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21 de fevereiro de 2003
Sem poder manter nem produzir Kovalevs

Por Alexandre Giesbrecht

Alexei Kovalev foi embora, deixando o gerente geral dos Penguins, Craig Patrick, com um saco de discos e um pacote de biscoito cream cracker pela metade. Culpa de Patrick, claro.

Bem, eu serei uma voz dissonante. Não culpo Patrick. Ele fez a única coisa que poderia ter sido feita. A culpa é da NHL. A culpa é do comissário Gary Bettman. Com a estrutura (?) salarial que a liga tem desde o locaute de 1994-95, os times que operam em cidades pequenas passaram a perder competitividade ano após ano.

A torcida dos Penguins já vinha percebendo isso, com as seguidas saídas de estrelas e bons jogadores, por pouco ou nada em troca: Ron Francis, Bob Boughner, Jaromir Jagr, Darius Kasparaitis, Robert Lang, Kovalev... Corre por aí que os próximos são Martin Straka e Jan Hrdina. A última troca dos Penguins com o sentido de realmente melhorar o time foi justamente a que trouxe Kovalev.

O time não tem condições de ter uma folha de pagamento que chegue sequer à metade da do New York Rangers. Como, então, achar espaço para os cerca de US$ 7 milhões que Kovalev deveria ganhar de um juiz depois que não acertasse com os Pens ao final desta temporada? Como acomodar os US$ 10 milhões (ou mais) que ele vai fatalmente receber no mercado como agente livre irrestrito, ao fim de 2003-04?

A solução seria trocá-lo, tentando receber o máximo possível em troca. Eu até acho que Patrick poderia ter conseguido mais, senão dos Rangers — que não chegaram sequer a colocar na troca seu melhor prospecto, Jamie Lundmark —, de algum outro time. Mikael Samuelsson é o melhor dos quatro, mas não se pode dizer que seja nenhum prodígio. Rico Fata vem credenciado como a sexta escolha no recrutamento de 1998, mas pára por aí: tem dois gols e oito pontos em 76 jogos na NHL. Joel Bouchard é um zagueiro razoável, mas andou tendo sérios problemas de saúde nos últimos dois anos. Já o também zagueiro Richard Lintner é uma total incógnita, mas começou bem no time de baixo dos Pens, com um gol e uma assistência em dois jogos.

Se eles chegam perto de substituir Kovalev à altura? Os números mostram que não. Mais 13 gols que o agora astro dos Rangers marcar, e ele passa o total acumulado até hoje na carreira pelos quatro novos Penguins (número este bastante inflado pelos 307 jogos de Bouchard). Se bem que os três jogadores que saíram meio que, na verdade, acabaram reforçando o time. Quer dizer, o caixa do time.

Mike Wilson ainda tinha um ano de contrato, a US$ 950 mil, para jogar em Wilkes-Barre/Scranton. Janne Laukkanen, no último ano de seu contrato de US$ 1,6 milhão, nem sabe se voltará a jogar. E Dan LaCouture, de quem a torcida gostava e que está ganhando US$ 550 mil, claramente não estava mais nos planos do técnico Rick Kehoe.

A diretoria do time, contudo, continua apostando em uma classificação para os playoffs. E em Papai Noel, também. Craig Patrick chegou a dizer as seguintes palavras, pasmem: "[A troca] melhorou nosso time. Sinto que vamos ser mais competitivos, e é por isso que eu segui em frente e fechei o negócio."

Lógico que não seria de se esperar que ele simplesmente dissesse que a troca piorou, e muito, o time. Lógico que não se pode esperar que o clube admitisse que os playoffs não passam de um sonho — ei, eles ainda têm de vender ingressos para 14 jogos em casa. Mas às vezes um pouco de bom senso vai bem. As pessoas que compram os ingressos não são trouxas. Precisa trocar jogadores? Troque. Mas não tente convencer que está tudo bem.

Porque nada está bem. Para um time que não consegue manter nem jogadores um pouco acima da média, o futuro é a chave. É tentar se segurar como puder até (e se) aparecer um novo acordo coletivo e/ou um teto salarial e, a partir daí, começar um processo de reconstrução. Seria a saída ideal, mas não para os Penguins. Suas escolhas no recrutamento têm sido uma decepção constante na última década, e mesmo os jogadores ainda no sistema que parecer ter algum futuro têm reclamado constantemente de falta de orientação.

Tem-se falado nisso desde o final da temporada passada. Tem-se reclamado do técnico do time de baixo, Glenn Patrick, irmão de Craig. E, diga-se de passagem, com razão. Apesar de o time ter chegado às finais da Calder Cup em 2000-01, afundou no ano seguinte e vem-se mantendo nos 50% aos trancos e barrancos nesta temporada. O time, na verdade, não tem de ganhar (embora isso seja bom); basta revelar jogadores, mas nem isso tem sido feito.

Com o mar de contusões que tem assolado os Penguins desde a temporada passada, pôde-se perceber como as coisas vão mal. Os jogadores sobem para o time de cima, mas chegam com pouco preparo. Michal Sivek, por exemplo, em 34 jogos teve três gols e três assistências. Até jogou bem nos primeiros jogos, mas não conseguiu manter o nível. Milan Kraft foi um pouco melhor: em 31 jogos, sete gols e cinco assistências, incluindo aí uma série de sete jogos pontuando. O zagueiro Brooks Orpik foi bem, mas voltou para Wilkes-Barre depois de seis jogos por motivos financeiros (ele ganha na AHL menos de 10% do que ganharia na NHL).

E o resto? Nenhum, absolutamente nenhum impacto. Tomas Surovy chegou na sexta-feira e, depois de passar em branco contra os Rangers, marcou um gol contra os Devils no sábado, e ainda iniciou a jogada de outro, embora não tenha recebido uma assistência. Mas será que ele conseguirá se manter nesse nível?

Quem sabe um dia times como os Penguins conseguirão voltar a poder manter seus Kovalevs. Talvez estejamos a menos de dois anos desse dia. O problema dos Penguins é que, ao menos por um tempo, eles vão ter de produzir seus próprios Kovalevs, algo que não conseguem desde Jagr.

Brendl -- Na semana passada, falei sobre a troca de Sami Kapanen por Pavel Brendl, e surgiu nesta semana uma novidade. Há pouco tempo, Bettman não aprovou uma troca que já tinha sido feita — mas não divulgada — entre Flyers e Sabres. Iriam para a Philadelphia Miroslav Satan e Alexei Zhitnik, enquanto Pavel Brendl e o prospecto Jeff Woywitka, 27.° escolhido no recrutamento de 2001, iriam para Buffalo.

A troca lembra um pouco a que levou Kovalev para os Rangers, mas a situação certamente é bem diferente: os Sabres estão em concordata, sendo atualmente operados pela NHL até serem vendidos. É óbvio que o time é um investimento melhor com Satan e Zhitnik do que com Brendl e um garoto que nunca jogou na liga.

Quase que o GG dos Flyers, Bobby Clarke, conseguiu uma troca ainda melhor que a de Kapanen.

Alexandre Giesbrecht, 26 anos, tenta sempre pensar positivo quando os Penguins fazem uma troca.
SEM PERDÃO Kovalev (27) marca o único gol do seu primeiro jogo contra o ex-time (Ed Betz/AP - 14/02/2003)
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Página publicada em 19 de fevereiro de 2003.