Por: Michael Farber

Se o Ottawa Senators, capacho do destino na NHL, precisam de um bode expiatório para seus fracassos nos playoffs, a tocha foi passada do capitão Daniel Alfredsson para o azarado defensor Chris Phillips.

Aqui é a Califórnia, então dave haver algum carma, daqueles nada bons para o estimado Phillips. Mas antes de voltarmos à desordem que foi a capitulação por 6-2 ante o Anaheim no jogo 5, que encerrou os playoffs da Copa Stanley, vamos voltar alguns dias no tempo. No jogo 4, Phillips quebrou a lâmina de seu patim no terceiro período. Quando colocou seu par reserva, uma das lâminas não tinha sido propriamente afiada. Ele patinou rápido para fora do gelo depois de uma curva, mas o também defensor Wade Redden não estava preparado para a rápida troca, e Teemu Selanne passou voando pelo defensor antes de dar de presente para Dustin Penner o gol da vitória em um jogo importantíssimo para a série.

Mas ao menos esse lance de má sorte foi camuflado pela confusão no banco do Ottawa — ao contrário da crise em rede nacional no jogo 5, quando não havia produto na Bahia para "fechar o corpo" de Phillips:

• No gol que abriu o placar para os Ducks, de Andy McDonald, o disco desviou no patim de Phillips.
• No segundo gol, de Rob Niedermayer, Phillips avançou erroneamente na linha azul dos Ducks, e Niedermayer seguiu pela ponta e marcou de backhand.
• É claro, esses dois lances foram fichinha perto da gafe Buckneriana du jour — conhecida na NHL como Momento Steve Smith.

Com o Ottawa perdendo por 2-1, Phillips estava atrás do seu próprio gol, perseguido por Rob Niedermayer. Niedermayer esticou o braço e, com o taco, deu um pequeno toque no de Phillips quando o defensor estava passando o disco para o backhand, fazendo com que ele mandasse o disco contra o patim de Ray Emery e — glup — para dentro do gol.

Para Phillips, foi o único gol (ou ponto) que ele marcaria nos playoffs.

"Agora eu sei como Steve Smith se sentiu", lamentou Phillips, citando o ex-defensor do Edmonton que acertou um disco no patim do então goleiro dos Oilers, Grant Fuhr, e dali para dentro do gol, marcando o gol contra da vitória em um jogo 7 contra o Calgary Flames, em 1986, um erro que efetivamente interrompeu a dinastia dos Oilers. "Eu estava tentando tirar [o disco] e ir para o outro lado, e ele pegou no [patim de Emery] e eu não consegui pegá-lo de volta."

"Aquilo foi, acho, o Edmonton Oilers, Steve Smith, um bom tempo atrás", tentou se lembrar o técnico do Ottawa, Bryan Murray. "Prejudica o seu time."

A grande pena é que Phillips e seu parceiro, o vigoroso Anton Volchenkov, geralmente foram soberbos nos playoffs. O par durão é o melhor da Conferência Leste — e isso, talvez, seja a melhor e mais completa explicação para o triunfo dos Ducks em cinco jogos, o que tornou o Anaheim a 19.ª franquia a vencer a Copa desde que a NHL assumiu o controle dela em 1927. Esqueça por um instante que Emery, fora seu trabalho brilhante na derrota por 1-0 no jogo 2, jogou sem muita técnica ou brio ou que Jason Spezza e Dany Heatley poderiam ver seus cards impressos nas laterais das caixas de leite durante as finais ou que Phillips, um jogador de classe, marcou um gol estranho que vai viver na memória do hóquei por muito mais tempo do que merece.

A diferença pode ser simples como Leste e Oeste.

Os Ducks foram testados em batalhas, jogando em uma divisão melhor que a do Ottawa e certamente em uma conferência melhor. O Oeste simplesmente é maior e mais duro, o tipo de hóquei que passou a existir na NHL pós-locaute e que vai continuar a existir enquanto os jogadores estiverem dispostos a perder dentes em busca de um pedaço de borracha vulcanizada. Ao invés dos times menores e mais técnicos que os Senators precisaram bater nas duas últimas fases (New Jersey, depois Buffalo) para chegar à final, o Anaheim teve de agarrar com unhas e dentes sua vaga, passando por times mais imponentes, incluindo o Detroit. Realmente, o Ottawa provavelmente não seria melhor que o quarto ou quinto melhor time no Oeste, atrás de Ducks, Red Wings, San Jose e talvez Nashville. Se estas finais abreviadas são prova de alguma coisa — além da eterna importância de um bom goleiro —, elas destacaram atributos como tamanho, velocidade e intimidação. No único jogo que os Senators venceram, o jogo 3, eles deram o troco fisicamente e forçaram os Ducks a atuar com cuidado. No resto do tempo, os Senators foram piñatas, levando cacetadas da linha de tranco de Samuel Pahlsson, Travis Moen e Niedermayer e geralmente sendo controlados pelos grandes zagueiros do Anaheim, como François Beauchemin, Scott Niedermayer e, quando não era arrastado até a diretoria, Chris Pronger.

O Ottawa não pode mudar a geografia, mas o gerente geral John Muckler e Murray podem continuar a mudar a química do time. Eles sucederam, em grande parte, na transformação dos ex-pomposos Senators em um time batalhador, mas no fim eles ainda foram dominados por um time mais incansável que bateu neles em dois fusos horários diferentes.

Chris Phillips, você só calhou de estar no time errado na hora errada.

Michael Farber é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 8 de junho de 2007.