10 de abril de 2002
Mec: Um milagre da água para o suco de uva

Por J. J. Júnior, o Mec

No dia 24 de abril de 1994, o New York Islanders despedia-se dos playoffs da temporada 1993-94 da NHL em pleno Nassau Veterans Memorial Coliseum com uma humilhante derrota para os inimigos mortais, o New York Rangers, em quatro jogos (quatro vitórias dos Rangers). Depois dessa temporada, os Islanders nunca mais provaram do gostinho de participar dos playoffs da Stanley Cup, mas, depois de sete medíocres temporadas, os Islanders novamente irão aos playoffs, depois da vitória sobre os Capitals no último sábado, quando chegaram aos 90 pontos e garantiram a vaga.

Esta temporada de 2001-02 representa uma nova fase dos Islanders, uma mudança radical da água para o suco de uva -- pois para o vinho faltam alguns detalhes que levem os novos Islanders a um excelente time como os do final dos anos 70 a meados dos anos 80. O time de Long Island passou por várias modificações nestes últimos anos, como falaremos à seguir. No final de 1995, Mike Milbury foi nomeado gerente geral dos Islanders e vem gerenciando este time e passando por várias turbulências e muitas atrapalhadas, fazendo trocas ridiculas e estapafúrdias. Nas próximas edições falaremos sobre a carreira de Mike Milbury nos Isles.

Em abril de 2000 um executivo da Computer Associates, Charles Wang, adquiriu o time pela bagatela de US$ 175 milhões e não ficou feliz pela campanha pífia da temporada 2000-01, com o time terminando como pior equipe da temporada, com minguados 52 pontos, fora os prejuízos que o time causou. Depois disso, as más linguas e uma parte da imprensa de Long Island dizem que Wang deu um ultimato a Milbury. Ou ele teria uma temporada vitoriosa no ano seguinte ou seria demitido. Após essa suposta conversa entre eles, vimos um novo New York Islanders.

Primeiramente, Milbury tinha que procurar um novo técnico no mercado, alguém que tivesse credibilidade e competência. Falou-se em Ted Nolan, Kevin Constantine, Robbie Ftorek e até Pat Burns, mas, surpreendemente, veio um jovem técnico de 36 anos. Qual o nome dele? Peter Laviolette. Peter quem? O que ele fez? Bem, antes de ser treinador, Laviolette jogou pelo time norte-americano olímpico e jogou 12 jogos na NHL pelo New York Rangers na temporada 1988-89, sem fazer nada de útil. Em 1998 Laviolette tornou-se treinador do Providence Bruins, afiliado do Boston Bruins na AHL, e, na sua primeira temporada, conseguiu ter uma campanha vitoriosa de 56 vitórias, 16 derrotas e 4 empates, levando o Providence Bruins ao titulo da Calder Cup de 1999. Depois foi promovido pelo Boston Bruins na temporada de 2000-2001, tornando-se assistente técnico de Pat Burns e depois de Mike Keenan. Com esse "curriculum vitae", Laviolette conquistou Milbury.

Com um técnico nos Isles, Milbury quis ter um novo elenco e partiu com tudo no recrutamento da NHL de 2001. Com a segunda escolha, Milbury viu o que poderia fazer e deu uma cartada surpreendente. Ofereceu ao Ottawa Senators a segunda escolha, o defensor-açougueiro Zdeno Chara e o ala direita Bill Muckalt pelo central russo Alexei Yashin. Os Sens aceitaram e conseguiram nesta escolha o jovem Jason Spezza. Milbury conseguiu um provável mártir do time, mas quem achou que Milbury se dava por satisfeito enganou-se. No mesmo dia conseguiu trocar o ala esquerda Taylor Pyatt e a revelação do time, o central jovem Tim Connolly pela estrela e central do Buffalo Sabres, Mike Peca, e os Sabres aceitaram! Pronto: Milbury pegou um craque e um líder para o elenco e a NHL ficou boquiaberta!

Mas a vinda de novos jogadores ainda não havia terminado. Laviolette pediu a Milbury que contratasse um jovem jogador com a aceitação do técnico e o GG concordou. Veio o jovem central/ala esquerdo Shawn Bates. E a defesa? Os Isles perderam Garry Galley e Kevin Haller, mas vieram do Tampa Bay Lightning o defensor Adrian "Big Shot" Aucoin e o ala direito russo Alexander Kharitonov pelo defensor Mathieu Biron e uma escolha do recrutamento de 2002.

O gol do time era outro problema: perderam Chris Terreri e Rick DiPietro ainda precisava de mais experiência no gelo. Milbury contratou Garth Snow, do Pittsburgh Penguins, e Chris Osgood veio do Detroit Red Wings. E, para encerrar, Milbury contratou o mitológico ex-goleiro dos Islanders Billy Smith para ser treinador de goleiros e resolveu que Snow e Osgood seriam os goleiros e DiPietro iria ganhar mais experiência no novo afiliado da equipe, o Bridgeport Sound Tigers.

Agora vamos falar do outro fator que tem dado certo aos Islanders: é justamente o seu afiliado na AHL, os Sound Tigers, que, na sua primeira temporada na AHL, já vem liderando a Divisão Leste com 94 pontos. Rick DiPietro tem sido um dos principais destaques do time, com 29 vitórias (liderando a liga neste quesito), assim como Ray Giroux, Ken Sutton, Juraj Kolnik, Raffi Torres, Branislav Mezei, Justin Mapletoft, Trent Hunter, Jason Krog, Marko Tuomäinen e Jason Podollan também têm se destacado e até jogaram pelos Isles nesta temporada quando solicitados.

