Por
Alexandre Giesbrecht
Alexei Kovalev foi embora, deixando o gerente geral dos Penguins, Craig
Patrick, com um saco de discos e um pacote de biscoito cream cracker
pela metade. Culpa de Patrick, claro.
Bem, eu serei uma voz dissonante. Não culpo Patrick. Ele fez
a única coisa que poderia ter sido feita. A culpa é da
NHL. A culpa é do comissário Gary Bettman. Com a estrutura
(?) salarial que a liga tem desde o locaute de 1994-95, os times que
operam em cidades pequenas passaram a perder competitividade ano após
ano.
A torcida dos Penguins já vinha percebendo isso, com as seguidas
saídas de estrelas e bons jogadores, por pouco ou nada em troca:
Ron Francis, Bob Boughner, Jaromir Jagr, Darius Kasparaitis, Robert
Lang, Kovalev... Corre por aí que os próximos são
Martin Straka e Jan Hrdina. A última troca dos Penguins com o
sentido de realmente melhorar o time foi justamente a que trouxe Kovalev.
O time não tem condições de ter uma folha de pagamento
que chegue sequer à metade da do New York Rangers. Como, então,
achar espaço para os cerca de US$ 7 milhões que Kovalev
deveria ganhar de um juiz depois que não acertasse com os Pens
ao final desta temporada? Como acomodar os US$ 10 milhões (ou
mais) que ele vai fatalmente receber no mercado como agente livre irrestrito,
ao fim de 2003-04?
A solução seria trocá-lo, tentando receber o máximo
possível em troca. Eu até acho que Patrick poderia ter
conseguido mais, senão dos Rangers que não chegaram
sequer a colocar na troca seu melhor prospecto, Jamie Lundmark ,
de algum outro time. Mikael Samuelsson é o melhor dos quatro,
mas não se pode dizer que seja nenhum prodígio. Rico Fata
vem credenciado como a sexta escolha no recrutamento de 1998, mas pára
por aí: tem dois gols e oito pontos em 76 jogos na NHL. Joel
Bouchard é um zagueiro razoável, mas andou tendo sérios
problemas de saúde nos últimos dois anos. Já o
também zagueiro Richard Lintner é uma total incógnita,
mas começou bem no time de baixo dos Pens, com um gol e uma assistência
em dois jogos.
Se eles chegam perto de substituir Kovalev à altura? Os números
mostram que não. Mais 13 gols que o agora astro dos Rangers marcar,
e ele passa o total acumulado até hoje na carreira pelos quatro
novos Penguins (número este bastante inflado pelos 307 jogos
de Bouchard). Se bem que os três jogadores que saíram meio
que, na verdade, acabaram reforçando o time. Quer dizer, o caixa
do time.
Mike Wilson ainda tinha um ano de contrato, a US$ 950 mil, para jogar
em Wilkes-Barre/Scranton. Janne Laukkanen, no último ano de seu
contrato de US$ 1,6 milhão, nem sabe se voltará a jogar.
E Dan LaCouture, de quem a torcida gostava e que está ganhando
US$ 550 mil, claramente não estava mais nos planos do técnico
Rick Kehoe.
A diretoria do time, contudo, continua apostando em uma classificação
para os playoffs. E em Papai Noel, também. Craig Patrick chegou
a dizer as seguintes palavras, pasmem: "[A troca] melhorou nosso
time. Sinto que vamos ser mais competitivos, e é por isso que
eu segui em frente e fechei o negócio."
Lógico que não seria de se esperar que ele simplesmente
dissesse que a troca piorou, e muito, o time. Lógico que não
se pode esperar que o clube admitisse que os playoffs não passam
de um sonho ei, eles ainda têm de vender ingressos para
14 jogos em casa. Mas às vezes um pouco de bom senso vai bem.
As pessoas que compram os ingressos não são trouxas. Precisa
trocar jogadores? Troque. Mas não tente convencer que está
tudo bem.
Porque nada está bem. Para um time que não consegue manter
nem jogadores um pouco acima da média, o futuro é a chave.
É tentar se segurar como puder até (e se) aparecer um
novo acordo coletivo e/ou um teto salarial e, a partir daí, começar
um processo de reconstrução. Seria a saída ideal,
mas não para os Penguins. Suas escolhas no recrutamento têm
sido uma decepção constante na última década,
e mesmo os jogadores ainda no sistema que parecer ter algum futuro têm
reclamado constantemente de falta de orientação.
Tem-se falado nisso desde o final da temporada passada. Tem-se reclamado
do técnico do time de baixo, Glenn Patrick, irmão de Craig.
E, diga-se de passagem, com razão. Apesar de o time ter chegado
às finais da Calder Cup em 2000-01, afundou no ano seguinte e
vem-se mantendo nos 50% aos trancos e barrancos nesta temporada. O time,
na verdade, não tem de ganhar (embora isso seja bom); basta revelar
jogadores, mas nem isso tem sido feito.
Com o mar de contusões que tem assolado os Penguins desde a temporada
passada, pôde-se perceber como as coisas vão mal. Os jogadores
sobem para o time de cima, mas chegam com pouco preparo. Michal Sivek,
por exemplo, em 34 jogos teve três gols e três assistências.
Até jogou bem nos primeiros jogos, mas não conseguiu manter
o nível. Milan Kraft foi um pouco melhor: em 31 jogos, sete gols
e cinco assistências, incluindo aí uma série de
sete jogos pontuando. O zagueiro Brooks Orpik foi bem, mas voltou para
Wilkes-Barre depois de seis jogos por motivos financeiros (ele ganha
na AHL menos de 10% do que ganharia na NHL).
E o resto? Nenhum, absolutamente nenhum impacto. Tomas Surovy chegou
na sexta-feira e, depois de passar em branco contra os Rangers, marcou
um gol contra os Devils no sábado, e ainda iniciou a jogada de
outro, embora não tenha recebido uma assistência. Mas será
que ele conseguirá se manter nesse nível?
Quem sabe um dia times como os Penguins conseguirão voltar a
poder manter seus Kovalevs. Talvez estejamos a menos de dois anos desse
dia. O problema dos Penguins é que, ao menos por um tempo, eles
vão ter de produzir seus próprios Kovalevs, algo que não
conseguem desde Jagr.
Brendl -- Na semana passada, falei
sobre a troca de Sami Kapanen por Pavel Brendl, e surgiu nesta semana
uma novidade. Há pouco tempo, Bettman não aprovou uma
troca que já tinha sido feita mas não divulgada
entre Flyers e Sabres. Iriam para a Philadelphia Miroslav Satan
e Alexei Zhitnik, enquanto Pavel Brendl e o prospecto Jeff Woywitka,
27.° escolhido no recrutamento de 2001, iriam para Buffalo.
A troca lembra um pouco a que levou Kovalev para os Rangers, mas a situação
certamente é bem diferente: os Sabres estão em concordata,
sendo atualmente operados pela NHL até serem vendidos. É
óbvio que o time é um investimento melhor com Satan e
Zhitnik do que com Brendl e um garoto que nunca jogou na liga.
Quase que o GG dos Flyers, Bobby Clarke, conseguiu uma troca ainda melhor
que a de Kapanen.
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Alexandre Giesbrecht, 26 anos, tenta sempre pensar positivo quando
os Penguins fazem uma troca. |
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SEM PERDÃO Kovalev
(27) marca o único gol do seu primeiro jogo contra o ex-time
(Ed Betz/AP - 14/02/2003) |
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