Dois gols e nove assistências em 13 jogos não fazem do começo de temporada de Vincent Lecavalier uma catástrofe.
Se mantivesse a média de sua carreira, Lecavalier teria cinco gols e seis assistências após 13 jogos disputados, o que significa dizer que ele tem pontuado tanto quanto nas outras dez temporadas em Tampa Bay, porém com mais assistências e menos gols.
No entanto, este é o primeiro dos 11 anos do contrato de US$ 85 milhões que deu ao atleta o maior salário da liga — US$ 10 milhões anuais.
E daquele que é o mais bem pago se espera muito mais do que dois gols em 13 jogos, ritmo que o levaria a terminar a temporada com 13 gols.
Os mais apressados suscitam a possibilidade do Lightning trocá-lo, como se Lecavalier não fosse o capitão do time — à época o mais jovem na história da NHL a ser nomeado capitão, honra que pertencia anteriormente a Steve Yzerman — e o recordista em jogos (800), gols (304), assistências (376) e pontos (680).
Lecavalier foi escolhido pelo Tampa Bay com a primeira escolha geral do recrutamento de 1998 e naquele mesmo ano fez sua estreia, aos 18. Em sua quinta temporada (2002-03), o Lightning disputou os playoffs pela primeira vez no período. No ano seguinte, venceu a Copa Stanley. Dez temporadas depois, nunca tendo vestido outra camisa na NHL, Lecavalier é a identidade da franquia.
E ninguém pode trocar a identidade.
Um dos problemas de Lecavalier nesta temporada é o treinador Rick Tocchet, que tem tentado de tudo para acordar o goleador.
O central já atuou ao lado de quase todos os atacantes do time, mas não é jogando com Huguinho e Zezinho que Lecavalier vai enfileirar discos dentro da rede.
Tocchet também já reduziu seu tempo de gelo, dos 20 minutos do primeiro jogo para 16 em outras duas noites. Menos tempo de jogo, menos gols, diz a lógica.
Mas a pior atitude do treinador foi criticar seu capitão em público — e mais de uma vez. Se você trata o líder do time, seu melhor jogador, com menos do que ele merece, está agindo contra todo o grupo. Quando Tocchet rebaixou Lecavalier para a linha 3, ou quando reduziu seu tempo de gelo, ou ainda ao
criticá-lo, ele indiretamente atingiu cada um dos demais jogadores.
Coincidência ou não, quando isso começou, Martin St. Louis passou um jogo inteiro sem pontuar pela primeira vez na temporada.
Quem defende a troca de Lecavalier acredita que este será o time de Steven Stamkos e Viktor Hedman muito em breve.
Stamkos e Hedman, aos 19 anos, ainda são garotos descobrindo como é maravilhoso o mundo da NHL. Os dois têm todos os ingredientes para ser os pilares do Lightning, mas ainda é cedo. Sem Lecavalier, sem St. Louis, sem os jogadores veteranos para servir de pararraios,
a pressão vai recair toda sobre os jovens talentos.
Enquanto Lecavalier está lá para receber os golpes, Stamkos, em segundo plano, está voando com 11 gols, assim como Ryan Malone, que marcou nove vezes.
Cedo ou tarde, a má fase do capitão vai acabar e ele
vai voltar ao seu normal, chegando aos 30 gols.
Se muito tarde, persistirão os boatos de troca, mas seu contrato é proibitivo para quase todos os times da liga.
O que de pior pode lhe acontecer é perder o lugar na Seleção Canadense que vai disputar os Jogos Olímpicos em Vancouver. A convocação será anunciada no dia 31 de dezembro, portanto Lecavalier tem dois meses para repetir infinitas vezes a boa atuação do último jogo, contra o Toronto Maple Leafs. Curiosamente, Steve Yzerman, gerente geral canadense, estava na arena naquele dia.
Yzerman, aliás, é uma comparação. Em meados dos anos 1990, Scotty Bowman, então treinador do Detroit Red Wings, tentou trocá-lo com o Ottawa Senators, mas a negociação não foi concluída. Na temporada seguinte, durante a estreia do time em Detroit, quando Yzerman foi apresentado, o público aplaudiu freneticamente, enquanto Bowman foi vaiado com entusiasmo. Daquele momento em diante não houve mais dúvida: Yzerman seria para sempre um Red Wing.
Substitua Yzerman por Lecavalier e Bowman por Tocchet. O efeito será o mesmo.
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