Por: Eduardo Costa

"O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas injustiças dos egoístas e pela tirania dos homens maus." Ezequiel 25:17

Quem acompanha hóquei desde a idade da pedra lascada deve saber quem é Quique Wolff. O homem mau e egoísta que queria extirpar o hóquei da ESPN mesmo quando a mesma tinha direito de transmissão para a América Latina perdeu a guerra.

Em posição fetal Quique Wolff deve estar chorando em alguma viela de Buenos Aires. Ver a ESPN tupiniquim, livre das garras de seu carrasco, com playoffs da NHL ao vivo em dias consecutivos foi espetacular. Fica aqui o elogio também para a equipe de comentaristas. Preparados e competentes.

Mas como hóquei nunca é o bastante, sucumbi à sedução do Game Center da NHL. Com a moeda ianque com câmbio acessível é altamente indicado. Confesso que me apaixonei pelo Picture-in-Picture do mesmo. Se dona patroa aceitasse e se fosse possível, faria um ménage à trois com ela e o Game Center. Mas a danada é ciumenta e não vai querer dividir o Game Center com ninguém...

Deixando de lado o papo furado, vamos a comentários rápidos sobre cada uma das séries do oeste após duas pelejas disputadas em cada uma delas.

Canucks-Blackhawks
Não basta ser bom, goleiro tem que ter sorte. As traves de Roberto Luongo foram bombardeadas no primeiro jogo da série. Quando os Hawks desviavam os discos das traves, Luongo aparecia, como em um definição de Brian Campbell no final do período inicial. O linha azul já erguia o braço para festejar o tento, mas Luongo negou, saindo imaculado da partida e vendo seu Vancouver abrir 1-0 na série. Destacável também a fúria dos Canucks, que aplicaram quase 50 trancos na partida.

Desvantagem após a primeira peleja contra Vancouver o time do Chicago já conhece e reverteu nas últimas edições dos playoffs, por isso o time da casa sabia da importância em vencer também o segundo jogo. Não foi fácil, mas a turma da Columbia Britânica prevaleceu.

Os atuais campeões estiveram sempre perto dos Canucks no marcador, mas Daniel Sedin mostrou porque foi o maior pontuador da temporada. As estrelas dos Canucks foram mais decisivas que os ases dos Blackhawks e o 3-2 dão uma bela vantagem para os comandados por Alain Vigneault. Se os Blackhawks quiserem manter vivo o sonho de chegar à sua quinta copa será necessário que Jonathan Toews e Marian Hossa comecem a pontuar. Ambos ainda estão zerados e não apresentaram hóquei condizente com o que podem oferecer.

O terceiro jogo, a ser disputado nesse domingo no United Center, certamente é o mais esperado do dia. Mais uma vitória dos Canucks e os últimos campeões já poderão começar a preparar as férias.

Sharks-Kings
Só não fico de pé para aplaudir a resiliência dos Kings porque é complicado manter o equilíbrio após meia garrafa de Jägermeister, mas eles merecem elogios. Estão dando trabalho aos favoritos San Jose Sharks, mesmo tendo que atuar sem o rei de todos os eslovenos Anze Kopitar. Mesmo derrotados no jogo nº1 mostraram poder de reação e força no conjunto. Começaram levando uma surra dos Sharks nos primeiros 20 minutos de jogo, é verdade, sofrendo um tento antes mesmo de completado o primeiro minuto de jogo.

O segundo período mostrou uma realeza mais confiante. O empate saiu por intermédio de um disparo muito acurado de Justin Williams, que voltou a atuar bem antes do esperado, provando que pos-temporada vale qualquer sacrifício. Mas tem um canalha que gosta de aparecer nos momentos decisivos. Obviamente não é Joe Thornton. Se um sacana de um tubarão pode perceber uma gota de sangue a 300m de distância em pleno mar raivoso, Joe Pavelski não fica atrás e mais uma vez começa quente em uma pos-temporada. Aproveitou uma rara chance na prorrogação para vencer Jonathan Quick e abrir vantagem no duelo estadual. Cudos também para Logan Culture que vacilou no lance do primeiro gol dos Kings, mas logo após compensou ao vencer Drew Doughty – que errou o tempo da jogada ao tentar dar um tranco em Culture nas bordas – e recolocar os Sharks na frente no placar.

Destaque negativo da partida ficou para o central Jarret Stoll que tentou fazer purê de Ian White ao espremer a face do mesmo contra as bordas. Jogada perigosa e desnecessária. Surpreendentemente a NHL suspendeu Stoll por um jogo, provando que nem sempre alta cúpula disciplinar da liga é complacente com atitudes violentas.

