Interlúdio — Errata Edição 180
São três horas da manhã de um dia qualquer e meu celular toca. Quem poderia me incomodar a essa hora da madrugada? Atendo e ouço a voz do ilustríssimo colunista Eduardo Costa. Emocionado, pergunto:
- Dudu! A que devo a honra?
- Você é um canalha, isso sim!
- Preciso saber, Dudu! Você gostou do meu artigo sobre os Mundiais da IIHF?
- Cínico! Como me faz uma pergunta dessas depois de fazer tamanha besteira? Concerte a idiotice que você cometeu antes que aquele fotógrafo finlandês chato me incomode novamente!
E desligou o telefone. Me perguntando o que eu teria feito para irritar tanto meu ídolo e inspiração jornalística Eduardo Costa, abri a minha edição 180 autografada por Teemu Selanne, folheei, reli, procurei, examinei com uma lupa e não encontrei. Chateado, verificando a lista de campeões mundiais, percebi meu erro! Como pude cometer falha tão terrível? Eu disse que a Finlândia nunca teria sido campeã mundial, ignorando completamente o glorioso Mundial de 1995 onde os finlandeses superaram os suecos em plena Estocolmo!
Para me corrigir com meus colegas finlandeses e para não ser incomodado novamente por aquele fotógrafo, aproveito este espaço para reparar meu erro.
A Finlândia conquistou o ouro em 1995 ao bater a Suécia em Estocolmo na final daquela edição do Mundial. Os torcedores que foram à Globen Arena da cidade sueca assistiram a um baile finlandês, com destaque para os goleadores Timo Jutila e, principalmente, Ville Peltonen, o craque do Florida Panthers que marcou três gols naquela gloriosa final. Os finlandeses esmagaram os suecos por 4-1 e voltaram para casa com seu primeiro e, até agora, único ouro.
Eis a história da poderosa Finlândia no Mundial da IIHF! Tudo bem que eles têm apenas nove medalhas, mas isso não vem ao caso agora.
Feita a correção, vamos ao que interessa: o artigo da semana!
(Fim do Interlúdio)
As divisões inferiores do Mundial da IIHF
Nem só de craques da NHL fora da pós-temporada e de países tradicionais como Suécia, Canadá e Rússia se faz um bom Mundial da IIHF. Diferentemente da FIFA, da FIBA e desses órgãos esportivos internacionais interesseiros, a IIHF se preocupa em atender a seus membros menos favorecidos. Para isso, criou em 1951 o que seria um embrião das divisões inferiores atuais: a Chave B (Pool B) do Campeonato Mundial. A competição, anual, vinha chamando atenção e o interesse das federações em ter suas equipes participando começou a crescer. As primeiras edições do Mundial não valiam vaga na divisão superior, então conhecida por Chave A ou simplesmente Campeonato Mundial. A Itália foi a campeã da primeira edição, em 1951. A Grã-Bretanha, então uma antiga Campeã Mundial, ficou com o Mundial B de 1952 e a Itália venceu as edições seguintes, em 1953 e 1955. A periodicidade do Mundial B alternava, acontecendo hora anualmente, hora com intervalo de dois anos e até intervalo de três anos. Tudo dependia da disponibilidade das equipes "menores" em jogar a competição. Durante a década de 1960, por exemplo, ocorreram casos da Chave A e B serem disputadas simultaneamente na mesma sede, como parte de um mesmo campeonato, acontecendo até jogo de play-off para determina ascensão e descenso. Entre os anos 1950 e
60 nove países diferentes venceram o Mundial: Itália, Grã-Bretanha, Alemanha Oriental, Alemanha Ocidental, Polônia, Iugoslávia, Romênia, Noruega e Japão.
Na década de 1960, mais precisamente em 1961, foi fundada também a Chave C, divisão mais baixa que a Chave B. Era a IIHF cada vez mais interessando ao mundo do hóquei no gelo. A periodicidade da Chave C também era bem quebrada, assim como nos primórdios da Chave B. A Romênia venceu a primeira edição, a Áustria ficou com o ouro em 1963 e em 1966 a Itália faturou o prêmio. O Japão venceu de forma seguida as edições de 1967 e 69, e daí em diante o Mundial C ganhou a periodicidade anual definitiva.
Nos anos 1970 a coisa se organizou melhor. Os Estados Unidos inauguraram a nova década do Mundial B, vencendo a edição de 1970. Até 1975, o Campeonato Mundial era composto por seis equipes, sendo uma emergente do Mundial B. De 1976 em diante, oito equipes passaram a fazer parte do quadro de elite da IIHF. O curioso é que a equipe que emergia do Mundial B em um ano era rebaixada na Chave A no ano seguinte, isso, muito em parte devido à força de União Soviética, Tchecoslováquia e Suécia no Mundial da Chave A.
