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27 de dezembro de 2002
O que esperar do Mundial de Juniores deste ano

Por Eduardo Costa

Durante duas semanas o mundo do hóquei verá jovens com menos de 20 anos dividindo a atenção com os marmanjos da NHL. É a 30.ª edição do Mundial de Juniores, que começará no dia 26 de dezembro, terminando em 5 de janeiro, e que será realizado na província canadense de Nova Escócia, mais precisamente nas cidades de Halifax e Sydney.

Para olheiros e imprensa, será a oportunidade de assistir a jogadores de escolas totalmente distintas de hóquei duelarem entre si. Dez seleções participarão: Rússia, Suíça, Eslováquia, Estados Unidos e Bielorússia no grupo A; Canadá, Finlândia, Suécia, República Tcheca e Alemanha no grupo B.

Brilhar nessa competição é quase certeza de futuro na NHL. Inclusive, muitos dos jovens que irão atuar já possuem vínculo com alguns clubes da mais famosa liga de hóquei do mundo. Mais à frente (na edição 29) veremos que boa parte dos jogadores que se destacaram no mundial de 2002 já possuem seu espaço na NHL. E na primeira parte daquela matéria, presente nesta edição, teremos o resumo das competições entre 1974-82. Em todas elas estiveram presentes nomes como Gretzky, Lemieux, Yzerman, Fetisov, Forsberg, Kurri, Fetisov, Jagr e outra infinidade de estrelas que ocuparia no mínimo mais dez linhas desta coluna.

Assim como nos Jogos Olímpicos, onde Rússia e Canadá são os maiores vencedores de medalhas douradas, o mundial júnior também tem nesses dois países suas maiores potências. A Rússia, detentora do título, tem 14 conquistas (incluindo três não-oficiais), quatro a mais que o Canadá, que não vence o torneio desde 1997, ano da melhor participação dos Estados Unidos, que, naquele mundial, disputado na Suíça, obteve a medalha de prata, a primeira e única final de Campeonato Mundial Júnior totalmente norte-americana. O título de 1997 foi o quinto em seguida dos canadenses.

Além de Rússia e Canadá, apenas mais três países venceram o torneio: República Tcheca (em duas oportunidades), Finlândia (também duas vezes) e Suécia (em uma oportunidade). Essas cinco seleções são as únicas que participaram de todos os 29 mundiais juniores até hoje. Além de ter mais medalhas douradas, a Rússia, que herdou os títulos da extinta União Soviética, é a única a ter ultrapassado os mil gols na competição. Possui também a menor média de gols sofridos por jogo entre as equipes que mais jogaram e maiores números de pontos e vitórias. Os russos foram medalhas de prata seis vezes, mesmo número de suecos e canadenses. Os Estados Unidos são a sexta força, com três medalhas (uma de prata e duas de bronze).

Desde a competição de 1993, quando terminaram na frustrante sexta posição, os russos compareceram ao pódio em todas as edições, exceto em 2001, onde naufragaram, curiosamente atuando em casa. Neste período, foram dois ouros, três pratas e três bronzes. Durante este tempo aconteceram 11 partidas entre russos e canadenses. O equilíbrio é total: foram cinco vitórias para cada seleção e um empate.

Entretanto, a última partida deixou um gosto amargo para os canadenses.

O último mundial júnior foi realizado na República Tcheca. Na partida final, em janeiro deste ano, em Pardubice (cidade natal de Dominik Hasek), a Rússia venceu o Canadá em um disputadíssimo jogo, por 5-4. O Canadá teve a vantagem de dois gols no marcador por duas vezes na partida. O goleiro canadense Pascal Leclaire chegou à final tendo levado apenas quatro gols na competição e tendo à sua frente Carlo Colaiacovo e Jay Bouwmeester — um dos mais promissores defensores da atualidade, selecionado em terceiro lugar geral no recrutamento de 2002 pelo Florida Panthers e que já atua regularmente na NHL. Bouwmeester foi eleito para a seleção ideal da competição em seu terceiro mundial júnior, sendo que nos dois anteriores conquistou medalhas de bronze. Porém, do outro lado havia uma dupla que já é falada na NHL, mais precisamente na Califórnia: Stanislav Chistov, também na seleção ideal do torneio, e Alexander Frolov.

