Por: Scott Burnside

Ah, mas essa decepção vai ser difícil de superar. Por dias, talvez semanas, os jogadores do Ottawa Senators vão se lembrar de sua tépida e curiosamente passiva atuação no jogo 5 das finais da Copa Stanley e balançar as cabeças por causa da estranheza que foi essa goleada por 6-2 que acabou com seus sonhos por mais uma temporada.

Mas, com o passar do tempo, as memórias das perdas de disco e penalidades nas horas erradas, das más atuações de seu goleiro e da falta de garra irão desaparecer. E, em seu lugar, haverá um senso de ter chegado aondo vários jogadores de hóquei apenas sonham chegar — perto de conquistar a Copa Stanley.

Ou isso é o que deveria acontecer. Porque um time que por muitos anos foi definido por seu passado não deveria ser definido por um jogo, não quando eles conseguiram tanta coisa.

"É decepcionante, claro", lamentou o central Mike Fisher, do Ottawa, talvez o jogador mais consistente dos Senators nos cinco jogos das finais. "Ninguém gosta de perder. Mas, ao mesmo tempo, conseguimos muitas coisas neste ano. E, no geral, fizemos um bom trabalho nos playoffs."

Nesta primavera, os Senators provaram que as vitórias vêm do aprendizado de duras lições. Eles aprenderam com a adversidade no começo da temporada regular e tornaram-se um dos times mais batalhadores e produtivos na NHL durante a segunda metade da temporada. Eles não diminuíram o ritmo nos playoffs, passando por cima de Pittsburgh, New Jersey e Buffalo, o melhor time da NHL na temporada regular, em três séries de cinco jogos seguidas. Ao fazer isso, eles provaram que descobriram o grande abismo que separa o sucesso na temporada regular da vitória quando realmente importa.

"Não é nada divertido ir embora sem [a Copa Stanley], mas vamos manter nossas cabeças erguidas", garante Fisher. "Nós batalhamos o ano todo."

O problema para os Senators é que eles esbarraram em um time que aprendeu suas próprias lições, tendo chegado às finais da Conferência Oeste um ano atrás, quando perderam para o Edmonton em cinco jogos, e tendo perdido para o New Jersey nas finais de 2003 em sete. Nesta primavera, os Ducks flertaram com suas próprias tendências auto-destrutivas, mas foram fortes demais para os Senators, que pareciam ter sua vida arrancada de seus corpos com o jogo físico incansável do Anaheim.

Se há um lado positivo para os Senators, é que eles agora têm uma visão do alto do que é necessário para dar esse último passo.

"Acho que vamos aprender com isso", disse o capitão Daniel Alfredsson, que, ainda que por um curto tempo, conseguiu manter sozinho seu time no jogo decisivo de quarta-feira. "Não sei se vou ter outra chance de chegar aqui, mas sei que, quando você tem a chance de disputar jogos importantes, você aprende com essa experiência na próxima vez. Espero que esse seja o caso para nossos jovens."

Neste nível dos playoffs, o jogo é tão importante entre as orelhas do que no gelo. Os Senators nunca pareceram estar com suas cabeças no lugar certo para competir neste nível. Muitos vão se lembrar do intervalo de nove dias que precedeu o início das finais. Isso é parcialmente verdadeiro, mas não para a parte física da coisa, como timing, condicionamento físico ou algo do tipo. Não. Os Senators passaram nove dias sendo festejados pela imprensa e pela torcida, sendo lembrados o tempo todo de quão bons eles eram. E, depois de os Ducks despacharem o Detroit Red Wings em seis jogos, o sentimento prevalecente era de que os Ducks tinham falhas demais e os Senators de menos, e o Ottawa venceria confortavelmente a série.

Talvez eles tenham começado a acreditar e pararam de trabalhar. Isso nunca foi mais evidente do que na quarta-feira, no quinto e último jogo desta série.

O técnico Bryan Murray misturou suas linhas de ataque, em um esforço para gerar mais jogadas ofensivas, e, mesmo assim, os Senators deram apenas três chutes a gol no primeiro período e cinco no segundo, terminando o jogo com anêmicos 13 chutes no total. Eles cometeram três penalidades nos seis primeiros minutos de jogo, e os Ducks tiraram proveito, abrindo o placar um segundo depois de uma breve vantagem de dois homens ter expirado. Os Senators não apenas deixaram de gerar jogadas ofensivas, eles também deixaram de competir durante boa parte da metade do jogo e parecia que eles perdiam todas as disputas pelo disco.

Só quando Alfredsson diminuiu a vantagem dos Ducks para 2-1, no meio do segundo período, é que os Senators demonstraram mais vitalidade; mas cada vez que eles pareciam prontos para testar os Ducks, outro erro ou gafe estragava seus planos.

Como a decisão inexplicável de Chris Phillips, que, atrás do gol do Ottawa, colocou o disco à sua frente antes que Ray Emery tivesse voltado à sua área; o disco bateu no patim do goleiro e entrou, restaurando a vantagem de dois gols dos Ducks menos de dois minutos depois do primeiro gol de Alfredsson. Depois, quando Alfredsson, com uma atuação inspiradora em um oceano sem inspiração, marcou um gol em desvantagem numérica, diminuindo o placar para 3-2, os Ducks responderam com um gol em vantagem numérica e mais uma vez restauraram sua vantagem de dois gols, com Christoph Schubert no banco de penalidades por uma cotovelada descuidada.

E não parou por aí.

Quando Antoine Vermette cobrou um pênalti a 12:37 do final do terceiro período, ele não conseguiu sequer chutar a gol. O disco rolou sozinho de seu taco quando ele tentou driblar o goleiro do Anaheim, Jean-Sébastien Giguère. Se Vermette tivesse tido sucesso, ele deixaria os Senators a dois gols do empate.

No final, os melhores jogadores dos Senators não tiveram gás o bastante. Dany Heatley e Jason Spezza fizeram uma série final horrível, o que fez com que Murray separasse a linha mais potente do time nas três primeiras fases dos playoffs. O defensor Wade Redden fez uma final digna de pesadelo e jogou mal durante boa parte da pós-temporada. Emery sofreu seis gols em 18 chutes no jogo 5, quando a situação desesperadora do time pedia muito, mas muito mais de seu goleiro.

"Acho que, em termos de posições, eles jogaram melhor do que nós", reconheceu Murray. "Na defesa em particular. É o objetivo deles ser um time realmente forte na defesa. Mas eu ainda acho que alguns de nossos jogadores não jogaram o que estavam jogando nos playoffs. E acho que isso é o mais decepcionante."

Mas isso significa que eles não são bons jogadores? Ou que eles não vão aprender com isso? Não. Na verdade, é possível que esta experiência algum dia forneça a base para uma conquista da Copa Stanley.

É só que agora ainda não dá essa impressão.

"Esperei por muito tempo para ter uma chance de treinar um time nas finais, e fiquei decepcionado que não tenhamos conquistado o título", disse Murray, no seu segundo ano no comando do Ottawa. "Chegamos aqui porque o time tem caráter. Não sei se éramos o melhor grupo, mas jogamos duro e fomos muito disciplinados ao longo dos playoffs no Leste."

"Eu gostaria de ter desculpas para eles", completou Murray, "mas não há nenhuma que eu consiga inventar neste instante, além de parabenizar o Anaheim, porque eles fizeram o que precisavam fazer para ganhar."

Scott Burnside é jornalista do site ESPN.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 8 de junho de 2007.