Por
Alexandre Giesbrecht
Há dois modos de se ver os últimos jogos que o Pittsburgh
Penguins jogou para cumprir tabela. Você pode lamentar o fato
de que o time não está indo a lugar algum e não
tem ninguém mais a que valha a pena se assistir, agora que Mario
Lemieux, Martin Straka e Robert Lang estão contundidos e Alexei
Kovalev tem sido sobrecarregado todas as noites pela principal linha
de choque de cada adversário. Ou você pode simplesmente
engolir o sapo, encarar a realidade e perceber que esta noite de hóquei
sombria em Pittsburgh já estava para chegar.
Ei, uma vez a cada 19 anos não é tão mal assim!
Mas isso não significa que a cena não tem sido surreal
na Mellon Arena. Normalmente, nesta época do ano estamos prontos
para ver os Penguins começando sua caminhada rumo à Stanley
Cup. Os torcedores que lotam a arena estão empolgados com o que
está por vir. A energia é palpável. só que
no último jogo em casa, contra o Montreal Canadiens, por exemplo,
era o time visitante o único que tinha chances de classificação.
Havia centenas, senão milhares, de lugares vazios no início
do jogo, número que aumentou drasticamente ao final do segundo
período, com os Canadiens três gols à frente, a
apenas um período de uma fácil vitória por 3-0.
Foi mais ou menos como um jogo do Tampa Bay Lightning. Ou, pior, um
jogo do América no Rio-São Paulo a essa altura.
Foi tão deprimente quanto possível. Mas também
foi um bom lembrete de quão sortudos têm sido os torcedores
de Pittsburgh.
Todos sabem que faz 12 anos que os Penguins não deixam de ir
aos playoffs. Lembram-se do gol na prorrogação de Uwe
Krupp, então no Buffalo Sabres, no último jogo da temporada
de 1989-90, que eliminou o time? O Gerente Geral Craig patrick certamente
se lembra. Ele ainda está furioso por terem perdido uma temporada
em que Mario Lemieux, com costas ruins e tudo, teve uma seqüência
de 46 jogos seguidos marcando pontos. Foi depois daquela derrota para
os Sabres que ele prometeu que o time nunca mais ficaria de fora dos
playoffs de novo enquanto ele estivesse no comando. De alguma maneira,
parece injusto chamá-lo de mentiroso tantos anos depois.
Já faz ainda mais tempo desde que não havia uma razão
-- excetuando, claro, o fanatismo -- para assistir aos Penguins.
Eles não se classificaram para os playoffs em nenhuma temporada
entre 1985 e 1988, mas eles tinham Lemieux. Ao menos ele valia o alto
preço de um ingresso. Durante essas quatro temporadas, ele ganhou
o prêmio de novato do ano, duas vezes os prêmios de jogador
mais valioso (MVP) no Jogo das Estrelas e, em 1987-88, o primeiro de
seus seis Troféus Art Ross como artilheiro e o primeiro de seus
três Troféus Hart Memorial como MVP da NHL. Mais do que
tudo isso: ele deu à franquia algo de que ela precisava desesperadamente:
esperança.
Os Penguins tiveram uma campanha patética de 16-58-3 em 1983-84,
mas aquela temporada tinha ingredientes bastante intrigantes. Eles precisavam
terminar na última colocação da NHL para ganhar
a primeira escolha no recrutamento e, com ela, a chance de recrutar
aquele sujeito grande de Montreal, o tal de Lemieux. Foi uma das poucas
vezes na história dos esportes que a torcida conscientemente
aparecia torcendo para o time da casa perder. Muito freqüentemente,
eles obedeciam -- alguns diriam que com boa vontade demais -- e acabaram
a temporada com três pontos a menos que o New Jersey Devils. Deve
ter sido a melhor lanterinha que qualquer time já segurou.
Isso significa que você tem de voltar até 1982-83 para
achar uma temporada que tenha terminado como esta. A campanha foi de
18-53-9 e o time amargou a lanterninha da liga. Doug Shedden foi o artilheiro,
com 67 pontos. A não ser que a torcida visse uma briga de Gary
Rissling, iria desapontada para casa. Não que muitos se incomodassem
a ponto de ir aos jogos.
Quem poderia ter adivinhado o que o futuro traria?
Lemieux e Jaromir Jagr. Eles combinaram 11 Troféus Ross e quatro
Hart. A chance de assistir a outros membros e futuros membros do Salão
da Fama, como Paul Coffey, Ron Francis, Larry Murphy, Bryan Trottier,
Joe Mullen, Tom Barrasso e Luc Robitaille. A chance de ver Ulf Samuelsson
tormentar Cam Neely e de Darius Kasparaitis nocautear Eric Lindros.
E, claro, os 11 anos seguidos nos playoffs, que incluíram a segunda
melhor campanha dos anos 90, cinco títulos de divisão,
um Troféu Presidente, dois títulos da Stanley Cup e duas
outras aparições na final da Conferência Leste.
Foi uma bela jornada.
Para quem torce para os Penguins, é difícil aceitar que
ela tenha acabado, assim como é difícil admitir que demorou
para chegar a hora de jogos como os da última semana e os demais
que ainda estão por vir antes de a temporada finalmente acabar.
E a torcida de Pittsburgh há de concordar comigo: não
há motivo para reclamar, principalmente se lembrarmos que a próxima
temporada promete, se as contusões deixarem de acontecer a cada
jogo.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, estava ouvindo "Vow",
do Garbage, quando terminou a coluna. |
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MUITA BORRACHA Johan Hedberg
viu mais borracha do que nunca à sua frente nessa temporada
e uma boa parte acabou atrás dele, como este disco chutado
por Dave Andreychuk, do Tampa Bay Lightning (Steve Nesius/AP - 04/04/2002) |
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