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27 de dezembro de 2002
À espera de... Dominik Hasek?

Por Alexandre Giesbrecht

Um dos assuntos mais falados na cidade de Buffalo ultimamente é o confronto com Green Bay. Não, não. Esta revista ainda é sobre hóquei. É que o confronto não é exatamente nos gramados do futebol americano. A disputa é outra. Na verdade, Buffalo não quer virar Green Bay. Por Green Bay, entenda-se uma cidade com time de apenas um dos quatro maiores esportes norte-americanos.

É exatamente isso que Buffalo vai se tornar, se acontecer o que muitos ao redor da NHL temem: o Buffalo Sabres acabe. Ou se mude de cidade. E a ameaça é real. Muito mais real, na verdade, do que aquela que o Pittsburgh Penguins enfrentou há quatro anos, quando acabou indo parar nas mão salvadoras de Mario Lemieux.

Já se ouve pala NHL os boatos. O próprio Gary Bettman tem ameaçado. Mark Hamister, aquele que a NHL considera o único comprador em potencial, também já fez as suas ameaças. Ele quer dinheiro do governo do estado de Nova York para poder completar sua oferta. Dinheiro que, aparentemente, o governo não tem.

O que pouco aparece na mídia fora de Buffalo é que, na verdade, Hamister não é o único interessado, mas parece ser o único com apoio da NHL. Algo estranho. Não conheço os detalhes das propostas, nem consegui achar fontes seguras disso, mas B. Thomas Golisano, um bilionário de Rochester, parece ter uma oferta semelhante à de Hamister. E, melhor, sem a participação obrigatória do governo estadual.

Entratanto, leia o que Bettman tem a dizer: "Não acho que haja outro comprador viável por aí. No caso de a proposta [de Hamister] falhar, tenho sérias preocupações a respeito da viabilidade futura desta franquia". Animador, não?

Seria viável um bilionário local, que gastou quase US$ 74 milhões na sua candidatura independente ao governo do estado? Bem, ele prometeu deixar os Sabres onde estão. E qual é o problema, então? Simples: ele ofereceu cerca de US$ 10 milhões a menos que Hamister.

Ambos os compradores em potencial acreditam que antigas ofertas do governo aos ex-donos — a família Rigas, da Adelphia Comunicações — devem ser cumpridas, seja quem for que compre os Sabres. O problema é que essas ofertas eram parte de um acordo muito maior, que incluía 1,5 mil empregos e um gigantesco complexo novo de escritórios que poderia revitalizar uma parte do decadente centro de Buffalo.

Há, no entanto, duas diferenças-chave entre as duas propostas. A de Golisano é entre US$ 10 milhões e US$ 12 milhões menor. Mas ela também mantém o interesse pelo time mesmo sem a ajuda governamental. Fontes próximas a Golisano também dão conta de que ele não iria pedir à cidade que deixasse de cobrar seus impostos territoriais de cerca de US$ 500 mil.

Enquanto não sai o novo dono, a liga vai operando o clube. Sua assessoria de imprensa diz que não estão ameaçando a comunidade, mas os cabeças da NHL não perdem uma oportunidade de alfinetar os problemas financeiros do time. "O clube e o estádio estão sangrando dinheiro. E o nosso vai acabar bem antes da temporada", diz Bettman. E prossegue, dizendo que isso vai requerer empréstimos e até um pedido de concordata.

Quando a liga anunciou o grupo de Hamister como o futuro comprador dos Sabres, deu um prazo para a confecção do plano de investimento de US$ 65 milhões, completo com o financiamento: em 3 de janeiro ele deve ser apresentado à NHL. O tempo não pára. E, ainda assim, desde que a liga fez o tal anúncio, o caminho só ficou mais complicado para Hamister e seu grupo de investidores. Por isso, Hamister trouxe a situação a público, com a ajuda de líderes estaduais locais.

Só não se sabe se já não é muito tarde. Será que o povo, sabendo o que está por vir, com um inferno de taxas à Prefeitura de São Paulo, vai aceitar o pedido de que entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões saiam dos cofres públicos para fazer o pacote de salvação funcionar? Quem apóia Hamister diz que sim, e que, ao final da temporada, ele estará sentado na cadeira do dono.

Independentemente de que estiver sentado naquela cadeira, é quase certo que o time acabe optando pela concordata, necessária para proteger os novos donos dos credores da Adelphia. E se nenhuma das propostas for aceita? Aí a situação fica muito mais difícil, porque a solução também será a concordata, mas a cláusula de não-realocação do time pode ser ignorada. Neste caso, ou o time simplesmente vai à falência, por não conseguir montar um plano de salvação, ou acaba mudando de cidade.

E quem já está de olho nisso é o Detroit Red Wings, que, caso o Buffalo Sabres vire o Portland Qualquer Coisa, solicitaria à NHL fazer parte da Conferência Leste. Um diretor do time afirma que isso ainda não foi discutido internamente, mas que, naturalmente, a mudança traria um considerável corte de gastos com as constantes e longas viagens para os jogos na Costa Oeste. No Leste, o Detroit ocuparia a vaga na Divisão Nordeste e reviveria duelos dos seis times originais com Boston, Montreal e Toronto.

Não é uma situação fácil para a cidade de Buffalo. A não ser, claro, que Dominik Hasek siga o exemplo de Mario Lemieux e compre os Sabres.

Alexandre Giesbrecht, 26 anos, já viveu com seus Penguins o drama que a cidade de Buffalo vive hoje.
AINDA RESPIRANDO Os Sabres de Eric Boulton (à direita) lutam pela sobrevivência (Don Heupel/AP - 20/12/2002)
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Página publicada em 25 de dezembro de 2002.