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16 de maio de 2003
Giguere! Giguere! Giguere!

Por Marcelo Constantino

Dois times fazem história nos playoffs de 2003 da NHL: Anaheim Mighty Ducks e Minnesota Wild. Individualmente há o grave risco de ficarem conhecidos como os playoffs de Jean-Sébastien Giguere. O goleiros dos Ducks é, este sim, um fenômeno.

Com 12 partidas realizadas nos playoffs (esta edição foi fechada na terça-feira, dia 13), ele retornou a números absurdos: 95,4% de aproveitamento de defesas -- a terceira melhor na história da liga --, média de gols sofridos de 1,33 e três shutouts. Com uma seqüência de quase 160 minutos sem levar gols em prorrogação, está a apenas quatro minutos de quebrar o recorde de Patrick Roy. Giguere só permitiu que marcassem mais de dois gols em três das 12 partidas. Atentem para isso, os números dele, em plenas finais de conferência, são absolutamente extraordinários!

E os Mighty Ducks, que só venciam por um gol de diferença, finalmente quebraram este tabu e derrotaram o Wild no jogo 2 por 2-0, com dois gols em desvantagem numérica. A frustração em Minnesota é total: não conseguem superar o goleiro adversário nos dois jogos em casa e ainda vêem seus times de vantagem numérica não apenas fracassando em converter as chances, mas também sendo surpreendido com gols.

O Minnesota tem campanha de 6-0 nesses playoffs quando encara a eliminação. Estarão Jacques Lemaire e o Wild apenas esperando chegarem os jogos de eliminação para vencê-los um a um e virar a série? Isso sim, seria mais surpreendente ainda do que estamos assistindo no gol do Anaheim.

Qual o caminho das pedras? -- Voltando ao indiscutível MVP de 2003. A grande pergunta que está na pauta em Minnesota e que cresce a cada dia na NHL é: Como superar Giguere? Os Red Wings praticamente desconhecem uma resposta convincente. Os Stars até poderão dar dicas, mas vai ser difícil obter sólida credibilidade. Pela quantidade de chutes que ele já viu nessa pós-temporada, é fácil concluir que já foi tentado de tudo. E agora o Wild não tem exatamente dificuldades em vencer Giguere, mas em conseguir fazer um mísero gol nele.

"Se ele consegue fazer isso de forma consistente por quatro jogo seguidos, você tem de tirar o chapéu," disse Sergei Zholtok depois do jogo 2. "Mas eu duvido. Duvido que qualquer um na Terra consiga. Ele é humano".

Não duvide, Zholtok. Pergunte aos atacantes do Detroit e do Dallas e você vai acreditar. Olhe para o histórico de Giguere nesses playoffs e você poderá ter alucinações com a existência da quase-perfeição.

Apelando fora do gelo --
Desesperados por não conseguir superar o goleiro-sensação dos playoffs, os jogadores do Wild tentaram começar com a carga extra-gelo: Antti Laaksonen e Cliff Ronning insinuaram que o equipamento protetor (os pads) de Giguere estariam acima das medidas permitidas pela liga. Feliz do goleiro. Roy já sofreu inúmeras vezes com esse tipo de acusação, tamanha era a frustração que provocava nos adversários.

O técnico Mike Babcock prefere se divertir com essa história. "Sim, eles são enormes! E conforme ele vai jogando melhor, vão aumentando ainda mais. É impressionante. Tem mais, eu ouvi que a rede deles [do Wild] é menor que a nossa".

Palhoça se combate com ironia.

Os contestadores --
Você já deve ter lido e escutado que Giguere não tem sido exatamente brilhante, que ele não tem feito defesas sensacionais, daquelas que dão confiança a um time. Pode parecer inacreditável para alguns, mas muita gente pensa assim.

Tudo bem, vamos lá. Essa corrente diz que Giguere é beneficiado por um excelente sistema defensivo armado por Babcock, que neutraliza qualquer avanço do ataque adversário, como se fosse uma variável da armadilha da zona neutra.

Este argumento é demolido de cara quando você observar que o Anaheim disparou menos a gol que o adversário em TODOS, exceto um (neste um, deram o mesmo número de chutes a gol que os Stars), dos 12 jogos desses playoffs.

"Ah, mas foram chutes de baixa qualidade", algum adepto desta corrente anti-Giguere irá argumentar. Quer dizer que os ataques de Wings e Stars, de Fedorov, Hull, Modano, Lidstrom, Zubov e outras estrelas de primeira grandeza teimaram em tentar o gol de Giguere com chutes de "baixa qualidade"?

Quer dizer também que os 436 chutes recebidos por ele em 12 jogos foram em sua quase totalidade de "baixa qualidade"? O goleiro que mais viu borracha pela frente nesses playoffs -- para comparar, do segundo ao quarto colocados nesta categoria haviam encarado na faixa dos 330-340 chutes -- não tem sido sensacional?

Eu vejo como uma piada, mas o próprio Giguere acredita que pode melhorar ainda mais. "Todo jogo é um grande desafio, eu sinto que estou melhorando", diz ele com aparente humildade. Não sei onde nem em quê ele poderá melhorar. O reserva dele, Martin Gerber dá uma idéia: "Sim, ele pode começar a fazer gols também". Só pode.

Marcelo Constantino possui centenas de CDs graças ao advento do MP3, entretanto, em mais de 15 anos, nada o emociona mais que o LP/VHS/CD/DVD "The Song Remains The Same".
 
  AO MESTRE COM CARINHO Os jogadores do Anaheim Mighty Ducks reverenciam o indiscutível MVP dos playoffs após o segundo shutout consecutivo dele (Christine Cotter/LAT - 12/05/2003)
   
 
  ATIROU.... Rob Niedermayer, em desvantagem numérica e livre na zona de ataque, dispara contra o gol do Wild
(Tom Olmscheid/AP - 12/05/2003)
   
 
  ...ENTROU Está lá o resultado do trabalho de Niedermayer. Os Ducks venceram a segunda partida do Wild por 2-0 e ainda não haviam sofrido gol do time de Minnesota nos playoffs (Jim Mone/AP - 12/05/2003)
   
 
  O OUTRO MESTRE APREENSIVO? O técnico Jacques Lemaire e o banco do Wild assistem ao jogo 2, em que foram novamente derrotados sem fazer gols (Matthew Stockman/Getty Images - 12/05/2003)
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Página publicada em 15 de maio de 2003.