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7 de fevereiro de 2003
A crise na NHL está cada vez maior

Por Rafael Roberto

O sucesso financeiro de qualquer empresa depende de uma condição básica: os gastos não podem ser maiores que a receita. Porém, muitos times da NHL não estão conseguindo seguir esta regra, mesmo aqueles cujos torcedores lotam as arenas em quase todos os jogos.

A permanência destes muitos times na liga está nas mãos de Gary Bettman, comissário da NHL, e Bob Goodenow, chefe do sindicato dos jogadores, a NHLPA. Em setembro de 2004 expira o atual contrato da liga com a associação de jogadores e eles devem travar uma das maiores batalhas da história para poder renová-lo. Bettman já anunciou que no próximo contrato haverá um teto salarial, porém Goodenow deverá liderar uma resistência contra esta cláusula.

Com o teto, a NHL tenta reduzir os gastos com os salários dos jogadores, que representa aproximadamente 73% de todos os gastos da liga. A NFL e NBA, por exemplo, limitam os gastos com os ordenados dos jogadores a 50% de todas as despesas da liga.

A NHL começou a afundar financeiramente nos anos 90, quando os salários subiram mais de 480%. A maior parte deste aumento veio depois da greve na temporada 1994-95, quando a liga assinou o atual acordo com os jogadores.

Os números para demonstrar este aumento abusivo de salários são impressionantes. Na temporada anterior à greve, o salário médio dos jogadores da NHL era de US$ 572 mil. Hoje esta média subiu para US$ 1,64 milhão. Em 1989, o time com a maior folha salarial era o Los Angeles Kings, que pagava US$ 7,48 milhões a todo seu elenco. Na atual temporada temos 21 jogadores recebendo mais que isso.

Por isso, muitos donos de times acreditam que o teto salarial é fundamental para manter seus clubes com saúde financeira. "Ou arrumamos isto ou estamos fora", disse Tim Leiweke, dono dos Kings. "Nem com uma arma na cabeça eu compraria um time, incluindo o meu", declarou Bill Wirtz, dono do Chicago Blackhawks. "O sistema não funciona", comenta Lou Lamoriello, presidente e gerente geral do New Jersey Devils.

A situação está tão ruim para manter um time na liga que dois times, o Ottawa Senators e Buffalo Sabres, estão quase na falência; seis times estão para ser vendidos, entre eles o Anaheim Mighty Ducks, pertencente à poderosa Walt Disney Company, e o Dallas Stars, que faz uma excelente campanha; e dezesseis times tiveram prejuízo no ano passado, incluindo o campeão Detroit Red Wings.

Para que os times possam sobreviver na liga, é fundamental que recuperem a estabilidade financeira. Mas, se os jogadores ganharem a queda de braço em setembro de 2004, haverá uma grande extinção de franquias na liga.

Entretanto, os jogadores põem a culpa da crise financeira nos próprios donos de time. "Ninguém coloca uma arma na cabeça deles mandando pagar quatro ou cinco milhões por um jogador de quarta linha", diz Peter Worrell, do Florida Panthers.

Talvez esta arma exista, com o nome de New York Rangers. Com uma capacidade financeira única, o NY Rangers se dá ao luxo de pagar US$ 9,6 milhões a Bobby Holik, um jogador medíocre que não joga o suficiente para ganhar um terço disto.

Para contrastar, Alexei Kovalev, do Pittsburgh Penguins, ganha pouco mais de US$ 4 milhões e é o quarto colocado na artilharia geral da NHL. Seu contrato com os Penguins expira no final desta temporada e ele não deverá renovar por menos de US$ 8 milhões, podendo até usar como argumento o salário de Holik, jogador com apenas oitos gols na temporada até agora. Sem condições de pagar mais de US$ 8 milhões a um jogador, os Penguins só têm duas saídas: ou enfraquece seu elenco trocando o atleta ou descontrola suas finanças para mantê-lo no time.

A diferença entre ricos e pobres na NHL está mais evidente que no Brasil. Enquanto a folha salarial dos Rangers subiu mais de US$ 14 milhões nas duas ultimas temporadas, a do Minnessota Wild subiu pouco mais que US$ 5 milhões. Nestes últimos dois anos, a folha salarial de 13 dos 30 times da liga subiu US$ 10 milhões ou mais e apenas dois clubes conseguiram diminuir suas despesas com salários: os Sabres e os Panthers.

Nenhum time gastou mais nos últimos cinco anos que os Rangers, mas não conseguiram chegar ao menos uma vez aos playoffs neste período. O clube de Nova York monta seu time pagando a agentes livres mais do que qualquer outro time poderia pagar e essa atitude está entre os motivos que levaram os donos de times a pedirem um teto salarial para a liga.

Oh Canadá! -- A situação dos times canadenses é ainda pior. Para começar, boa parte de sua receita é em dólares canadenses, sendo que pagam seus jogadores em dólares americanos, que é mais valorizado — um dólar americano vale aproximadamente 1,56 dólar canadense.

O segundo problema é que o governo não dá ajuda financeira para a construção e manutenção das arenas, forçando o time a criar alternativas para conseguir dinheiro para ajudar nestes custos em que os times americanos não sofrem tanto.

O terceiro e ultimo problema é que os times do Canadá, excetuando o Toronto Maple Leafs, não encontram um mercado tão bom para a venda de seus produtos quanto os times dos Estados Unidos.

A crise dos times canadenses é bem mais antiga. O Montreal Canadiens, time mais tradicional da NHL, estava numa grave crise financeira há dois anos, quando foi vendido. O Edmonton Oilers, que já foi campeão cinco vezes da Copa Stanley, tem 37 donos.

O curioso é que Senators, Oilers e Vancouver Canucks estão entre os dez times com as menores folhas salariais e todos eles fazem excelentes campanhas nesta temporada.

Rafael Roberto torce para um futuro melhor para os times da NHL, principalmente os canadenses.
ANIMAÇÃO Acima, uma animação não muito animadora para a NHL e suas equipes (Rafael Roberto - 06/02/2003)
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Página publicada em 6 de fevereiro de 2003.