"No centro do gelo" é uma compilação de comentários sobre assuntos variados que ocorreram nos últimos dias na NHL.

Escrever sobre vários temas é a artimanha ideal para quando você está próximo do horário de fechamento da edição e não tem uma grande idéia em mente.

O dedo de Kovalchuk

Ilya Kovalchuk lidera a liga em gols, em gols em vantagem numérica e é o segundo maior artilheiro até o momento, atrás apenas de Jaromir Jagr. Com uma diferença: o russo perdeu toda a pré-temporada e os três primeiros jogos de sua equipe envolvido em disputas contratuais.

Kovalchuk é sinônimo de gols. Marcou nove nos últimos cinco jogos, 32 na temporada. Faltam nove para igualar seu recorde pessoal da temporada 2003-04, que lhe valeu inclusive o prêmio de goleador da NHL.

Na sexta-feira, em Atlanta, os Thrashers receberam a visita do Pittsburgh Penguins, liderado pelo calouro-sensação Sidney Crosby. No primeiro período, Kovalchuk acertou um tranco por trás em Crosby, que retaliou e foi penalizado por slashing. Não se pode dizer que os donos da casa não aproveitaram esta oportunidade, já que marcaram no exato momento em que a penalidade expirou. No segundo período Crosby novamente cometeu um slashing e Kovalchuk desferiu um daqueles seus chutes para ampliar o placar para 5-0.

Kovalchuk não se conteve e na comemoração apontou o dedo para Crosby, que saía do banco de penalidades. "Ele cometeu uma penalidade estúpida", disse o russo. "Ele tem apenas 18 anos e vai aprender que não se pode fazer isso". Dias depois, o goleador da liga mudou o discurso e declarou que "Não é nada pessoal, ele é um bom jogador. Foi apenas emoção".

Don Cherry, citado na minha coluna sobre a seleção canadense na edição passada por ter criticado Crosby e os Penguins, desta vez atirou em Kovalchuk. "Eu já vi muitas coisas na vida, mas eu nunca tinha visto um cara apontar outro no banco de penalidades", disse Cherry. "Alguém deveria ter quebrado seu braço, mas não fizeram isso".

O imbróglio acordou os Penguins, que encostaram em 5-4 no placar, mas Kovalchuk completou seu hat trick em rede vazia no último minuto. No dia seguinte as duas equipes voltaram ao gelo, desta vez em Pittsburgh. Nova vitória dos Thrashers, por 4-3, com mais dois gols de Kovalchuk. Crosby deu duas assistências e foi penalizado quatro vezes, sendo uma por se atirar no gelo deliberadamente e outra por gesticular contra o árbitro que pegou seu "mergulho".

Será que Kovalchuk não tinha razão? Crosby é o vice-líder dos Penguins em minutos de penalidades, com 60, um minuto atrás de Brooks Orpik. Ocupa a 50.ª posição geral na liga no quesito, o que não é muito adequado para um calouro como ele.

Tampa Bay desiste de Andreychuk — e uma curiosidade sobre o ACT

A carreira de Dave Andreychuk, capitão do Tampa Bay Lightning e um dos maiores jogadores da história da NHL praticamente chegou ao fim, a menos que alguma equipe da liga resgate o jogador de 42 anos após a desistência oficial do Lightning.

Em 42 jogos na temporada, Andreychuk marcou seis gols e 18 pontos, atuando pouco mais de 13 minutos por noite. Sua importância se dava pela liderança dentro da equipe, junto aos jovens craques, sendo o auge a conquista da Copa Stanley em 2004.

Andreychuk era carta fora do baralho do Lightning há semanas, sendo até barrado em um jogo. Na "nova NHL" não há espaço para o jogador, como bem declarou o gerente-geral Jay Feaster. "Não é um erro de Dave Andreychuk nem um erro do time. O mundo mudou".

O mundo mudou, o acordo coletivo de trabalho mudou, mas pelo visto as cabeças que dirigem a liga não acompanharam as mudanças. Está lá: todo jogador acima de 35 anos que assinar contrato por mais de uma temporada terá seu salário constando no teto salarial da equipe mesmo que ele não cumpra o contrato até o final, não importa por qual motivo. Mesmo que ele se aposente ou pegue carona numa nave espacial alienígena com um extraterrestre disfarçado de ator desempregado.

Ou seja: o Lightning pagará para Andreychuk não jogar esta temporada e este dinheiro não contará no teto salarial, porque o jogador terá seu nome ligado ao afiliado menor da equipe, por causa da desistência. Ao fim da temporada o ex-capitão se aposentará e na próxima o Lightning não terá que pagar seu salário mas o dinheiro contará no teto. São 662 mil dólares a menos para gastar na equipe do ano que vem.