Voltando aos Isles, o time começou em outubro assombrando a NHL com uma seqüência de seis partidas sem derrotas fora de casa que só foi acabar diante do Detroit Red Wings, que venceu os Islanders na Joe Louis Arena por 2-1 . Aos poucos, houve uma leve perda de rendimento e o time voltou a ser regular. Mas Laviolette não estava satisfeito: o time acabou perdendo o jovem defensor Radek Martinek pelo resto da temporada e ele era uma das chaves da boa temporada do Isles. As linhas três e quatro não vinham rendendo o esperado e as críticas da imprensa eram evidentes.

Até que, em janeiro de 2002, Laviolette pediu dois reforços: um enforcer, que seria o ala direito Jim Cummins, e o veteraníssimo central Kip Miller, com boas passagens pelo Pittsburgh Penguins, que estava indo muito bem no Grand-Rapids Griffins da AHL, com 21 gols e 35 assistências em 41 jogos. Bingo para Laviolette! A terceira linha dos Isles, com Mats Lindgren, Kip Miller e Dave Scatchard, entrosou-se muito bem e salvou o time com boas vitórias apertadas ou livrando-o de derrotas dadas como certas.

Faltavam agora um ou mais defensores e alguns enforcers para equilibrar de vez o elenco e a data-limite de trocas estava chegando. Não faltaram nomes e especulações. O defensor Tom Poti entrou nos boatos e só não virou um Islander porque Mike Milbury pediu, além de Poti, o ala direito Mike Grier pelo ala direito Brad Isbister e o gernet geral do Edmonton Oilers, Kevin Lowe, desistiu, fazendo negócio com os Rangers. Novamente Laviolette deu uma opinião e Milbury acatou: contratou o defensor Darren Van Impe e o ala direito Dave Roche.

Agora estamos quase no fim da temporada regular da NHL e os Isles na reta final vêm jogando muito bem. O time reagiu bem a jogos cruciais, como a vitória contra o New Jersey Devils na segunda-feira e as vitórias fora de casa contra o Toronto Maple Leafs e, principalmente, contra o líder da Conferência Leste, o Boston Bruins, por 2-1, tendo um Garth Snow defendendo muito bem (sinceramente, nem parecia o Snow "Barril de Gatorade" da metade da temporada) e o gol vencedor na prorrogação de Oleg Kvasha -- lindo, por sinal; foi até a jogada da semana do programa World Sport, da CNN. A vitória levou os Isles a 88 pontos, marca que não atingiam desde 1987-88.

Para vocês, leitores, terem uma idéia de como o New York Islanders é outro time, Alexei Yashin (32 gols) e Mark Parrish (30 gols) possuem mais de 30 gols na temporada e isso não acontecia desde a temporada de 1993-94. Chris Osgood, mesmo alternando grandes partidas com momentos dignos de "piores clipes", possui quatro shutouts e possui 29 vitórias. Com mais três, Osgood pode igualar o recorde de vitórias (32) de Billy Smith! Mas o recorde de vitórias de Osgood é de 39 vitórias, com o Detroit Red Wings, na temporada de 1995-96. Garth Snow tem sido regular com dois shutouts (ambos os shutouts foram contra o Philadelphia Flyers no First Union Center). Os dois possuem um bom relacionamento e, para provar, são companheiros de quarto.

A torcida também vem colaborando com o time, juntamente com o mascote, chamado Sparky the Dragon, e as maravilhosas Pepsi Ice Girls. Para vocês terem uma noção, no ano passado o Nassau Coliseum só teve lotação esgotada em quatro oportunidades e agora, até a partida contra o New Jersey Devils na segunda-feira, a torcida lotou o Coliseum em 20 oportunidades, restando três jogos em Long Island com dois em que os ingressos já foram vendidos completamente.

Enfim, esses fatos demonstram que os Islanders são um novo time e podem dar mais alegrias à sua torcida e limpar o passado obscuro que perseguia a instituição de quatro Stanley Cups seguidas e muitas vitórias!

J.J. Junior, 21 anos, é admirador do New York Islanders, critico de Garth Snow e Mike Milbury, e é braço direito de Sparky the Dragon.
 
MARCANDO GOLS Mark Parrish é um dos principais fatores da boa campanha dos Isles. Aqui ele aparece comemorando um de seus dois gols contra o Toronto Maple Leafs (Frank Gunn/AP - 28/03/2002)
 
TAMBÉM MARCANDO GOLS Alexei Yashin veio de Ottawa para ser o mártir de Long Island e tem correspondido. Aqui ele aparece fazendo seu 250.º gol, em cima de Martin Brodeur, do New Jersey Devils (Ed Betz/AP)
 
TAMBÉM MARCANDO GOLS Pupilo de Peter Laviolette, Shawn Bates é uma das gratas revelações dos Isles nesta temporada e é também parte fundamental do elenco. Aqui ele marca seu gol contra o New Jersey Devils (Ed Betz/AP)
 
MARCANDO, OU MELHOR, DEFENDENDO Chris Osgood tem feito bons jogos pelos Isles e já possui quatro shutouts. Ele conquistou a sua 28.ª vitoria neste jogo contra o Toronto Maple Leafs (Andrew Wallace/Reuters)
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Página publicada em 08 de abril de 2002.