O
que mudou: a comissão técnica.
Após duas temporadas como treinador, Dave Lewis foi demitido,
por não “mexer” com o elenco como a gerência
gostaria que ele o fizesse. Ken Holland entendeu que para um momento
de mudança na liga nada melhor que mudar também
a mentalidade da equipe. E para isso contratou Mike Babcock, ex-treinador
do Mighty Ducks of Anaheim, que preferiu juntar-se aos Red Wings
a permanecer na Califórnia.
Lewis esteve no banco dos Wings durante 17 anos, entre 1988 e
2005. Como treinador venceu 96 jogos e um Troféu dos Presidentes,
sendo eliminado precocemente em ambas as temporadas: em 2003 para
os Ducks de Babcock e em 2004 para o vice-campeão Calgary
Flames.
Seu estilo de “embaixador da ONU em uma nação
africana” contrastou significativamente com a maneira como
Scotty Bowman lidava com a equipe, e então o fardo de substituir
o maior vencedor da história do esporte pesou nos ombros
de Lewis.
Chegam a Detroit o já conhecido Babcock e seu estilo de
jogo agressivo e veloz, como aquele surpreendente Anaheim de 2003
e como o Cincinnati Mighty Ducks de anos anteriores, quando Detroit
e Anaheim dividiam o mesmo afiliado menor na American Hockey League.
Os assistentes de Babcock serão Paul MacLean e Todd McLellan.
O primeiro tem passagem pelos Red Wings como jogador, na temporada
1988-89, quando, ao lado de Gerard Gallant e Steve Yzerman, cravou
o recorde de gols e pontos marcados por uma única linha
em uma temporada em Detroit. Já McLellan era o treinador
do Houston Aeros da AHL, campeão em 2002-03. MacLean é
parceiro de Babcock há duas temporadas. Opinião: mudou para melhor.
O que não mudou: a base do elenco.
A base do elenco é a mesma de várias temporadas,
embora a cidade tenha se despedido do inesquecível Darren
McCarty e do versátil Mathieu Dandenault - ambos estiveram
presentes nas três Copas Stanley vencidas por Detroit nos
últimos tempos. No ataque, o capitão Steve Yzerman
está de volta, ao lado de Brendan Shanahan, Kris Draper
e Kirk Maltby. Este quarteto é fundamental para as pretensões
da equipe e é melhor que permaneçam saudáveis
durante a competição.
A defesa segue liderada pela dupla Nicklas Lidstrom e Chris Chelios.
O sueco é o coração da equipe, além
de ser o melhor defensor do mundo. O americano, agora o jogador
mais velho da liga aos 43 anos de idade, tem lugar na terceira
linha de defesa da equipe não só como referência
e liderança, mas por ainda ter muita força e competência
para atuar profissionalmente. Outros dois pontos fortes da defesa
são Mathieu Schneider e Jiri Fischer, formando também
na defesa um quarteto fundamental. Opinião: a gerência
fez bem em manter a base – exceto pela perda de McCarty.
O que mudou muito: a política financeira da equipe
Na nova realidade da NHL não há mais espaço
para “comprar” jogadores e manter folhas salariais
astronômicas. Ou seja, os Red Wings dos últimos anos
não caberiam na liga de hoje.
É por isso que Derian Hatcher e Ray Whitney saíram
sem deixar saudades. Não havia espaço na folha salarial
de Detroit para comportar jogadores que na última temporada
receberam muito e produziram pouco – uma distorção
exagerada na relação custo/benefício.
O goleiro Curtis Joseph encaixa-se no perfil acima descrito. E
a menos que volte a ser o velho CuJo dos tempos de Toronto, estará
a cada dia com seu nome mais próximo da temível
lista dos “ex-jogadores em atividade”, liderada por
Darius Kasparaitis.
No geral, os Red Wings foram extremamente atingidos pelo novo
acordo coletivo de trabalho da liga. Na data-limite não
espere por Schneiders e Langs. Opinião: o teto salarial
afetou – e muito – os Red Wings.
Tomara que não tenha mudado: Robert Lang, Henrik
Zetterberg e Pavel Datsyuk
Um ponto de desequilíbrio a favor da equipe pode ser o
tcheco Robert Lang. Pouco se viu de Lang com a camisa dos Wings,
já que o jogador foi adquirido às vésperas
do dia-limite de trocas, se contundiu e nos playoffs atuou no
sacrifício, porém muito se espera dele já
que sua última temporada pelo Washington Capitals foi excelente.
Com uma temporada inteira pela frente veremos se Lang escreverá
seu nome entre os grandes atacantes da atualidade.
