Por: Humberto Fernandes

Orgulho. Para quem entrou na temporada com a humilde expectativa de chegar aos playoffs pela primeira vez desde 2002, a palavra que melhor descreve a terceira colocação alcançada é orgulho. O Chicago Blackhawks tinha uma meta, hoje muitíssimo modesta diante da excelente campanha da equipe: o time se classificou aos playoffs e avançou até as finais de conferência, parando apenas nos atuais campeões Detroit Red Wings.

Embora tenham perdido a série em cinco jogos, não se pode dizer que os Blackhawks não foram competitivos. Metade das derrotas veio na prorrogação, assim como a única vitória. Eles provaram que podem enfrentar os Red Wings, só não podem derrotá-los (ainda).

O jovem time do Chicago sofreu contra o Detroit da mesma forma que o Pittsburgh Penguins sofreu na final da Copa Stanley de 2008. Quando os Penguins se deram conta do que estava acontecendo já era tarde demais, a série já estava 2-0 a favor dos Wings. Os Blackhawks levaram uma aula de hóquei no jogo 1, se recuperaram bem no segundo jogo mas nunca superaram o adversário, exceto no primeiro período do jogo 3.

Foi também no jogo 3 que o Chicago deu a maior prova de que o time ainda é imaturo, sem consistência. Quando Niklas Kronwall nocauteou Martin Havlat com um tranco limpo, os jogadores dos Blackhawks sofreram uma lavagem cerebral e a partir daí tudo que pensavam começava com "matar" e terminava com "Kronwall". Eles se esqueceram de jogar hóquei. O defensor sueco foi expulso, então a vingança foi adiada para o jogo seguinte. Os Red Wings reverteram a desvantagem de três gols e empataram o jogo ainda no segundo período e por pouco não viraram o placar. Nem mesmo a vitória na prorrogação daquele jogo foi o suficiente para os Hawks se considerarem vingados.

No jogo 4 os Blackhawks enxergavam cada jogador do Detroit como um alvo contendo o número 55, vestido por Kronwall. Sempre que o jogo era paralisado os atletas se engalfinhavam. Mas os Wings não são galos de briga, ninguém no elenco é adepto do pugilismo. A forma do time de castigar os rivais é através de gols. E a cada gol sofrido os jogadores do Chicago perdiam mais a compostura, chegando ao cúmulo de Kris Versteeg sair do banco de penalidades e cometer outra falta em apenas cinco segundos. Ben Eager, o brucutu, foi expulso do jogo, depois de tanto arrumar confusão.

Os mais de 22 mil torcedores presentes no United Center não mereciam tamanho desrespeito. É evidente que uma meia-dúzia vibrava a cada tranco, a cada penalidade, torcendo por uma briga, mas a maioria se sentia envergonhada pela incapacidade do time de se comportar decentemente. Penalidades e gols se sucediam: Detroit 6-1.

O tenso jogo 5 passou 46 minutos sem gols, mesmo com o domínio absoluto dos Wings, até que Dan Cleary e Patrick Kane movimentaram o placar, levando o jogo para a prorrogação. Coube a Darren Helm, agora um dos ídolos da torcida, executar o Chicago.

E então a primeira experiência de playoffs da garotada dos Blackhawks chegou ao fim. Prevaleceu a experiência e a profundidade do Detroit.

Profundidade parece jargão, clichê, mas é um fator determinante para separar vencedores e perdedores nos playoffs. Sete jogadores do Chicago marcaram gols, no Detroit foram dez. Os Wings perderam no decorrer da série Pavel Datsyuk, Nicklas Lidstrom, Kris Draper e Jonathan Ericsson, além dos já contundidos Andreas Lilja e Tomas Kopecky. Em seus lugares entraram Justin Abdelkader, Ville Leino, Derek Meech e o veterano Chris Chelios. Que outra equipe poderia reparar tantas baixas com jogadores que seriam titulares em qualquer outro time da liga?

Se a torcida do Chicago, no decorrer da campanha, sonhou com algo além da terceira colocação, fica a esperança de uma temporada ainda mais promissora no ano que vem, quando a garotada terá mais experiência e a gerência contará com cerca de US$ 20 milhões para organizar o time. A maior parte do dinheiro será gasta para renovar os principais contratos pendentes — Havlat, Samuel Pahlsson, Dave Bolland, Kris Versteeg e Cam Barker —, mas deve sobrar uma beirada para investir em algum agente livre interessante. O mais importante é que os maiores destaques da equipe já estão contratados e por um valor irrisório. Juntos, Kane, Jonathan Toews, Brent Seabrook e Duncan Keith custarão apenas US$ 11,5 milhões no teto salarial.

Para o Detroit ainda não é hora de pensar na próxima temporada, porque o trabalho não acabou. Segunda final de Copa Stanley em dois anos, novamente contra os Penguins.

O elenco dos Red Wings é praticamente o mesmo do ano passado, com a adição de Marian Hossa. Os Penguins mantiveram a base, a mesma defesa, mas com várias mudanças entre os pontas no ataque. A principal diferença não está na troca de nomes, mas no papel que os principais jogadores do time assumiram, jogando mais tempo e sendo mais produtivos.

Mas a discussão de estratégias e jogadores perde um pouco o sentido quando a NHL está mais para CBF e cospe na Copa Stanley. Por que a pressa de começar as finais no sábado? Por que dois jogos consecutivos no fim de semana? Por que quatro jogos em seis dias?

Tal como cá, é a televisão quem manda. A NBC, que não paga um centavo para transmitir a NHL, impôs o calendário. E Gary Bettman aceitou. O pior é que até o fim do jogo 5 entre Detroit e Chicago a liga não sabia quando as finais começariam. O maior evento do ano não tem data programada até a véspera. Isso é coisa de futebol brasileiro.

Então lá se vai a vantagem de jogar em casa que os Red Wings construíram trabalhando duro durante toda a temporada. Lá se vão dias de jornais e revistas vendendo o hóquei no gelo e o planejamento de TheSlot.com.br, que sempre lançava uma edição a cada jogo das finais.

Se Sidney Crosby estivesse se recuperando de contusão, as finais começariam no sábado?

E se o jogo 1 tiver três prorrogações?

Humberto Fernandes, quando crescer, quer ser igual a Alexandre Giesbrecht.

AP
A Copa Stanley vai começar! Vai? Que dia? Sábado? Não era dia 5? Domingo tem jogo também? Que horas? Como assim?
(28/05/2009)

AP
Bill Daly e Gary Bettman, respectivamente vice e comissário da NHL.
(28/05/2009)

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Página publicada em 28 de maio de 2009.