Por: Alexandre Giesbrecht

Ninguém sabe como aconteceu, a não ser provavelmente o próprio Jordan Staal. Não é comum um jogador treinar sem luva, então, se ele não estivesse usando o acessório isso fatalmente seria notado. Não foi. Por outro lado, acessório algum é garantia de que a área protegida não sairá contundida de algum incidente fortuito. E, ao menos nos últimos meses, incidentes fortuitos têm sido comuns para Staal, que a esta altura deve estar fazendo inúmeras escavações em volta de sua casa para achar onde enterraram a mandinga.

Quando entrou no gelo para a última partida da temporada regular, em abril, Staal alcançou a marca de 302 partidas consecutivas, a apenas onze de igualar o recorde dos Penguins, pertencente a Ron Schock. Ele, na verdade, já teria ultrapassado a marca se não fosse por um jogo em dezembro de 2006, em sua primeira temporada, quando fora cortado pelo então técnico Michel Therrien, pela queda e produção em novembro após um excelente mês de outubro naquele ano. Quando a sequência estava por alcançar 300 jogos, Staal deu uma declaração que hoje soa quase irônica: "Tenho sido abençoado. Alguém está olhando para mim lá de cima. Estou feliz por estar no time todas as noites."

Se havia mesmo alguém olhando por ele, este alguém fechou os olhos em 30 de abril. Era o jogo 1 das semifinais de conferência, entre Penguins e Canadiens, a 358.ª partida seguida do jogador, se incluídos os playoffs. Staal buscava recuperar-se de uma primeira fase fraca, quando teve um mais/menos de -5 e marcou apenas um gol. Já tinha marcado um dos gols do que seria uma vitória por 6-3 no Iglu, quando se chocou com o defensor adversário P.K. Subban em um lance aparentemente trivial. De trivial, na verdade, houve pouco, pois o patim de Subban fez um corte no pé direito de Staal, que deixou o gelo e, no banco de reservas, percebeu que a coisa era grave. Ele deixou o estádio com o auxílio de muletas, seguindo direto para o hospital, onde foi operado. A expectativa era que sua ausência fosse longa.

Surpreendentemente, Staal participou da patinação matinal e do aquecimento para o jogo 3, embora não tenha sido escalado. Para o jogo seguinte, estava de volta ao gelo com o auxílio de uma proteção no patim e de massagens nos pés nos intervalos. Parecia que o "homem de ferro" estava consolidando mais um milagre, tal como no início da temporada, quando teve sua perna atingida pelo patim de um jogador dos Devils e sentiu que o ferimento era grave, mas voltou ao jogo ainda naquela partida e seguiu sendo escalado normalmente nos jogos seguintes. Parecia que nada menos que um membro amputado seria capaz de fazer Staal ficar fora de um jogo.

Essa teoria foi deixada de lado quando ele ficou fora dos jogos 2 e 3 contra os Canadiens, mas ao menos o problema não era grave o bastante para quebrar a sequência de jogos em temporada regular, já que ele teria as férias inteiras para se recuperar de duas cirurgias pequenas: a emergencial, feita logo após o jogo 1, e outra, classificada por ele mesmo de "procedimento menor para ajudar a cicatrizar mais rápido", depois da eliminação dos Pens. A volta dele era tão garantida que, depois das primeiras contratações em julho, quando o gerente geral Ray Shero trouxe como principais reforços dois zagueiros, Zbynek Michalek e Paul Martin, Staal já era cogitado para centralizar a segunda linha do time, empurrando Malkin para uma das pontas, uma medida que já tinha sido testada ao contrário (com Malkin no centro e Staal na ponta esquerda) diversas vezes ao longo das últimas temporadas.

Entretanto, a recuperação das operações não foi conforme o previsto. O raio caiu pela segunda vez no mesmo lugar, o pé direito de Staal. Desta feita, uma infecção, resultante ainda da primeira intervenção, apareceu no local. Os médicos asseguravam que a infecção nada teve a ver com a volta prematura do jogador, ainda nos playoffs, e que o tendão estava firme e forte. Mas a infecção seguia intermitente. "Assim que parece que ele está tendo algum progresso, a infecção volta", descreveu Shero. Seu parceiro de linha Matt Cooke — que, junto com Staal e Tyler Kennedy, formavam o que era talvez a melhor terceira linha da liga — via o lado positivo da situação: "Você passa por altos e baixos ao longo da carreira. Ele está passando por tudo ao mesmo tempo. Felizmente, a maior parte disso foi nas férias."

A maior parte foi nas férias, de fato, mas àquela altura esperava-se que ele ficasse fora dos primeiros sete a dez jogos da temporada, afinal ele só voltou a patinar depois que a pré-temporada já tinha sido encerrada e só voltou a patinar com os colegas de time na patinação matinal antes do terceiro jogo. Mesmo aí ele ainda dizia não se sentir confortável, pois a perna esquerda estava muito mais forte que a direita. Seu primeiro treino de verdade seria oito dias depois. Logo depois brincou que poderia jogar já no dia seguinte, mas, na verdade, ainda estava a duas semanas da volta em definitivo. Estava.

Ele seguiu treinando, com comprometimento e entusiasmo que não escaparam aos olhos da comissão técnica e da diretoria, e a data de 3 de novembro, partida contra os Stars em Dallas, parecia cada vez mais provável para a volta. Dois dias antes do jogo, porém, o jogador abandonou o treino na segunda-feira passada, embora ninguém tenha percebido qual fosse o motivo, daí a especulação inicial de que poderia novamente estar sentindo dores no pé operado. Mas não: o raio caiu pela terceira vez em Staal, mas desta vez o alvo foi sua mão, como se descobriria rapidamente. Ele consultou os médicos do time e foi encaminhado para um ortopedista. Uma nova cirurgia seria agendada. A previsão inicial? Mais seis semanas fora. A expectativa? Que a zica acabe logo.

Alexandre Giesbrecht, 34 anos, não é supersticioso.
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Página publicada em 7 de novembro de 2010.