Ao lado de Lang estarão as duas maiores estrelas do futuro
da equipe, para o ataque: Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg.
Datsyuk foi o artilheiro da equipe na última temporada
da NHL com 68 pontos e durante o locaute atuou na Mãe-Rússia,
pelo Moscow Dynamo. Retornou a Detroit de última hora,
graças a uma arrastada negociação contratual,
conquistando salário e status de ídolo, embora tenha
apenas três temporadas no currículo. Fazer mágica
com um taco de hóquei é a especialidade de Datsyuk.
Zetterberg trouxe do locaute um cartão de visitas excelente:
artilheiro da fortíssima liga Sueca atuando pelo Timra
IK, com 50 pontos em 50 jogos, deixando nomes como Peter Forsberg,
Markus Naslund e Daniel Alfredsson comendo poeira. Especialista
também no jogo defensivo, é o atacante mais completo
do elenco. Não será surpresa se tiver melhores atuações
que Datsyuk. Opinião: com este trio inspirado,
os Wings podem sonhar alto.
O que não era esperado: a contusão de Niklas
Kronwall e a perda de Andy Delmore
Niklas Kronwall. No currículo o prêmio de melhor
defensor da AHL na temporada 2004-05 e a escolha para o Time das
Estrelas do último Campeonato Mundial de Hóquei;
nas estatísticas 20 jogos com a camisa dos Red Wings antes
de uma infeliz contusão em 2004. Para este ano, a perspectiva
de um defensor completo para a segunda ou primeira linha, não
fosse outra grave contusão.
Kronwall sofreu danos nos ligamentos do joelho em uma partida
da pré-temporada e estará fora por cerca de seis
meses. Sem ele o planejamento defensivo de Babcock foi para o
lixo, pois o treinador já havia dado sinais de que a defesa
do time estava completa.
O pior é que não há um substituto decente
e o que havia, Andy Delmore, foi requisitado pelo Columbus Blue
Jackets após os Wings tentarem enviá-lo para o Grand-Rapids
Griffins. Logo Delmore, que declarou ser um sonho atuar em Detroit. Opinião: defesa incompleta
e um estrago no planejamento.
O que mudou pouco: restante do elenco
Para completar o elenco os Red Wings contam com os já conhecidos
Tomas Holmstrom, Mark Mowers e Jason Williams. Porém, ao
contrário do que aconteceu em outros anos, a partir de
agora estes jogadores terão um papel muito maior na equipe,
já que não há mais profundidade para mantê-los
apenas como uma quarta linha esforçada. Serão cobrados
por produção ofensiva.
As novidades restringem-se ao defensor Andreas Lilja, que tem
o perfil ideal para parceiro de Lidstrom, contratado como agente-livre;
ao sueco Johan Franzen, central defensivo recrutado na terceira
rodada do recrutamento de 2004; Mikael Samuelsson, resto do resto,
com passagens por San Jose Sharks, New York Rangers, Pittsburgh
Penguins e Florida Panthers; e Daniel Cleary, que agradou nos
treinamentos e amistosos e ganhou um contrato com a organização. Opinião: os Red Wings estão
razoavelmente bem servidos com os cinco primeiros citados.
O que infelizmente mudou: Chris Osgood
Estranhamente adorado pelos fãs americanos do time, Chris
Osgood disputou oito temporadas pela equipe que o recrutou na
terceira rodada do recrutamento de 1991, registrando bons números,
mas nunca sendo um fator de segurança. Ao seu lado estará
Manny Legace, com o qual disputará a posição
de titular.
Se os Wings, de 2002 pra cá, tiveram um grande nome no
gol – Dominik Hasek ou Curtis Joseph, mesmo que mal das
pernas –, agora a realidade é diferente: serão
dois goleiros medianos por trás de um time veterano.
A primeira impressão é a de que este time se parece
muito com o que fracassou entre 1999 e 2001, com um hiato de talento
muito grande entre jogadores e goleiros.
Osgood saiu de graça em 2001 e agora retorna pelo mesmo
preço. E apesar do frenesi dos americanos, ele somente
está de volta ao time porque não havia outra opção
no mercado. Opinião: Legace titular,
Osgood reserva; saudades de Hasek.
Panorama geral: nos Red Wings, quanto
mais as coisas mudam, mais elas continuam iguais.
Humberto Fernandes mantém
um blog atualizado sobre o Detroit Red Wings: On
the Wings: Brasil.
O DONO DO TIME
Mike Babcock é o novo treinador dos Red Wings. Ao mesmo
tempo duro e motivador, tenta repetir o sucesso do lendário
Scotty Bowman (David Guralnick/The Detroit News - 04/10/2005)