Dos 30 chutes russos na final, 5 vazaram Leclaire, 4 deles entre as pernas. Frolov, Chistov, Alexander Polushin, Yuri Trubachev e Anton Volchenkov — que marcou o gol da vitória com pouco mais de cinco minutos para o final da partida — foram os carrascos. Para o Canadá, Chuck Kobasew, do Calgary Flames, marcou duas vezes, com Brian Sutherby e Scottie Upshall completando o placar.

Não foi apenas o goleiro canadense que decepcionou na final. A principal linha do Canadá teve os três maiores pontuadores da competição: Brad Boyes — central da seleção e prospecto dos Leafs — teve nove pontos, Mike Cammalleri, que já joga algumas partidas da NHL (Los Angeles Kings), foi eleito o melhor atacante da competição (11 pontos) e Jared Aulin (9 pontos). Mas os três passaram em branco na partida contra os russos.

A polêmica ficou no gol, com Leclaire sendo eleito o melhor goleiro da competição, quando muitos achavam que o prêmio deveria ser entregue ao finlandês Kari Lehtonen, outro selecionado na primeira rodada do último recrutamento, pelo Atlanta Thrashers. Lehtonen teve a menor média de gols sofridos (1,17) e a melhor porcentagem de defesas da competição (94,0%). Leclaire foi a primeira escolha dos Blue Jackets no recrutamento de 2001 e atua no Syracuse, afiliado do Columbus na AHL.

Os outros três que integraram a seleção do Mundial Júnior de 2002: o defensor russo Igor Knyazev, escolhido na primeira rodada pelo Carolina Hurricanes no recrutamento de 2001, o atacante eslovaco Marek Svatos, que tem vínculo com o Colorado Avalanche e atua na equipe menor dos Avs na AHL (Hershey Bears), e, finalmente, o já citado Chistov, jogador dos Mighty Ducks, que vem se destacando como um dos melhores novatos da temporada atual.

Uma rápida análise das dez equipes e dos prováveis destaques deste Mundial Júnior 2003:

Para esta competição de 2002-03, a Rússia traz Alexander Ovechkin, de apenas 17 anos, que ainda tem idade para atuar em mais dois Mundiais. Muitos olheiros acreditam que o jovem atacante do Dínamo de Moscou pode ser o diferencial para que a Rússia obtenha mais um título. Vale lembrar que muita gente na NHL já está de olho em Ovechkin, mas ele só estará disponível para recrutamento em 2004.

Ovechkin estará na principal linha da equipe, juntamente com Yuri Trubachev e Alexander Polushin. A segunda linha provavelmente terá o central e o prospecto dos Red Wings Igor Grigorenko, além de Alexander Perezhogin (prospecto do Montreal Canadiens) e Timofei Shishkanov (prospecto do Nashville Predators).

O goleiro do Spartak Moscou, Andrei Medvedev, que foi retirado durante a última final para dar lugar a Sergei Mylnikov, está mais maduro e deve ser uma das armas da equipe. Medvedev tem vínculo com o Calgary Flames. Na defesa, dois jogadores com muito potencial: Fedor Tyutin, que pertence aos Rangers, teve um grande ano na Liga de Hóquei de Ontário, uma das três grandes ligas juniores do Canadá, e Denis Grebeschkov, recrutado pelos Kings em 2002, competirá em seu terceiro Mundial Júnior.

Na seleção finlandesa, os destaques têm sobrenomes bem conhecidos: o defensor Jussi Timonen, irmão do também defensor Kimmo Timonen, dos Predators, o atacante Tuomo Ruutu, irmão do asa esquerdo Jarkko Ruutu, jogador do Vancouver Canucks, e de Mikko Ruutu, um dos destaques do atual campeão finlandês Jokerit Helsinki. Outro central de talento é Jussi Jokinen, que tem passe vinculado ao Dallas Stars e possui bons números atuando no modesto Karpat da liga finlandesa. O maior desfalque será o atacante Mikko Koivu, irmão mais novo do jogador dos Canadiens Saku Koivu e prospecto do Minnesota Wild, cortado devido a uma contusão no tornozelo.

Com a ausência de Koivu, o central Sean Bergenheim será mais exigido do que nunca. Bergenheim, 22.ª escolha geral do último recrutamento (New York Islanders), vem de um magnífico Mundial Sub-18, onde marcou 12 pontos em apenas oito jogos. É tido como um dos mais rápidos jogadores desse mundial e um central que joga bem tanto no ataque quanto na defesa. No gol, o já citado Lehtonen, o goleiro europeu mais bem recrutado na história da NHL. Ele atua no Jokerit Helsinki e irá tentar repetir os excelentes números obtidos no último mundial.

