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16 de maio de 2003
Chatos e eficientes

Por Alexandre Giesbrecht

Mais uma vez, está provado que o jogo do New Jersey Devils é baseado puramente em não deixar o adversário marcar. Foi assim nos dois jogos que abriram as finais de conferência, contra o Ottawa Senators. Em Ottawa, uma derrota (na prorrogação) e uma vitória. Tudo o que os Devils queriam: voltar a New Jersey, onde ainda estão invictos, com 1-1 na série.

E a tarefa dos Sens vai ser ainda mais difícil, porque provavelmente estarão sem um de seus principais — senão o principal — zagueiros, Wade Redden, que se contundiu no joelho esquerdo depois de um tranco controverso de Turner Stevenson. Ainda não se sabe a gravidade da contusão, mas o time pediu para a ligar rever o lance, que pode render uma suspensão para Stevenson.

No jogo 1, o ataque canadense teve dificuldades e, depois de fazer 2-0 no primeiro período, sofreu o empate, que levou a partida para a prorrogação. Lá, os Senators dominaram, mas só ganharam o jogo graças a um atacante que não tinha gol algum em 54 jogos de playoffs, Shaun Van Allen. Foi o único momento de desatenção dos Devils, justamente o que custou a vitória.

Com os Sens surpreendentemente imitando o estilo de jogo do adversário (será que os Devils podem cobrar direitos autorais?), o jogo não teve muitas chances. A única escapada foi mesmo a da prorrogação, um 2-contra-1 que Van Allen não desperdiçou.

"Todos esperavam um jogo chato, mas não acho que tenha sido tão chato", disse o técnico do New Jersey, Pat Burns. "Ambos os times tiveram o mesmo número de chances." O que deve ser muito próximo de zero. Ao contrário do que Burns disse, o jogo foi, sim, chato. E, para ele, deve ter sido ainda mais chato, já que seu time perdeu. E os Devils podem até ser chatos — e são —, mas sabem aprender com seus erros.

E mostraram isso no jogo 2. O time cumpriu tão à risca seu plano de jogo, que conseguiu manter sua vantagem de 1-0 mesmo tendo ficado em desvantagem numérica por 8 dos 12 primeiros minutos de jogo. Essa equipe especial foi tão decisiva que dois de seus membros, John Madden e Jay Pandolfo, selaram a vitória com o terceiro e o quarto gols do time, na vitória por 4-1.

O único gol do Ottawa veio na única bobeada da defesa do New Jersey, quando Scott Gomez perdeu o disco para Marian Hossa, que partiu num 2-contra-1 com Radek Bonk, que marcou. Foi o único dos 31 chutes canadenses que iludiu Martin Brodeur. Do outro lado, Patrick Lalime pareceu nervoso, com apenas 17 defesas em 21 chutes. Brodeur fez defesas brilhantes; Lalime, não. Essa foi a chave do jogo.

Quando Madden, quase sem ângulo, bateu Lalime, logo depois de uma vantagem numérica dos Sens expirar, o Ottawa tinha uma vantagem de 11-4 em chutes no segundo período. O problema é que o placar marcava 3-1 para os visitantes. "Eu tenho que fazer essas defesas", disse Lalime. "Foi um daqueles jogos. Eu não fiz a grande defesa na hora certa."

É, foi um daqueles jogos típicos dos Devils. O adversário domina, domina, mas quem sai com a vitória são eles. Chato, sim. Mas eficiente. E aprendendo com seus erros. Depois de um primeiro período no jogo 1 em que os Senators conseguiram abrir dois gols de vantagem, o time se adaptou e conseguiu empatar. Quando os Sens passaram a jogar o jogo dos Devils, estes demoraram um pouco mais para se adaptar, e acabaram perdendo a partida na prorrogação.

Mas o jogo 2 não tinha nem um minuto quando o time de New Jersey se adaptou mais uma vez. Aos 31 segundos, Colin White foi para o banco de penalidades, deixando o time em desvantagem numérica. Os Sens, com sua poderosa equipe especial, não conseguiram abrir o placar. Isso ficou para Tommy Albelin, dos Devils, que não marcava desde os playoffs de 1995 — sim, quando o New Jersey ganhou sua primeira Stanley Cup. E o time não parou por aí: fez 2-0 no fim do primeiro período.

Foi a vez de o Ottawa tentar se adaptar, no primeiro intervalo. Deu certo por dois minutos, quando Bonk diminuiu. Descoberto o segredo? Pode até ser, mas Brodeur não deixou passar mais nada. Foi defesa atrás de defesa, inclusive uma em chute de Hossa, que vinha em um 2-contra-1.

Nestes playoffs, os Sens ainda não tinham perdido um jogo em que marcaram ao menos um gol (suas três derrotas foram em shutouts), portanto um tabu já caiu. Agora os canadenses vão enfrentar um tabu mais difícil de ser quebrado: os Devils ainda não perderam em casa nestes playoffs. E vão enfrentar também Brodeur, uma ameaça muito maior que um simples tabu. E possivelmente sem Redden.

Tarefa difícil, mas não impossível. Quem sobreviver nesta série sabe que será sério favorito nas finais. Por melhor que venham jogando Anaheim (principalmente) e Minnesota, qualquer um deles entrará como azarão nas finais. E a história nos mostra que os azarões que chegam às finais não costumam vencer (vou ater-me a alguns exemplos, mas existem muitos mais: Vancouver, em 1982 e 1994, Minnesota, em 1991, Los Angeles, em 1993, Florida, em 1996, e Carolina, no ano passado).

É uma vantagem psicológica enorme, que, se não vai garantir a Stanley Cup nas mãos, ao menos é motivo suficiente para os dois times quererem ainda mais se classificar. Mais do que a técnica, o que vai decidir esta série será a garra e a vontade ganhar. Por enquanto, os Devils estão levando vantagem.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, quase perdeu o texto acima depois de pronto, numa "parada de energia programada" para testar o gerador de energia da empresa onde trabalha.
PARANDO OS SENS Além de Brodeur vir sendo brilhante nestes playoffs, ainda conta com a ajuda de uma das melhores zagas da liga (Dave Sandford/Getty Images - 10/05/2003)
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Página publicada em 15 de maio de 2003.