Quando o Montréal Canadiens trocou o herói da última campanha nos playoffs, o goleiro Jaroslav Halak, boa parte da torcida e da imprensa considerou como uma das piores trocas já realizadas pela franquia quebequense da NHL. O gerente da equipe foi tachado de burro e sem visão por muitos no Québec. Mas no final das contas, foi um negócio tão ruim assim?
Quero dizer, os Canadiens estão realmente sentindo falta de Halak? A resposta é que até o momento Halak não fez falta. E isso se deve a diversos fatores. Obviamente pesa o fato de Carey Price ter demonstrado um bom desempenho na primeira metade da temporada, estando entre os melhores goleiros da liga, notadamente entre outubro e o começo de dezembro.
Também têm pesado a favor do time o bom desempenho de jogadores de quem não se esperava tanta coisa assim, como Mathieu Darche, Jeff Halpern e Benoit Pouliot, além do amadurecimento dos novatos P.K. Subban, Yannick Weber, David Desharnais e Max Pacioretty.
Por outro lado, Andrei Kostitsyn e Scott Gomez têm deixado a desejar no esquadrão tricolor de Montréal. Isso sem falar na falta de um goleiro reserva capaz de inspirar um mínimo de confiança nos seus companheiros. Alex Auld não é nem de longe a sombra de um bom goleiro reserva que seja capaz de diminuir a sobrecarga do titular, e isso tem pesado contra na balança dos Canadiens para a temporada. Afinal de contas, qual o limite de Price? É certo que ele parece ter recuperado seu jogo e tem boas condições de ser um bom goleiro durante 50 a 60 partidas no máximo na temporada. Mas será que ele consegue manter o nível atuando 70 ou mais jogos na temporada?
São dúvidas que serão respondidas nas próximas semanas, quando a temporada se desenrola no seu último terço e os playoffs se aproximam. Para o bem da gerência seria bom que Price consiga segurar o tranco ou que Auld melhore sensivelmente, porque se Price não for capaz de segurar as rédeas, os críticos serão rápidos em apontá-lo como responsável pelo fracasso. E ele até pode ser mesmo, assim como nos playoffs de dois anos atrás, mas a diferença é que realmente agora ele está sendo sobrecarregado de trabalho sem ter demonstrado que é capaz de lidar com esse excesso de jogos. É uma aposta arriscada da diretoria.
Para piorar, os Canadiens não têm mais o terceiro goleiro com condições de disputar uma vaga de reserva no time, visto que eles trocaram o bom Cedrik Desjardins para o Tampa Bay. Lógico, a pedido do novo técnico dos Bolts, que era exatamente o técnico de Desjardins no Hamilton Bulldogs, o time afiliado menor dos Canadiens.
Mas aí você pode argumentar que Auld tem estatísticas melhores do que Price considerando a eficácia em defesas e a média de gols sofridos por partida. Ok, porém Auld jogou apenas oito partidas até aqui, contra 46 de Price. Nessas oito partidas ele foi sacado duas vezes, e Price nenhuma em 46 partidas. E se ainda assim você ainda tem dúvidas, eu sugiro uma coisa: assista a um jogo do Canadiens com Auld no gol e veja o comportamento dos jogadores no gelo. Depois veja uma partida com Price e perceba como os jogadores abdicam muito mais do ataque e ficam mais preocupados em defender quando Auld está jogando. Fato.
Não dá para esquecer que os Canadiens têm tido dificuldades com as contusões que alguns dos seus principais jogadores tiveram na temporada, notadamente a que tirou Andrei Markov do resto da temporada e provavelmente encerrou seus dias em Montréal. Markov lesionou novamente o mesmo joelho que tinha sido operado no ano passado, e a gravidade e a extensão da nova lesão não foram oficialmente divulgados, entretanto é bastante duvidoso que Markov tenha seu contrato renovado pelos Habs. Quem sabe se ele der um bom desconto...
Ah, e não dá para esquecer que os Habs também perderam outro bom defensor em Josh Gorges devido à contusão, e também pelo resto da temporada. Com tantas contusões, não dava para contar apenas com a reposição provida pelos novatos e os Canadiens foram atrás de James Wisniewski, que estava no New York Islanders e se mostrou uma excelente aquisição. Ele jogou apenas 15 partidas até aqui, mas já registrou 13 pontos, tendo se mostrado de fundamental importância quando os Canadiens estão em vantagem numérica. Se formos comparar em termos relativos, Wisniewski é o melhor jogador dos Habs na temporada em termos de pontos por partida disputada.
Apesar de terem total de pontos semelhantes (28 a 26), a temporada do novo capitão Brian Gionta nos dá uma noção geral bem melhor do que a de Scott Gomez. Talvez pelo fato de Gionta se mostrar mais ativo durante a maioria das partidas, sempre procurando produzir, procurando participar e mostrando uma grande força de vontade e disposição no gelo, enquanto Gomez às vezes passa a impressão de nem ter entrado no gelo durante a partida, ou muitas vezes mostrar-se totalmente desinteressado.
Se tivermos que escolher a decepção da temporada, a dúvida seria entre Gomez e o jovem Lars Eller. Apesar de ser novo, Eller veio na troca que envolveu Halak para o St. Louis, e esperava-se bem mais dele, que até aqui em 48 partidas registrou apenas 8 pontos (3 gols e 5 assistências).
Uma coisa temos que reconhecer: os Canadiens de hoje são um conjunto melhor do que o time da temporada passada. Por quê? Porque hoje eles são capazes de reagir em uma partida que começaram perdendo e ir buscar o resultado, seja jogando em casa ou como visitante, coisa que o time do ano passado era praticamente incapaz de fazer. Eles ainda têm muitas dificuldades para superar equipes como os Flyers, mas estão realmente melhores.
Não dá para fazer uma previsão de como eles vão se comportar nos playoffs, mas certamente seria fundamental para as suas pretensões vencer a divisão Nordeste e terminar em terceiro no leste, porque do contrário é praticamente garantido um confronto mais duro na primeira fase dos playoffs. Sim, eles vão para os playoffs, e boa parte disso tem a ver com o fato de não haver concorrência pelas oito vagas dos playoffs no leste. Apenas a oitava vaga parece ter alguma disputa, com o Atlanta se esforçando para dar a vaga para o Carolina, Florida ou para o Buffalo.
Ainda faltam cerca de 30 partidas até o final da temporada, muita coisa pode acontecer, mas acredito que eles não terão muitos problemas para se classificarem. A partir daí, a conversa é outra e não dá para apostar em nada.
Jacques Martin parece ter a equipe sob controle e é um técnico que tem o apoio da torcida e da imprensa. Sem dúvida, pontos importantes quando se é treinador do Montréal Canadiens, que é uma eterna panela de pressão. Entretanto, até agora, a balança ainda não pendeu para nenhum dos dois lados. Vamos ver como vai estar a situação no começo de abril.