Da Finlândia vamos à vizinha e tradicional rival Suécia. Lá também há jogadores de sobrenomes famosos chamando atenção. O central Alexander Steen nasceu em Winnipeg, Canadá, enquanto seu pai, Thomas Steen, atuava pelos Jets. Alexander foi selecionado pelo Toronto Maple Leafs na primeira rodada do recrutamento de 2002. Enquanto não é chamado pelo Leafs, o jovem jogador vem desenvolvendo seu jogo atuando por uma das principais equipes suecas, Vastra Frolunda. Alexander deverá ser o capitão da equipe. Apenas por curiosidade, seu pai Thomas já foi eleito para a seleção ideal de um Mundial Júnior (1979).

Já Robert Nilsson tem história parecida. Também nasceu no Canadá (Calgary) e defenderá a seleção sueca. Ele é filho de Kent Nilsson, um dos maiores jogadores da história do hóquei sueco, que brilhou na WHA e NHL, onde venceu a Stanley Cup defendendo o Edmonton Oilers, em 1988. Robert atua no Leksand da Elite League.

Os Estados Unidos apostam na mesma base que conquistou o último Mundial Sub-18. Ao todo, serão sete remanescentes da histórica conquista, com destaques para o central Christopher Higgins, da prestigiada universidade de Yale, artilheiro da equipe no último Mundial Júnior, e para o também central Patrick O'Sullivan, um dos destaques da tradicional Liga de Hóquei de Ontário na última temporada, além de ter ficado entre os melhores do último Mundial Sub-18. São alguns dos jogadores que tentarão dar aos Estados Unidos sua primeira medalha de ouro em um Mundial Júnior.

O asa direito Eric Nystrom, da Universidade de Michigan, é filho do sueco Bob Nystrom, um das peças-chave dos supervitoriosos Islanders do início da década de 80. Eric defenderá a seleção dos Estados Unidos neste mundial.

O Canadá será treinado pelo ex-jogador de Red Wings e North Stars, Marc Joseph Habscheid. O treinador venceu essa mesma competição, como jogador, em 1982. Foi a primeira medalha de ouro conquistada pelo Canadá em um Mundial Júnior. Habscheid manteve quatro jogadores que conquistaram a prata no último mundial: o defensor Carlo Colaiacovo, que já atuou pelos Leafs em algumas partidas da NHL, Scottie Upshall, também com algumas partidas na NHL com os Predators e provável capitão da seleção, o defensor Nathan Paetsch e o atacante de características defensivas Jay McClement.

Pierre-Marc Bouchard, sem dúvida, será um dos mais visados jogadores da competição. A Federação Canadense de Hóquei obteve permissão especial do Minnesota Wild para convocar o jogador, que atualmente milita no Chicoutimi da QMJHL. O central Bouchard marcou 46 gols e 140 pontos em apenas 69 jogos na principal liga júnior de Quebec na temporada passada, além de ter atuado alguns jogos pelo Wild nesta temporada. Marc-Andre Fleury deverá ser o titular entre as traves.

Habscheid provavelmente buscará tomar vantagem em atuar no gelo de pequenas dimensões do Halifax Metro Centre, bem menor do que as outras quatro seleções européias que completam o grupo estão acostumadas. Para complementar, esta será a sexta edição da competição a ser realizada no Canadá. Nas outras cinco, sempre a seleção chegou ao pódio, tendo sido duas vezes campeã (1991 e 1995).

A República Tcheca tenta apagar a má imagem deixada no último mundial, realizado em sua casa, em que terminou na sétima posição. Os tchecos serão comandados pelo experiente Jaroslav Holik, pai do central dos Rangers Bobby Holik. Um dos poucos que receberão uma segunda chance após a decepção de janeiro será Ales Hemsky, recrutado na primeira rodada pelos Oilers em 2001. Hemsky liderou a seleção no último mundial, com nove pontos em sete jogos. Além dele, retornarão Jiri Novotny, Jiri Hudler e Lukas Kraijeck. Será uma excelente oportunidade para a direção dos Red Wings olhar mais de perto Jiri Hudler, um pequeno central muito habilidoso selecionado na segunda rodada do recrutamento deste ano.

