Por: Alexandre Giesbrecht

Em 09 Pittsburgh e Detroit disputaram o jogo 7 das finais em Detroit, com o caneco ficando para os visitantes. A frase está no passado porque o "09" em questão é 1909, não 2009. E foi um jogo de beisebol, a decisão da sexta Série Mundial. Naquele jogo 7 os Pirates do legendário Honus Wagner fizeram 8-0 sobre os Tigers do não menos legendário Ty Cobb diante de 17.562 torcedores no Bennett Park. Cem anos depois, as duas cidades encontrar-se-ão em um novo jogo 7, desta vez sobre o gelo, para decir um troféu que já tinha 16 anos quando da Série Mundial entre Bucs e Tigers: a Copa Stanley. Curiosamente, no mesmo dia em que haverá em Pittsburgh um raro confronto entre Tigers e Pirates — este sem valer grandes coisas.

É o jogo dos sonhos da NHL: um tudo-ou-nada que vai fazer o hóquei pipocar na mídia norte-americana, que costuma dar ao esporte o mesmo espaço que o turfe tem no Brasil. Se nem esse sonho a liga divulga publicamente, o outro que ela tem é mais secreto ainda, embora facilmente perceptível: ver Sidney Crosby, o ícone que ela elegeu, levantar a Copa Stanley sobre sua cabeça, talvez influenciando milhares de crianças e adolescentes nos Estados Unidos que se identificam com ele a dar mais atenção ao hóquei.

Não que Garu Bettman e seus asseclas pretendam influenciar o resultado do jogo 7 para ver seu outro sonho se tornar realidade, mas não duvide que a diretoria da liga vai comemorar mentalmente cada eventual gols dos Penguins na decisão, tal qual um torcedor do Remo infiltrado na torcida do Paysandu durante um Re-Pa. Uns vão contestar tal versão, dizendo que a liga se prepara para uma vitória dos Red Wings — ou até que manipula a fim disso —, por causa de um link divulgado na quarta-feira dando conta de que já há uma página na loja do site da liga vendendo produtos que comemoram o título do Detroit. Poderia até ser, se não houvesse também produtos a celebrar o título dos Penguins. É o claro caso de planejamento desastrado somado a preguiça, tal qual a revista Placar, que no ano passado deixou por mais de uma semana no ar uma página dedicada ao título brasileiro do Grêmio, depois que o São Paulo tinha conquistado o mesmo Campeonato Brasileiro.

É bom nem nos preocuparmos com teorias da conspiração, porque jogos 7 da Copa Stanley não são comuns, ainda que apenas nesta década este seja o quinto: nos últimos 37 anos, é apenas a sétima vez que as finais chegam a sete jogos. Nenhum desses jogos chegou à prorrogação, o que seria, talvez, um outro sonho para a liga. Na verdade, apesar de duas vitórias por um gol de diferença (Rangers em 1994 e Lightning dez anos depois), nenhum desses jogos foi realmente disputado e emocionante. Em todos eles, a vantagem foi construída desde o início do jogo e o vencedor nunca esteve sob grandes dúvidas ao longo de boa parte dos 60 minutos. Em todos eles, o time da casa saiu patinando com o troféu.

Não por causa desses precedentes, mas não é difícil imaginar algo parecido ocorrendo na sexta-feira. Os Penguins perderam as três partidas em Detroit nestas finais, onde os Wings perderam apenas uma partida ao longo destes playoffs. Na última partida por lá, os Pens jogaram tão mal, mas tão mal, que ficou até difícil saber se o adversário jogou bem ou ganhou por osmose. O próprio jogo 6 foi, de certa maneira, um jogo 5 às avessas, mas os Wings, embora não tenham jogado bem, ficaram bem longe de ser apáticos quanto os Penguins de três dias antes.

O precedente em que os Penguins devem estar apostando agora, mais que o jogo 6, é o confronto das duas equipes em novembro, também em Detroit, uma partida memorável que os Penguins empataram com um gol a menos de meio minuto do que seria o fim de jogo depois de estar perdendo por dois gols de diferença e ainda venceram na prorrogação. Se virmos na sexta-feira um jogo emocionante como aquele, Bettman perde o direito de pedir qualquer coisa ao Papai Noel pelo resto da vida. Mesmo um final emocionante como o do jogo 6 de terça-feira ou o das finais do ano passado já esgotaria o crédito de Bettman com o bom velhinho por anos.

No ano passado, os Wings conquistaram o título na sexta partida, mas viram um último disco, chutado por Marián Hossa (então defendendo os Penguins) não entrar por pouco quando o cronômetro já chegava ao zero, o que teria levado a partida para a prorrogação. Neste último jogo 6, Johan Franzen, a vinte segundos do fim, teve duas chances na boca do gol para empatar a partida, mas viu o defensor adversário Rob Scuderi fazer as vezes de goleiro, o que fez alguns exagerados clamar por seu nome para o Troféu Conn Smythe ou torcer para ele ser o goleiro escalado para o jogo 7. Brincadeira, espero.

É inútil fazer qualquer prognóstico agora para o jogo de sexta-feira. Não faço a menor ideia de quem vai ganhar e os próprios precedentes que citei acima de pouco valerão. Também fugirei de qualquer clichê de que torço por um bom jogo — quer coisa mais óbvia? Vou é sentar na frente do meu computador, com uma boa cerveja na mão, e simplesmente assistir. Sugiro que faça o mesmo. Você não irá se arrepender, porque jogo 7 é jogo 7. E vice-versa!

Alexandre Giesbrecht, 33 anos, foge do clichê, mas realmente torce por um bom jogo.
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Página publicada em 11 de junho de 2009.