Michel
Therrien é o 19.º técnico dos Penguins desde que o time foi fundado,
em 1967. Não é um número tão alto assim, especialmente se compararmos
com técnicos do futebol brasileiro — como meu chapéu se o Flamengo,
por exemplo, teve menos de 38 técnicos nesses 38 anos —, mas comparando
com os outros times da cidade a coisa muda de figura.
Os Pirates, da liga de beisebol, tiveram apenas nove técnicos
nesses mesmos 38 anos. Já os Steelers, da liga de futebol americano,
tiveram menos ainda: apenas três. Isso mesmo, três.
Ou seja, só na última década, os Penguins tiveram mais técnicos
(seis, sem contar Therrien) que os Steelers em quase quatro décadas.
E esses seis não tinham lá tanta coisa assim em comum. Quatro
eram ex-jogadores da NHL (Ed Johnston, Ivan Hlinka, Rick Kehoe
e o recém-demitido Eddie Olczyk); dois, não (Kevin Constantine
e Herb Brooks). Três tinham experiência anterior como técnicos
na liga (Johnston, Constantine e Brooks); três, não. Um aprendeu
o jogo na Europa (Hlinka), três no Canadá (Johnston, Kehoe e Olczyk)
e dois nos EUA (Constantine e Brooks). Dois tinham campanhas acima
de 50% quando foram demitidos (Johnston e Constantine); quatro,
não.
Agora chegou o sétimo técnico dos últimos dez anos, Therrien.
Como ele se encaixa nas divisões citadas? Nunca chegou à NHL como
jogador, tinha experiência anterior como técnico na NHL e aprendeu
o jogo no Canadá. se, quando ou com que campanha ele será demitido
ainda não é possível saber.
Entre os técnicos citados, o que tem o estilo mais parecido com
o de Therrien é Constantine, que nunca chegou a voltar à NHL,
mas ficou famoso em Pittsburgh e em San Jose por exigir sempre
o máximo de seus jogadores e também por submetê-los a intermináveis
sessões de vídeo com jogos anteriores, destacando com ênfase os
erros.
Therrien não deverá recorrer com tanta freqüência ao vídeo, mas
costuma destacar os erros do time, até publicamente, como costumava
fazer em Wilkes-Barre, terra do time de baixo dos Penguins, que
ele estava levando à quase perfeição na AHL, com uma campanha
de 21-1-2-1. Para um time de que se esperava muito, mas pouco
tem conseguido em termos de resultados, o "homem que usa o chicote",
como definiu o jornal Pittsburgh Post-Gazette, parece ser a pessoa
certa para o trabalho. Um bom sinal disso é que praticamente todos
os jogadores que trabalharam com ele em Wilkes-Barre acreditam
que ele foi uma boa escolha. Um sinal melhor ainda é que o técnico
a que ele substituiu pensa da mesma maneira.
"Ele vai fazer um grande trabalho", opina Olczyk. "Ele tem um
grande conhecimento." Não que Olczyk não tivesse, claro. Mas Therrien
vai encarar seu novo trabalho de forma diferente que seu antecessor.
Olczyk sempre lidou com seus jogadores de forma afável, chamando
a responsabilidade — e, muitas vezes, a culpa — para si, ao invés
de expor seus jogadores. Therrien, por outro lado, é tão agradável
quanto um pit-bull com dor de dente quando algum de seus comandados
faz alguma jogada errada ou tem um lapso mental.
"Ele exige muito de todo mundo", lembra o ponta Matt Murley, que
foi treinado por Therrien na AHL por dois anos. "Se você não fizer
o que ele espera, ele vai avisá-lo."
A armadilha da zona neutra é um dos pilares do sistema de jogo
que Therrien pretende implantar em Pittsburgh, mas jogadores que
trabalharam com ele em Wilkes-Barre são rápidos ao afirmar que
o técnico não vê o esquema como apenas defensivo. Para ele, chances
de ataque podem ser criadas com esse sistema.
"Nós vamos marcar em todo o gelo", explica Murley. O sistema também
é ofensivo, porque vamos forçar erros do adversário. Quando conseguimos
isso, com o talento que temos, ele nos dá liberdade no ataque."
Therrien herdou um time com campanha de 8-17-6, pior na conferência
Leste e 13 pontos atrás do oitavo colocado na conferência. A situação
não melhorou muito nos dois jogos em que Therrien comandou os
Penguins: duas derrotas para os sabres por 4-3, sendo uma na prorrogação.
Agora, a campanha está em 8-18-7, o time não está mais em último
na conferência (está um ponto à frente dos Caps), mas a distância
para o oitavo colocado aumentou para 14 pontos.
Aos 42 anos, Therrien se considera um pragmático — "não sou um sonhador,
sou um cara com os pés no chão." — e se recusou a prever se os Penguins
conseguirão voltar ao bolo dos que brigam por uma vaga nos playoffs.
Não se sabe ainda se os rumos do time vão mudar, mas a rotina,
pelo menos, já mudou. Até a semana passada, quando o time treinava
no Island Sports Center, em Neville Island, a poucos quilômetros
de Pittsburgh, cada jogador ia direto para lá, trocava-se para
o treino, treinava, trocava-se de novo e voltava para casa.
Desde que Therrien assumiu, quando o time tem treino marcado para
o Island Sports Center o "script" mudou para: dirigir até a Mellon
Arena, casa do time, trocar-se, embarcar em um ônibus fretado
com destino ao local de treinamento, treinar, voltar ao ônibus
para o retorno à Mellon Arena, fazer um condicionamento fora do
gelo por lá e, finalmente, voltar para casa.
Ele pede muito de seus jogadores, mas garante que não é nada de
absurdo, não mais do que eles possam dar. "Eu não exijo que um
cara marque dois gols ou três gols", explica. "O que eu exijo
é que, se você tem um dólar no bolso, você me dê um dólar. Se
tudo o que você tiver forem 50 centavos, dê-me seus 50 centavos,
e estará tudo bem."
É, parece que a vida mansa acabou.
Espera-se que a fase de derrotas também tenha acabado.
Alexandre Giesbrecht, 29 anos, ficou absolutamente eufórico com o título mundial do São Paulo.
NOVO "PROFESSOR" O novo técnico dos Penguins, Michel Therrien, explica o que quer do time em seu primeiro treino (John Beale/Pittsburgh Post-Gazette - 15/12/2005)