A Alemanha volta ao grupo de elite, de que não fazia parte desde 1998, e terá no central Marcel Goc, irmão do defensor do Tampa Bay Lightining Sascha Goc, seu jogador mais talentoso. Nas últimas duas temporadas ele atuou na liga adulta alemã pelo Schwennigen. Para completar, já tem participações pela seleção principal e foi selecionado em 20.º lugar, na primeira rodada do recrutamento de 2001 pelos Sharks (a melhor posição de um jogador alemão na história da NHL). Outro atleta recrutado pelos Sharks é o goleiro Dmitry Patzold, que, na verdade, nasceu no Cazaquistão (assim como o goleiro titular dos Sharks, Evgeny Nabokov), mas tem parentes germânicos e pode defender as cores do país europeu.

Com a divisão da Tchecoslováquia, em 1993, muitos duvidavam do futuro da Eslováquia dentro do hóquei mundial. A República Tcheca herdou todas as conquistas e glórias conquistadas na época em que os dois países eslavos ainda eram apenas um, enquanto o hóquei júnior da Eslováquia foi parar no grupo C do mundial (espécie de terceira divisão). Quase uma década depois, os eslovacos vêm trabalhando firme para provar que merecem fazer parte da elite. A medalha de bronze conquistada em 1999, em Winnipeg, prova que estão no caminho certo. Para este mundial, a seleção não terá mais o artilheiro Marek Svatos, por já ter ultrapassado a idade-limite. Mas Igor Pohanka, que também fez um ótimo mundial em janeiro, estará presente. Na defesa, o destaque é um jogador que conhece bem o palco do mundial: Milan Jurcina, recrutado pelos Bruins em 2001, produziu 21 pontos em 61 jogos com o Halifax Mooseheads da QMJHL na última temporada.

Outra nação que tenta conquistar de vez seu lugar é a Bielorússia. A ex-república soviética tem alcançado ótimos resultados com a seleção adulta, como o quarto lugar nos últimos Jogos Olímpicos, e agora tenta alcançar o mesmo grau de sucesso no Mundial Júnior. O programa para desenvolver jovens jogadores já revelou frutos preciosos, como o versátil jogador do Detroit Red Wings Sergei Fedorov, que, apesar de ter nascido em Pskov, na Rússia, foi para a conhecida Yunost Hockey School em Minsk se aprimorar.

A participação da Bielorússia no último Mundial Júnior não foi das melhores. Andrei Kastsitsyn e Konstantin Zakharau foram dois dos poucos que quase se destacaram e estarão de volta. O goleiro Vitaly Aristau fez sua estréia em um Mundial Júnior com apenas 15 anos, em 1999, e deverá ser o titular entre as traves na Nova Escócia. Aristau é treinado por Vitaly Erfilov, que teve entre seus ex-alunos nada mais nada menos que Vladislav Tretiak.

Por falar em goleiros, uma nação participante tem que agradecer a um agora famoso goleiro por sua melhor colocação em mundiais sub-20. David Aebischer foi um gigante em 1998, na Finlândia, quando ajudou a Seleção Suíça a bater a República Tcheca e conquistar a inédita medalha de bronze. Como bônus, foi eleito o melhor goleiro da competição. De lá para cá, os suíços vêm sempre incomodando e chegaram às semifinais novamente no último mundial, quando perderam o bronze para os finlandeses.

Quem tentará seguir os passos de Aebischer no gol neste ano é Tobias Stephan, selecionado pelo Dallas Stars na segunda rodada do recrutamento de 2002. Além de rápidos reflexos, o goleiro tem a confiança em alta após um belo Mundial Sub-18. Dois defensores com passe vinculado ao Phoenix Coyotes também prometem: Beat Forster e Severin Blindenbacher desenvolvem suas habilidades em fortes equipes da sempre competitiva liga suíça e vão atuar sob os olhares atentos de Wayne Gretzky.

Boa parte da equipe será integrada por jogadores que conquistaram a prata no último Mundial Sub-18, com destaque na frente para Kevin Romy, um jogador que é nome certo para o próximo recrutamento da NHL, e Patrik Bärtschi, selecionado pelo Pittsburgh Penguins no último recrutamento. Bärtschi é um dos melhores novatos da liga de seu país, com uma média próxima a um ponto por partida.

Agora é deixar a molecada mostrar o que sabe. Toda a equipe da Slot BR estará atenta ao que de melhor acontecer no mundial. Até a próxima semana.

Eduardo Costa está com a Rússia neste mundial assim como o panetone está para o Natal.
 
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Página publicada em 25 de dezembro de 2002.