E acredite: há quem tenha feito pior. O New Jersey Devils não contará com 7,1 milhões de dólares para montar o elenco versão 2006-07, a menos que consiga um gerente-geral idiota o suficiente para assumir os contratos de Alexander Mogilny, ex-jogador em atividade, e Vladimir Malakhov, recém-aposentado.

Os veteranos que se cuidem, porque com estes exemplos será quase impossível conseguir um contrato maior que um ano na próxima entresafra de jogadores.

Para inglês ver: Theo Fleury

Quem acompanha a NHL há alguns anos se lembra do pequenino Theoren Fleury, jogador que atuou por 15 temporadas na NHL, entre 1988 e 2003, com passagens por Calgary Flames, Colorado Avalanche, New York Rangers e Chicago Blackhawks.

Fleury, com 1,68m, marcou 455 gols e 1.088 pontos em 1.084 jogos em sua carreira na NHL, encerrada em 2003, quando o jogador foi assistido de perto pela liga por seu problema com as drogas, principalmente o álcool.

Longe da NHL, mais precisamente na Inglaterra, Fleury prossegue sua carreira, atuando pelo Belfast Giants da Liga Britânica de Hóquei. Em 22 jogos na temporada o jogador marcou 12 gols e 45 pontos, além de liderar o time em minutos de penalidades, com 131. Os Giants estão em primeiro na classificação, com 47 pontos em 30 jogos.

No domingo os Giants visitaram o Coventry Blaze e Fleury voltou a aprontar das suas. Enquanto o jogador cumpria uma penalidade, a torcida adversária começou a provocá-lo gritando logo acima do banco. O pequenino não mediu esforços e tentou brigar com alguns torcedores, sendo expulso da partida pelo árbitro.

Foi uma partida muito conturbada, sendo que os jornais locais destacam que a segurança teve de ser chamada ao banco de reservas dos Giants diversas vezes. O Blaze venceu o jogo por 3-0. Foi a segunda derrota da equipe de Fleury nos últimos dois meses.

O comunicado oficial do Blaze procurou esclarecer os fatos e deixar claro que Fleury será bem recebido em três semanas, quando as equipes novamente se enfrentam em Coventry. A escolha das palavras empregadas no texto chamaram a atenção. Começa assim: "O passado de Theo Fleury está bem documentado, mas nós acreditamos que deve ser permitido que ele jogue hóquei sem ter seus problemas pessoais sondados ". Quer dizer que 'sabemos o que ele fez porém não vamos falar nisso, ok'? E depois: "Esperamos que ele seja grande o suficiente para perceber que ultrapassou os limites". Grande definitivamente ele não é.

E-mail do leitor

No sábado o leitor Thiago Leal, de João Pessoa, enviou-me um e-mail questionando a maneira como escrevo sobre Crosby. Para Thiago, parece que eu "pego muito pesado" com o garoto de Pittsburgh, que faz coisas inimagináveis para alguém que tenha 18 anos.

A minha crítica na edição passada não era a Crosby, mas sim à direção dos Penguins. Onde já se viu um calouro de 18 anos ser assistente de capitão de uma equipe que conta com tantos veteranos? Ele definitivamente não tem nada, mas nada mesmo a dizer nos vestiários. E é papel do assistente de capitão discutir com árbitros e ao meu ver não pega bem alguém como ele, um calouro tão bem visto no mundo do hóquei, se envolver com arbitragem.

Crosby é um fenômeno com o taco na mão e no futuro será o capitão dos Penguins, se esses existirem até lá. Mas ele ainda não está pronto e nem é o jogador ideal do time para assumir esse posto.


Humberto Fernandes recomenda a leitura de "O Guia do Mochileiro das Galáxias", de Douglas Adams, além de sua sequência: "O Restaurante no Fim do Universo", "A Vida, o Universo e Tudo Mais" e "Até Mais, e Obrigado Pelos Peixes".
POLÊMICO Ilya Kovalchuk não imaginava a confusão que causaria ao apontar um dedo para Sidney Crosby — e nem era aquele dedo do meio. Foi durante a comemoração de um de seus 32 gols na temporada. (Susan Walsh/AP - 01/01/2006)
SUA MELHOR IMAGEM Esta deve ser a imagem favorita de Dave Andreychuk, número um na história da NHL em gols marcados em vantagem numérica. Andreychuk levantou a Copa Stanley em 2004 com o Tampa Bay Lightning e agora deverá encerrar sua carreira. (Gene J. Puskar/AP- 07/06/2004)
PEQUENINO Quando se trata de Theo Fleury, até a foto é pequena! O baixinho arrumou confusão até na Liga Britânica de Hóquei! (Arquivo TheSlot.com.br)
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Página publicada em 11 de janeiro de 2006.