Ao longo dos anos 70, seis equipes se alternaram na gangorra do Mundial B: Estados Unidos, Suíça, Polônia, Alemanha Oriental, Romênia e uma surpreendente Holanda, fechando uma possível "década de ouro" da IIHF. Interessante é que Holanda emergiu da Chave C em 1978 e em 1979 já pegou o elevador direto para a Chave A — sendo rebaixada na edição seguinte do Campeonato Mundial (em 1981, já que em 1980 não houve Mundial devido aos Jogos Olímpicos). O Mundial C também foi um sucesso. Áustria, Romênia, Suíça, Itália, Noruega, Holanda e Iugoslávia foram as equipes que tiveram o privilégio de vencer uma edição da Chave C numa década em que o hóquei no gelo se densenvolvia tão rápido quanto a economia estadunidense. Esses times, citados nas Chaves B e C, transitaram entre as três divisões ao longo da década, servindo apenas de saco de pancada para os medalhões sempre que se apresentavam na Chave A.
A Chave D e o formato de Divisões
Ao longo dos anos 1980 e 1990, o ritmo não mudou muito entre Chave B e C. A manutenção de oito times na elite fazia com que forças "menores", como os Estados Unidos, sem poder escalar seus melhores atletas profissionais, ficassem sempre à margem da Chave A, tendo que disputar o segundo grupo diversas vezes. O fim dos anos 80 marcou o surgimento de uma nova divisão, conhecida por Chave D. Austrália, Bélgica, Coréia do Sul, Nova Zelândia, todas essas equipes de tradição nenhuma puderam dar a cara nessa divisão baixa, com grupos pequenos e acesso à Chave C relativamente simples.
Em 1992, com a adição de mais quatro times ao grupo principal, equipes como Estados Unidos, Itália e Noruega tinham condições de se manter, aos trancos e barrancos, na Chave A. As Chaves B e C passaram a ser descoberta por equipes desmembradas da antiga União Soviética e Tchecoslováquia, como Ucrânia, Bielorússia, Cazaquistão, Letônia, Eslováquia e Eslovênia. A Dinamarca e a Hungria passaram a figurar melhor nas Chaves inferiores, com os dinamarqueses até chegando a cavar um lugarzinho ou outro na Chave A. Também havia mais espaço para países como a França se inserir melhor no cenário internacional do esporte.
A grande mudança nas divisões de baixo veio na virada dos anos 2000. As Chaves acabaram e deram início ao formato de divisões. Então, o que era Chave A virou apenas Campeonato Mundial, enquanto a Chave B tornou-se Divisão I, a Chave C tornou-se Divisão II e a Chave D virou Divisão III, que seria inaugurada em 2001, mas acabou não acontecendo, tendo estréia apena em 2002.
Os formatos mudaram. O Campeonato Mundial passou a ter 16 equipes, as Divisões I e II 12 equipes, divididas em dois grupos de seis dentro de cada Divisão — logo, surgiu as Chaves A e B da Divisão I, Chaves A e B da Divisão II. As campeãs de cada chave subiam para a série superior, enquanto as duas últimas de cada chave desciam para a série inferior. E o Campeonato Mundial passou a rebaixar dois times. As equipes asiáticas, que não participavam do descenso, passaram a se inserir normalmente nas Divisões, como os demais países.
O interesse cresceu mais ainda e a IIHF criou o qualificatório para que as equipes não inseridas em divisão alguma pudessem disputar uma vaga na Divisão III.
Fazem parte das divisões hoje:
Campeonato Mundial — Alemanha, Bielorússia, Canadá, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Estados Unidos,
Finlândia, França, Itália, Letônia, Noruega, República Tcheca, Rússia, Suécia e Suíça.
Divisão I — Chave A — Áustria, Cazaquistão, Coréia do Sul, Grã-Bretanha, Holanda e Polônia. Chave B — Croácia, Estônia, Hungria, Japão, Lituância e Ucrânia.
Divisão II — Chave A — Bélgica, Bulgária,
Espanha, Espanha, Irlanda, Islândia e Romênia. Chave B — Austrália, China, Israel, México, Nova Zelândia e Sérvia.
Divisão III — África do Sul, Coréia do Norte, Luxemburgo, Mongólia, Turquia e uma vaga para o qualificatório.
Qualificatório —
Armênia, Bósnia & Harzegovina e Grécia.
Os países filiados à IIHF que não disputam nenhuma categoria do Mundial adulto são: Andorra, Argentina, Azerbaijão, Brasil, China Taipei (Taiwan), Cingapura, Hong Kong, Índia, Liechtenstein, Macau, Macedônia, Malásia, Namíbia, Portugal,
Tailândia e Emirados Árabes Unidos.
Plagiando a FIFA, é a IIHF comemorando seu centenário pelo bem do jogo.
Arquivo TheSlot.com.br Sul-africanos em 2005, tomando um arzinho antes da disputa pela Divisão III na altitude mexicana. |
Belacqua Shuah Irlanda: hóquei no gelo com whiskey na Divisão II. |
bbc.co.uk Britânicos no tempo em que eram potência. Hoje não passam da Divisão I. |
ihi.is Os islandeses, sempre vagando entre as Divisões II e III. |