10 de abril de 2002
Giesbrecht: Estava para chegar uma temporada ruim para os Pens

Por Alexandre Giesbrecht

Há dois modos de se ver os últimos jogos que o Pittsburgh Penguins jogou para cumprir tabela. Você pode lamentar o fato de que o time não está indo a lugar algum e não tem ninguém mais a que valha a pena se assistir, agora que Mario Lemieux, Martin Straka e Robert Lang estão contundidos e Alexei Kovalev tem sido sobrecarregado todas as noites pela principal linha de choque de cada adversário. Ou você pode simplesmente engolir o sapo, encarar a realidade e perceber que esta noite de hóquei sombria em Pittsburgh já estava para chegar.

Ei, uma vez a cada 19 anos não é tão mal assim!

Mas isso não significa que a cena não tem sido surreal na Mellon Arena. Normalmente, nesta época do ano estamos prontos para ver os Penguins começando sua caminhada rumo à Stanley Cup. Os torcedores que lotam a arena estão empolgados com o que está por vir. A energia é palpável. só que no último jogo em casa, contra o Montreal Canadiens, por exemplo, era o time visitante o único que tinha chances de classificação. Havia centenas, senão milhares, de lugares vazios no início do jogo, número que aumentou drasticamente ao final do segundo período, com os Canadiens três gols à frente, a apenas um período de uma fácil vitória por 3-0. Foi mais ou menos como um jogo do Tampa Bay Lightning. Ou, pior, um jogo do América no Rio-São Paulo a essa altura.

Foi tão deprimente quanto possível. Mas também foi um bom lembrete de quão sortudos têm sido os torcedores de Pittsburgh.

Todos sabem que faz 12 anos que os Penguins não deixam de ir aos playoffs. Lembram-se do gol na prorrogação de Uwe Krupp, então no Buffalo Sabres, no último jogo da temporada de 1989-90, que eliminou o time? O Gerente Geral Craig patrick certamente se lembra. Ele ainda está furioso por terem perdido uma temporada em que Mario Lemieux, com costas ruins e tudo, teve uma seqüência de 46 jogos seguidos marcando pontos. Foi depois daquela derrota para os Sabres que ele prometeu que o time nunca mais ficaria de fora dos playoffs de novo enquanto ele estivesse no comando. De alguma maneira, parece injusto chamá-lo de mentiroso tantos anos depois.

Já faz ainda mais tempo desde que não havia uma razão -- excetuando, claro, o fanatismo -- para assistir aos Penguins.

Eles não se classificaram para os playoffs em nenhuma temporada entre 1985 e 1988, mas eles tinham Lemieux. Ao menos ele valia o alto preço de um ingresso. Durante essas quatro temporadas, ele ganhou o prêmio de novato do ano, duas vezes os prêmios de jogador mais valioso (MVP) no Jogo das Estrelas e, em 1987-88, o primeiro de seus seis Troféus Art Ross como artilheiro e o primeiro de seus três Troféus Hart Memorial como MVP da NHL. Mais do que tudo isso: ele deu à franquia algo de que ela precisava desesperadamente: esperança.

Os Penguins tiveram uma campanha patética de 16-58-3 em 1983-84, mas aquela temporada tinha ingredientes bastante intrigantes. Eles precisavam terminar na última colocação da NHL para ganhar a primeira escolha no recrutamento e, com ela, a chance de recrutar aquele sujeito grande de Montreal, o tal de Lemieux. Foi uma das poucas vezes na história dos esportes que a torcida conscientemente aparecia torcendo para o time da casa perder. Muito freqüentemente, eles obedeciam -- alguns diriam que com boa vontade demais -- e acabaram a temporada com três pontos a menos que o New Jersey Devils. Deve ter sido a melhor lanterinha que qualquer time já segurou.

Isso significa que você tem de voltar até 1982-83 para achar uma temporada que tenha terminado como esta. A campanha foi de 18-53-9 e o time amargou a lanterninha da liga. Doug Shedden foi o artilheiro, com 67 pontos. A não ser que a torcida visse uma briga de Gary Rissling, iria desapontada para casa. Não que muitos se incomodassem a ponto de ir aos jogos.

Quem poderia ter adivinhado o que o futuro traria?

Lemieux e Jaromir Jagr. Eles combinaram 11 Troféus Ross e quatro Hart. A chance de assistir a outros membros e futuros membros do Salão da Fama, como Paul Coffey, Ron Francis, Larry Murphy, Bryan Trottier, Joe Mullen, Tom Barrasso e Luc Robitaille. A chance de ver Ulf Samuelsson tormentar Cam Neely e de Darius Kasparaitis nocautear Eric Lindros. E, claro, os 11 anos seguidos nos playoffs, que incluíram a segunda melhor campanha dos anos 90, cinco títulos de divisão, um Troféu Presidente, dois títulos da Stanley Cup e duas outras aparições na final da Conferência Leste.

Foi uma bela jornada.

Para quem torce para os Penguins, é difícil aceitar que ela tenha acabado, assim como é difícil admitir que demorou para chegar a hora de jogos como os da última semana e os demais que ainda estão por vir antes de a temporada finalmente acabar.

E a torcida de Pittsburgh há de concordar comigo: não há motivo para reclamar, principalmente se lembrarmos que a próxima temporada promete, se as contusões deixarem de acontecer a cada jogo.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, estava ouvindo "Vow", do Garbage, quando terminou a coluna.
 
MUITA BORRACHA Johan Hedberg viu mais borracha do que nunca à sua frente nessa temporada e uma boa parte acabou atrás dele, como este disco chutado por Dave Andreychuk, do Tampa Bay Lightning (Steve Nesius/AP - 04/04/2002)
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Página publicada em 08 de abril de 2002.