a gloriosa conquista russa, tanto que eles foram recebidos como heróis em Moscou.

Alessander Laurentino comprou um disco por 99 centavos no Canadian Tire.

• Capa
• Editorial
• Mundial Júnior de Hóquei 2011
• NHL na ESPN: um balanço
• À espera de um chamado
• Azar na Joe Louis Arena
• Muita amolação para pouco dinheiro
• Dez grandes decepções
• Sem teto e sem fronteiras
• Menores sem teto