Dois jovens jogadores que são parte importante do futuro da liga, competitivos ao extremo. Dividindo o mesmo gelo, era de se esperar um grande jogo. Não troca de ofensas.

Um desses jovens é Sidney Crosby, estrela ainda em as-censão dos Penguins. Com isso, era de se esperar que o outro fosse Alexander Ovechkin, dos Capitals, com quem Crosby tem sido comparado desde antes de a temporada começar. Mas, não, não é de Ovechkin que estou falando (ouve-se gritos de alegria ao fundo: "Viva, não é mais um artigo de 'Crosby x Ovechkin'!).

A outra jovem estrela é Ilya Kovalchuk, goleador dos Thrashers — e da NHL —, com 32 gols. Um oitavo deste total foi marcado no último fim de semana, na série de duas partidas contra os Penguins de crosby. A princípio, nada de mais, já que era o goleador da liga fazendo a festa contra a pior defesa.

Mas os dois jovens protagonizaram um duelo à parte, que teve pouco a ver com gols e assistências, e muito a ver com um esguicho imaturo de testosterona dos dois candidatos a galo de briga. Atlanta e Pittsburgh jogaram duas partidas entre sexta e sábado, uma em cada cidade, ambas vencidas pelos Thrashers. Depois de um tranco por trás de Kovalchuk, aos 8:27 do primeiro período do primeiro jogo, Crosby reta-liou e foi punido por slashing. Visivelmente contrariado com o tranco e, especialmente, com a penalidade, deixou clara sua indignação, com palavras e gestos direcionados a Kovalchuk.

"Eu retaliei", confirmou Crosby. "Fui eu que [os árbitros] viram fazer o slashing. Ninguém o viu fazendo cross-checking."

Os dois ainda trocariam olhares de reprovação, junto com mais pala-vras e empurrões, até que Kovalchuk deixou as coisas ainda piores no fim do segundo período. Depois de vencer o goleiro Marc-André Fleury com uma bomba do topo do círculo esquerdo aos 18:04, fazendo 5-0 (o jogo terminaria 6-4, e Kovalchuk ainda completaria um hat trick), o russo seguiu na direção do banco de penalidades dos Penguins, onde Crosby servia outra penalidade por slashing, e apontou diretamente para ele.

Da parte de Crosby, nada de surpreendente. Além de ainda ser prati-camente um adolescente, ele já tem um histórico na NHL de reclamão, por repetidas vezes entrar em atrito com árbitros. Isso já se reflete em suas estatísticas pessoais: é o segundo jogador mais penalizado no elenco do Pittsburgh, com 60 minutos de penalidade, atrás apenas do defensor Brooks Orpik, que tem um minuto a mais.

De natureza extremamente competitiva, Crosby frusta-se facilmente quando as coisas não dão certo, especialmente se elas não deram cer-to por causa de algum defensor exagerando nos ganchos com o taco e outras táticas que deveriam ser mal-vistas pelos árbitros. É, como era previsto, os homens de preto e branco já relaxaram na hora de conter o agarra-agarra que assola o gelo. É verdade que o relaxamento não é tão acentuado como foi nas outras vezes, mas já dá para notar que os defensores sem talento estão levando vantagem por mais vezes contra as estrelas.

Ainda assim, isso não justifica o fato de Crosby latir para todos os la-dos o tempo todo, principalmente porque isso não começou depois do relaxamento; já vem desde o início da temporada.

Já da parte de Kovalchuk, a coisa é um pouco diferente. A três meses de completar 23 anos, ele deveria demonstrar um maior amadurecimen-to. Depois do primeiro jogo, não mostrava arrependimento algum: "[Crosby] sofre essas penalidades estúpidas o tempo todo e, como um garoto de 18 anos, ele não pode jogar assim. Se ele quer jogar duro, nós dois podemos jogar duro. Ele pode finalizar seus trancos. Mas ele ainda não é um Mario Lemieux."