A determinação da zebra real foi recompensada no segundo jogo da série, em uma partida monstruosa do defensor Drew Doughty. Para alguns Doughty, inclusive para esse medíocre escriba que vos dirige a palavra, errou no lance do segundo gol dos Sharks no jogo um, porém ninguém se lembrará disso, e com razão, após a atuação fenomenal no jogo seguinte. Dois gols e quatro pontos. Mortal nas vantagens numéricas e certeiro no bote nas bordas. Sem dúvida a maior exibição de sua ainda curta carreira. Quick também foi preciso quando exigido, obtendo seu primeiro shutout em jogos de pos-temporada. Já os Sharks conseguiram até mesmo irritar sua quase sempre fiel torcida. Vaias foram escutadas durante períodos em pleno tanque.

Os Sharks permanecem como favoritos, mas se algum dos meus três leitores e ½ estão à procura de um vagão pra pular nessa pos-temporada, indico os Kings pela superação até aqui demonstrada. E também porque ao torcer pelos Kings você estará ao lado de Kopitar e isso não é pouca coisa!

Red Wings-Coyotes
Até mesmo os escroques da NBC - que só tinham olhos para dois atletas em toda a NHL - se renderam ao homem. Justificável, afinal a mais trivial jogada de Pavel Datsyuk coloca qualquer Van Gogh no chinelo. Quando Datsyuk manuseia o disco o mundo fica mais bonito. Até mesmo a Maria Bethânia quase fica aceitável – eu disse quase... Ok, nem mesmo Datsyuk consegue esse milagre.

E quando seu virtuosismo patina junto à produtividade, vemos um Detroit Red Wings forte que os Coyotes não conseguem acompanhar. Nem mesmo com a admirável entrega de se capitão Shane Doan que continua punindo fisicamente o oponente que veste vermelho tem sido o bastante. Doan mandou Johan Franzen para as bordas com um tranco brutal, porém dentro das regras. Franzen foi então remendar sua face, perdendo boa parte do prélio, encerrando assim sua incrível sequência de 13 partidas de playoffs seguidas com pelo menos um ponto.

Apesar da habitual longa soneca durante os jogos, os Wings vão para o deserto com uma vantagem de 2-0 na série. Vão tentar roubar pelo pelos menos um jogo e pavimentar o caminho da classificação mesmo com a sentida ausência de Henrik Zetterberg.

Ducks-Predators
Alguns ineptos ignoram essa série. Apesar de também admitir ser um ser humano limitado, dou a esse confronto o merecido reconhecimento. E até agora a recompensa é evidente. Dois jogos intensos e interessantes.

Vejam por exemplo Corey Perry e Shea Weber. Não existe peleja desinteressante quando esses dois estão no gelo. Perry provavelmente é o maior punk da liga. Amado, com justiça, pelos torcedores dos Ducks, é odiado por todas as outras torcidas. Provavelmente para orgulho do próprio Perry que após a derrota para os Preds no primeiro jogo saiu do gelo jurando vingança. Durante a partida ele aprontou das suas, tentando castrar o goleiro Pekka Rinne. Pouca gente discorda que se trata mesmo de um tremendo filho da &*%$, mas é um filho da &*%$ que joga muito e que acaba de levar o Troféu Maurice Richard para casa. No segundo prélio ele foi um dos melhores no gelo.

Do outro lado temos um dos mais completos linhas azuis da atual geração. Shea Weber terá problema com sua barba caso os Preds alcancem pelo menos a final do oeste, pois a mesma já está níveis natalinos (?). Jogador de disparo forte e certeiro, Weber pode até mesmo separar corpo e alma de seu oponente. Vê-lo em ação contra a sempre física equipe de Anaheim é um inegável atrativo.

As equipes dividiram os sucessos nos jogos iniciais. Os Preds foram mais disciplinados e se apoiaram em seu competente sistema defensivo na abertura da série. Rinne passou imune contra um time que tem duas fortíssimas linhas. O duo Weber e Ryan Suter tiveram trabalho extra, mas o resultado não poderia ter sido melhor: 2-0 em plena Califórnia. Porém segurar a força do time de Anaheim por dois jogos consecutivos não é tarefa das mais fáceis. A disciplina vista no jogo um não foi vista no prélio seguinte e os patos aproveitaram as chances em vantagem numérica no período inicial, incluindo aí uma de 5-contra-3, capitalizada pelo inoxidável Teemu Salanne.

Tudo o que desejo dessa série é que a mesma vá a um derradeiro sétimo confronto, o que geraria energia suficiente para iluminar a gloriosa cidade de Concórdia-SC por uns quatro anos.

Esse é o cenário atual do oeste nesses playoffs. Gostaria de fazer uma análise do que está acontecendo também no leste, mas alguém ainda tem meia garrafa de Jägermeister para beber, e esse alguém sou eu.

Eduardo Costa tem um cão que late toda vez que vê Corey Perry na TV.

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Página publicada em 17 de abril de 2011.