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21 de fevereiro de 2003
O que aconteceu com o Carolina Hurricanes?

Por Humberto Fernandes

Oito meses atrás, eles surpreenderam a NHL ao vencer o primeiro jogo da Stanley Cup, contra o Detroit Red Wings. Agora são um dos piores times da Liga, o treinador está em guerra com os jogadores e o gerente geral está negociando seus jogadores sobrevalorizados. Uma bagunça.

Até o fechamento deste artigo, os Hurricanes estavam com 18-28-7-6, na antepenúltima posição da Conferência Leste. Nos últimos 24 jogos, apenas três vitórias, dois empates e o restante em derrotas — sendo duas na prorrogação.

Como se não bastasse, na semana passada, após um treinamento, o treinador Paul Maurice ordenou que sete jogadores — Bates Battaglia, Jeff Heerema, Craig MacDonald, Jeff O'Neil, David Tanabe, Niclas Wallin e Aaron Ward — patinassem até cair. E eles assim o fizeram por 12 minutos, quando MacDonald caiu no gelo e O'Neil desistiu.

O gerente geral, Jim Rutherford, trocou os US$ 3 milhões do salário de Sami Kapanen para o Philadelphia Flyers junto de um defensor de liga menor por Pavel Brendl e um outro defensor de liga menor. Kapanen decepcionava a equipe desde os playoffs da temporada passada, quando marcou apenas um gol em 23 jogos. Seguiu a rotina, anotando seis gols em 43 jogos nesta temporada. Mas, dando alguma demonstração de valor, no dia seguinte à troca o finlandês marcou o gol da vitória dos Flyers sobre o New York Rangers (leia mais sobre a troca aqui).

Rutherford declarou que estava iniciada a reformulação do time, negou os boatos da demissão de Maurice — que renovou contrato após o vice-campeonato da Stanley Cup —, mas não poupou a cabeça dos jogadores, dizendo que procuraria mais trocas até o dia 11 de março — a data limite de trocas desta temporada. Os rumores apontam que Ward, Glen Wesley e outros estão disponíveis.

"É difícil", disse Rutherford. "Nós viemos de um ano bom e não conseguimos nos manter assim... é muito decepcionante."

A raiz do problema dos Hurricanes — que meus dedos insistem em digitar Horrorcanes — está na própria temporada passada. Diante daquele sucesso, imaginou-se algo semelhante para este ano. Ora, o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. E assim, pela primeira vez desde 1999, um time não se classificará para os playoffs após disputar as finais da Stanley Cup no ano anterior. Naquela ocasião, o Washington Capitals protagonizou o duplo fiasco: foi varrido pelos Red Wings em 1998 e não conseguiu disputar mais que 82 jogos no ano seguinte. Curiosamente, os Hurricanes também foram derrotados pelos Red Wings quando foram às finais.

Apesar de quase tudo ter piorado para esta temporada, os Canes pelo menos ainda podem contar com as sólidas atuações do goleiro Kevin Weekes, responsável indireto pela "expulsão" de Arthurs Irbe da equipe. Desinteressado no goleiro e seu salário, Rutherford o colocou na Desistência. Nenhum time o requisitou, então Irbe desceu ao time inferior. Não há dúvidas de que nas próximas três semanas os Hurricanes tentarão negociá-lo de todas as formas possíveis.

Fica o bom exemplo para as demais equipes da liga: não se demite um treinador após dez derrotas. Nem mesmo Maurice foi demitido — e não faltam motivos para guilhotiná-lo, vide indisposição dos jogadores e/ou sua duvidosa competência.

Se o vice-campeonato representa uma "fortaleza" na qual Maurice se protege, aqui estão alguns questionamentos de tal feito:
- os Hurricanes classificaram-se na terceira posição da Conferência Leste, com 91 pontos. Esta posição somente foi conquistada através da regra que privilegia o campeão da divisão, colocando-o entre os três primeiros da conferência. Se esta regra não existisse, a equipe teria ficado com a sétima posição.
- No quesito vitórias, os Hurricanes terminaram na 20ª posição da liga, com apenas 35. O diferencial para outras equipes eliminadas foi o alto número de empates, 16.
- O caminho nos playoffs realmente foi complicado, mas com a asquerosa tática da armadilha na zona neutra, os Hurricanes derrotaram New Jersey Devils, Montreal Canadiens e Toronto Maple Leafs. Contra os Devils, Weekes surgiu como fator decisivo. Diante dos Canadiens, a eliminação parecia evidente no quarto jogo: a equipe canadense vencia a série por 2-1 e o jogo por 3-0, no terceiro período, até que o ex-treinador Michel Therrien recebeu uma penalidade por reclamação (conduta anti-desportiva), o que gerou vantagem numérica de dois homens para o adversário. Os Hurricanes marcaram na situação favorável, conseguiram mais dois gols antes do fim do período e venceram na prorrogação, empatando a série. Dali em diante, Carolina nunca mais olhou para trás, derrotando também os Maple Leafs nas finais de conferência.

Se a Stanley Cup não terminou da maneira como desejavam, pelo menos foi uma promessa para o futuro, tanto de sucesso do time quanto da estabilidade da franquia. Os "Caniacs" puderam dizer "nós chegamos lá" — mesmo que o vice-campeonato não signifique nada dentro do gelo. Na prática, eles conseguiram despertar um maior interesse do público em Raleigh para com o hóquei, fato comprovado pela elevação da média de espectadores de 12.401 (1999-00) para 15.729 (2002-03).

A gerência até cumpriu sua parte para uma boa temporada em 2003, mantendo a base do time. Renovou os contratos de O'Neill, Bret Hedican, Wallin, Ward, Kapanen, David Tanabe e Ron Francis. E apesar disso, "... não conseguimos nos manter assim... é muito decepcionante", palavras de Rutherford.

O que aconteceu com os Hurricanes? Nada, eles sempre foram assim, um time que não incomoda ninguém. A diferença é que agora incomodam os próprios torcedores, após mostrar-lhes algumas vitórias e deixar no ar o gosto do sucesso. Aparentemente, a armadilha da zona neutra fez outra vítima: o próprio time, dono do segundo pior ataque da liga. Se Rutherford não estudar com cuidado a desejada renovação, pode ser que se decepcione nos próximos anos.

Humberto Fernandes queria escrever também sobre o Florida Panthers, mas o artigo acima esticou-se com os Hurricanes.
ESFORÇO INÚTIL A defesa do Carolina Hurricanes, aqui representada por Kevin Weekes, Sean Hill e Niclas Wallin, não é das piores, mas o ataque é inexistente (Mike Cassese/Reuters - 18/02/2003)
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Página publicada em 19 de fevereiro de 2003.