As críticas não vieram apenas do vestiário do adversário — "Eu não acreditava no que estava vendo", disse John LeClair, ponta dos Pens. "Fiquei realmente surpreso. Um jogador tão bom não precisa fazer esse tipo de coisa." —, mas do seu próprio técnico também, que disse que não gostou do que Kovalchuk fez e avisou-o disso. O capitão do time, Scott Mellanby, também conversou com ele. Tanto é que no dia se-guinte o tom mudou: "Foi só a emoção do momento, nada pessoal. Ele é um grande jogador e estava tentando ajudar seu time a ganhar o jo-go assim como eu."

Crosby preferiu não causar mais polêmica e disse simplesmente que "se ele quis fazer aquilo ele pode fazê-lo". No dia seguinte, quando pergun-tado se estaria disposto a brigar, disse que não era algo que ele planejava, "mas nunca se sabe".

Para o técnico de qualquer time, é indesejável ver jogadores se envol-ver nesse tipo de rixa, porque eles perdem um elemento do controle quando jogadores se deixam levar por algo pessoal, especialmente se se tratam de jogadores-chave. Agora, a torcida adora esse tipo de coisa. É mais uma faísca que adiciona à NHL algo de que ela precisa enquanto ainda está trabalhando para trazer torcedores de volta ao mundo do hóquei.

Quando dois jogadores jovens, atrevidos e talentosos, tentam ajudar seus times a vencer tentando provar quem é mais macho (ou mais criança), a torcida vai à loucura. É como nos tempos em que Tie Domi era bem mais jovem e levantava um cinturão imaginário de campeão de boxe ao nocautear alguém ou quando Dave "Tiger" Williams montava em seu taco para comemorar um gol ou provocava o banco adversário inteiro antes e/ou depois de uma briga.

Talvez as desavenças entre Crosby e Kovalchuk não tenham uma con-tinuação na próxima vez que Atlanta e Pittsburgh se enfrentarem — o que só deve acontecer na próxima temporada, já que é extremamente improvável que os Penguins consigam chegar aos playoffs —, mas já têm um lugar no anedotário desta temporada. Não chegam a ter o pe-so histórico de um eterno "hat trick de Gordie Howe" (um gol, uma as-sistência e uma briga no mesmo jogo), mas já servem para dar mais uma injeção de ânimo num esporte que um ano atrás estava confinado a arenas de ligas menores, mas que está se recuperando rápido como ninguém ousava imaginar.

Com as declarações de ambos os lados, no segundo jogo a rixa pessoal não chegou à flor da pele, apesar das trocas de olhares ainda meio animosas. Crosby voltou a sofrer com sua fama, mas não teve nada a ver com Kovalchuk. Ele recebeu uma penalidade por se jogar quando foi enganchado pelo defensor Niclas Havelid.

"Fiquei surpreso com aquela decisão", lamentou o técnico dos Pens, Michel Therrien. Ele destacou que Crosby estava indo em direção ao gol em alta velocidade quando Havelid o enganchou com o taco e que é muito mais fácil fazer um jogador perder o equilíbrio quando está rápido assim.

Crosby disse que só caiu depois que o taco de Havelid acertou-o no rosto: "Eu não posso controlar se um taco me acerta no rosto e eu caio. Acho que tenho de ser mais durão, então." Havelid desconver-sou quando perguntado se Crosby mereceu a penalidade por se jo-gar, dizendo que, "se o juiz marcou, você tem de acreditar nele".

Bem, o técnico dos Thrashers, Bob Hartley não acreditou. Na hora de responder se ele achava que Crosby tinha se jogado, sua res-posta foi: "Não posso dizer que sim." (A.G.)

Alexandre Giesbrecht, publicitário, tirou uma fagulha (!) de seu olho esquerdo.
BRIGA DE GALOS Ilya Kovalchuk aponta para Sidney Crosby depois de marcar (Scott Cunningham /Getty Images - 06/01/2006)
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Página publicada em 11 de janeiro de 2006.