Por: Humberto Fernandes

As sete vitórias consecutivas entre 3 e 17 de outubro animaram até o mais pessimista torcedor do New York Rangers. Naquele momento, a equipe liderava a liga, com sete vitórias em oito jogos.

Então, no primeiro jogo em que Marian Gaborik não pontuou, o time viu a sequência positiva se encerrar com a derrota por 7-3 para o San Jose Sharks, em Nova York.

Essa tem sido a tônica dos Rangers. Às vezes, Gaborik é o suficiente, e ele sozinho vence o jogo. Com 21 gols marcados em 27 jogos, o atacante detém 26% dos gols do time (81) e tem mais que o triplo de gols do que o seu companheiro mais próximo (seis). O time depende dele, que atualmente é a própria definição de MVP.

Basta olhar o elenco para constatar que não há profundidade alguma, razão pela qual a equipe registra 7-13-1 desde o fim da sequência de vitórias, desempenho ruim o bastante para disputar a escolha de primeira rodada no próximo recrutamento.

A primeira linha de ataque é formada por Gaborik e Vaclav Prospal, com um buraco no centro, preenchido por rodízio. Atualmente, o treinador John Tortorella tem usado o calouro Artem Anisimov na posição, mas isso não passa de uma tentativa. Outros jogadores já passaram por lá, inclusive Prospal, sem sucesso.

O melhor central do elenco é Brandon Dubinsky, porém o jogador está fora de combate com a mão quebrada. Ainda assim, quando saudável, Dubinsky é um jogador de segunda linha, nada mais do que isso. Quem poderia ser o número um da posição no time e se beneficiar da produtividade de Gaborik é Chris Drury, mas seus melhores anos ficaram para trás, como provam seus dois gols e nove pontos, a caminho da pior temporada de sua carreira.

Não dá pra esperar muita produção ofensiva das linhas inferiores. Como formar uma combinação explosiva com três atacantes quaisquer entre Ales Kotalik, Sean Avery, Christopher Higgins, Ryan Callahan, Enver Lisin, Brian Boyle, Donald Brashear, Aaron Voros e P.A. Parenteau? Impossível. Logo, não existe a tão desejada produtividade secundária.

A defesa, que no começo da temporada contava com dois novatos, agora conta com três, enquanto Wade Redden se recupera de uma contusão no ombro. Michael Del Zotto, de 19 anos, escolha de primeira rodada em 2008, é a grata surpresa do time, com cinco gols e 17 pontos. Seu nome se afasta do Troféu Calder à medida que o saldo de +/- fica cada vez mais negativo. Matt Gilroy e Ilkka Heikkinen, apesar da idade (25, ambos), nunca disputaram uma partida sequer na NHL antes desta temporada.

Também fazem parte do sexteto defensivo Marc Staal, de 22 anos, em sua terceira temporada, Daniel Girardi, de 25, com 227 jogos de experiência, e o veterano Michal Rozsival, de 31. É justamente Rozsival, o mais experiente, aquele apontado pela torcida como o pior defensor do time.

A fragilidade defensiva explica os números de Henrik Lundqvist. Seu índice de defesas (91,4%) está pouco abaixo da média de sua carreira (91,6%), mas a taxa de gols sofridos por jogo (2,64) está bem acima do normal (2,34). Lundqvist lidera a liga em derrotas nesta temporada.

Como se não bastasse, a situação ainda pode piorar. Desde o locaute, Gaborik disputa, em média, 52 jogos por temporada. Neste ano, ele perdeu apenas duas partidas por contusão. Se ele se machucar (toc, toc, toc), a temporada dos Rangers estará terminada.

Em resumo, os Rangers são o time de um grande goleiro e um ótimo atacante, e só. Não há muito o que fazer para melhorar o cenário. Estima-se que o time tenha US$ 55,2 milhões comprometidos dentro do teto salarial, deixando uma pequena margem (US$ 1,9 milhão) para gastos com reforços. É pouco.

Grande parte dos problemas de hoje dos Rangers foram causados em 2007 e 2008, quando o gerente geral Glen Sather saiu irrefreável às compras no mercado de agentes livres.

Sua primeira bobagem foi assinar com Drury por cinco anos e US$ 7,05 milhões/ano. O atacante vinha de duas boas temporadas pelos Sabres, mas antes disso havia feito três campanhas ruins consecutivas, o que deveria ter feito o gerente mensurar melhor o risco do negócio. Nem mesmo em seu auge, Drury foi um jogador de US$ 7 milhões. Ele tem contrato por mais duas temporadas.

Na temporada seguinte, mais dois crimes contra o patrimônio dos Rangers. Sather contratou Redden por seis anos e US$ 6,5 milhões/ano e Rozsival por quatro anos e US$ 5 milhões/ano. São US$ 11,5 milhões/ano despendidos em dois jogadores cujos melhores anos ficaram para trás há muito tempo. No Ottawa Senators, Redden foi um dos melhores da liga em sua posição até 2005-06 e, depois disso, o nível de seu jogo despencou. Sather pagou por ele o preço de alta apesar de o jogador estar em baixa. No caso de Rozsival, sua experiência anterior com o time, mesmo que apenas razoável, proporcionou-lhe o contrato superfaturado. Redden tem mais quatro anos de vínculo, o dobro do que resta para Rozsival.

Outra mancada do gerente, e esta é mais atual, foi assinar com Kotalik por três anos e US$ 3 milhões/ano. Nas últimas três temporadas, o máximo que o atacante conseguiu foi 23 gols e 43 pontos. O Buffalo Sabres, de Darcy Regier e Lindy Ruff, duas das mentes mais inteligentes da NHL, não abriu mão do jogador à toa, quando o negociou com o Edmonton Oilers no dia-limite de trocas. E os Oilers não se esforçaram para segurar seu investimento, deixando-o livre para testar o mercado. Sather deveria ter desconfiado.

A conta chega a US$ 14,5 milhões gastos em jogadores dispensáveis. Com essa grana, seria possível contratar Chris Pronger, Shea Weber e Johan Franzen.

Com contratos proibitivos, Drury, Redden e Rozsival são desinteressantes para as demais equipes da liga, então qualquer troca está descartada. A única saída para os Rangers é despachar as âncoras para a AHL, onde seus contratos não contariam contra o teto salarial dos Camisas Azuis. É o cúmulo do desperdício pagar tamanha fortuna para um jogador atuar na segunda divisão, mas dinheiro nunca foi problema para o time de Nova York.

É o preço de uma coletânea de más decisões.

Humberto Fernandes recomenda "O Símbolo Perdido", o novo livro de Dan Brown.

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Marian Gaborik faz uma campanha irreparável, digna de Troféu Hart. Pena que o New York Rangers não estará nos playoffs.
(17/10/2009)

Justin K. Aller/Getty Images
Chris Drury é um dos jogadores supervalorizados pelo gerente geral Glen Sather.
(28/11/2009)

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Página publicada em 9 de dezembro de 2009.