Em meio à prolongada crise em que se encontra, o Phoenix Coyotes surpreende
neste começo de temporada, figurando entre os oito primeiros da Conferência
Oeste e com uma bela campanha no mês de outubro.
Tudo bem que fazer bonito em outubro não quer dizer muita coisa no fim
das contas (quando escrevo isso, lembro-me de Brian Savage, famoso Mr.
October (que, aliás, jogou pelos Coyotes), mas quem imaginaria o Phoenix
fazendo bonito em qualquer mês desta temporada? O foco da equipe estava
longe do que ocorria dentro do rinque, o que mais chamava a atenção
era para qual cidade a franquia seria transferida. Manchetes sobre o
Phoenix invariavelmente ou focavam em Wayne Gretzky ou nas especulações
sobre a saúde financeira da equipe — e os desdobramentos subsequentes
disso.
Mas eis que a equipe encerra o mês com uma respeitável campanha de 9
vitórias e 4 derrotas. Quem diria!
Ilya Bryzgalov, aquele goleiro que surgiu de repente defendendo a rede
do Anaheim Ducks nos playoffs de poucos anos atrás, é um dos grandes
responsáveis pela boa fase. A rigor, ele já havia feito uma boa temporada
com os Coyotes no ano passado, mas agora ele vem recebendo ajuda, deixando
de ser um mero porém num time perdedor: com uma defesa melhor e mais
bem armada à sua frente, agora ele é uma das principais razões de um
time vencedor. Suas médias de 1,78 gols sofridos e 93% de defesas (dados
colhidos após o jogo de segunda-feira contra o LA Kings) são das melhores
da liga nesta temporada. Os 3 shutouts lideram a NHL. Vejam bem, ainda
estamos começando o mês de novembro e o cara já tem 3 shutouts. E defendendo
o Phoenix Coytoes.
O defensor Adrian Aucoin parecia louco para alguns por optar deixar
o Vancouver Canucks e seguir para a incógnita que eram os Coytoes. Ele
topou o desafio e tornou-se um dos líderes da defesa, solidificando-a
ao lado do também recém chegado Jim Vandermeer. Os dois trouxeram mais
qualidade, mais experiência e mais liderança a uma relativamente jovem
— e anteriormente muito deficiente — defesa até então liderada unicamente
por Ed Jovanovski.
Jovo é outro capítulo desta nova fase. Depois de ver sua qualidade questionada
nos últimos anos, chegando a figurar com alguma insistência em boatos
de negociáveis, ele parece estar num dos melhores momentos de sua carreira.
Ainda que com um estilo um tanto distante daquele jovem calouro que
surgiu ao mundo nos playoffs de 1996, quando insistia em desferir trancos
sobre o então temível Eric Lindros — retrato do amadurecimento, de
anos de experiência acumulados nas costas. Jovanovski figura entre os
líderes do time em pontos.
Ao lado dele, Zbynek Michalek vem fazendo seu tradicional feijão-com-arroz
na defesa, com boas e discretas atuações.
Na frente há um certo equilíbrio. Se a principal arma atende reconhecidamente
pelo nome de Shane Doan, a verdade é que todas as linhas do time vêm
contribuindo com alguma regularidade. O que é surpreendente, dado que
nomes pouco badalados como Vernon Fiddler e Dan Winnik vêm demonstrando
uma ótima química e contribuindo muitas vezes de maneira decisiva para
as vitórias da equipe.
Méritos também para o técnico Dave Tippett, que
vem dando a volta por cima depois de uma temporada ruim com o Dallas
Stars. Só de fazer funcionar um time desacreditado como o Phoenix
já é digno de aplausos.
Infelizmente esse ótimo começo de temporada vem registrando também um
recorde negativo para a franquia: a Jobing.com Arena vem registrando
os menores públicos de sua história (não da arena, mas da franquia,
desde os tempos de Winnipeg). No final de outubro, pouco mais de 6 mil
pessoas assistiram à vitória do time sobre o Anaheim Ducks na disputa
de pênaltis. Dias depois, foi pior ainda: pouco mais de 5.800 pessoas
estavam na arena para assistir ao time ser derrotado pelo LA Kings. O
pior público da história da franquia.
Esse ótimo e surpreendente começo dá esperanças de que daqui a uns cinco
meses os Coyotes possam estar ainda jogando, só que nos playoffs? Sim,
claro. Mas, evidentemente, vai depender unicamente da regularidade do
time, da capacidade em não necessariamente manter esse bom momento de
outubro, mas sobretudo de manter uma boa média daqui pra frente. Veremos
a performance do time no mês de novembro, o que já será um bom indicativo.
Marcelo Constantino curte as aventuras do delegado Espinosa, na “literatura carioca” de Luiz Alfredo Garcia-Roza.