Na última segunda-feira, enquanto boa parte do Brasil se aboletava na frente da televisão para ver o desfile da Unidos da Tijuca, uns poucos abnegados espremiam cada kilobyte de sua conexão à Internet para conseguir assistir ao duelo entre Devils e Penguins. O time de New Jersey ganhou na prorrogação, e, com o resultado, ambos passaram a dividir a primeira colocação da Divisão Atlântico com os Flyers, todos com 63 pontos. Pouco atrás estavam os Rangers, com seus 60 pontos, ainda na briga pelo título da divisão.
Pouco mais de um mês atrás, todos os times do Atlântico estavam em uma briga ferrenha pelo topo. O primeiro colocado chegou a ficar separado do último por coisa de cinco seis pontos, já com metade da temporada tendo se passado, em uma briga digna do Campeonato Paulista, onde Ponte Preta, Noroeste e Ituano disputam para ver em que ordem ficarão atrás do time que não é a antiga Esportiva de Guaratinguetá. No mundo do hóquei, discutia-se se todos os times do Atlântico conseguiriam chegar aos playoffs. Fizemos até um post no blog listando as três vezes que uma divisão colocou todos os seus integrantes na pós-temporada.
O problema é que os Islanders já praticamente caíram fora da briga pelo topo e, se não se reencontrarem, vai ser complicado chegar aos playoffs.
Tentamos até aplacar a ira que os deuses devem ter contra o time de Long Island, colocando sua péssima campanha recente na nossa capa. Parecia uma garantia de que o jogo contra os Penguins, nesta quinta-feira, eles venceriam, afinal deu certo quando colocamos os problemas dos Canadiens na capa. E a maldição pareceu ter funcionado às avessas quando este escriba consultou os resultados e constatou a vitória nova-iorquina por 4-3.
Entretanto, a ira dos deuses foi mais forte do que a nossa maldição, e, ao fazer a pesquisa sobre a classificação da divisão, notei que estranhamente os Penguins constavam com 65 pontos. A minha memória poderia ter, de fato, dado uma engasgada depois da celebração da boa notícia que fez esta edição atrasar mais de um dia, mas as doses de pão líquido ingeridas não foram cavalares, então resolvi voltar à página do jogo: o placar que constava era 4-3 para os Isles, mas dois detalhes chamavam a atenção: (1) eles apareciam como o time da casa, e o jogo foi em Pittsburgh; e (2) na lista dos autores dos gols, só apareciam seis gols, sendo três para cada lado.
Hora de consultar nova fonte e... a sina dos Islanders segue no mínimo até o sábado, quando visitarão o Wild em Minnesota. Kris Letang marcou para os Penguins a pouco mais de três minutos e meio do final do jogo.
O desespero nova-iorquino não começou em 22 de janeiro, mesmo porque em 2006-07 os Isles já tinham perdido cinco partidas consecutivas, mas a data serve para ao menos termos uma idéia da queda. Naquela noite, o time venceu os Hurricanes por 6-3, sua melhor performance ofensiva na temporada. Parecia que o anêmico ataque estava começando a engrenar. Ledo engano. Nas cinco derrotas que se seguiram, os goleiros adversários não sofreram mais que um total de cinco míseros gols. Quando finalmente conseguiram, contra os Pens, meio que desabrochar com três tentos, a defesa sofreu outros quatro e o jogo foi perdido de novo.
O total de gols marcados, 131 em 55 jogos, beira a pateticidade. Desde o Campeonato Paulista de 1991, quando a Ferroviária de Araraquara marcou patéticos 13 gols em 26 partidas, eu não via tanta dificuldade para um time marcar gols. Se a média não for de alguma maneira inflacionada até o fim da temporada, é forte candidata a ser a pior desde o locaute de 2004-05, um feito se considerarmos que a média de gols por jogo da liga subiu depois do lamentável "evento". Rivalizaria com as piores médias da era do disco morto.
Em busca dos motivos de o ataque dos Islanders funcionar tanto quanto as ofensivas do exército francês, a primeira coisa que se faz é olhar para as estatísticas. Bill Guerin, o goleador do time, nem tem um total assim medíocre — hum, talvez tenha, afinal nada menos que cinqüenta e poucos jogadores têm mais gols na temporada —, mas não marca unzinho sequer há oito jogos. O segundo maior goleador e o segundo maior pontuador, respectivamente Mike Sillinger e Miroslav Satan, estão contundidos, talvez uma punição por Satan ter alcançado o 666.º ponto de sua carreira nesta temporada.
O pior é que nem disso a torcida pode reclamar (muito), porque, olhando para cima na tabela, ela tem o "bom" exemplo vindo de Pittsburgh: os Penguins perderam ninguém menos que Sidney Crosby, o artilheiro da temporada passada, e (ainda) não perderam o rumo.
Um outro fator que certamente influi, embora em menor grau, é que poucos times são tão penalizados como os Islanders, que estão entre os cinco times que mais ficaram em desvantagem numérica nesta temporada. É uma simples questão de aritmética: é mais difícil marcar gols quando se tem um ou dois jogadores a menos. Isso sem levarmos em consideração que aumentam as possibilidade de sofrer gols, mas a defesa não é um problema tão grave como o ataque, já que oito times, incluindo dois líderes de divisão, sofreram mais gols.
Também não dá para ignorar o fato de que, as seis derrotas consecutivas à parte, os Isles aind perderam suas sete últimas partidas no Nassau Coliseum, onde ainda não ganharam neste ano. Estivéssemos no começo de janeiro, e seria mais uma estatística irrelevante levantada por algum comentarista que não pensou muito antes de abrir a boca, mas acontece que já invadimos o mês de fevereiro.
São muitos problemas e nenhuma solução no horizonte. Se nem a nossa famigerada maldição funcionou para os Islanders, significa que as coisas estão piores do que se imaginava.