Até os jogos de sexta-feira, o Philadelphia Flyers era o primeiro lugar geral da NHL, disputando ponto a ponto com o Vancouver Canucks. Eram quatro vitórias seguidas até então. Era o time com o melhor saldo de gols, o melhor ataque. Era o melhor time da liga, efetivamente. Fazendo sua melhor temporada em muito tempo.
Depois dos memoráveis playoffs passados, sobretudo a virada sobre o Boston Bruins, o Philadelphia tornou-se naturalmente um dos grandes favoritos para esta temporada. E não falo de Troféu dos Presidentes, mas de Copa Stanley, evidentemente. E o time corresponde perfeitamente às expectativas.
Não é uma estrela, não é uma linha específica, não é um goleiro, não é um defensor (ou mesmo uma dupla), não é o técnico, nada disso. O motivo de os Flyers estarem tão bem é o conjunto de tudo isso.
Nada é perfeito, claro. Os times especiais, por exemplo, não impressionam, sobretudo a vantagem numérica. Entretanto, até aqui essa relativa deficiência não tem sido fatal.
A linha de Daniel Briere, jogando geralmente entre Scott Hartnell e Ville Leino, é talvez a arma mais poderosa do time. Briere faz uma das melhores temporadas de sua carreira. Hartnell é um jogador que sempre produz com boa regularidade. Leino comprova que os meses que passou em Detroit na temporada passada não representavam o seu potencial. E os três juntos dão liga. Claro que a linha não chega aos pés do Esquadrão da Morte (Legion of doom) em aspectos ofensivos, e nem se propõe a isso – trata-se de uma linha até mais equilibrada.
Mas o ataque dos Flyers está muito longe de se limitar a eles. Nada menos que oito jogadores já marcaram dez ou mais gols nesta temporada. É difícil para os adversários concentrar esforços em somente uma ou duas linhas -- que fatalmente seriam as de Briere e de Mike Richards. Se oito atacantes, em pouco mais de meia temporada, já meteram mais de dez gols, é porque a produção está espalhada.
Já no quesito profundidade defensiva, o time também vai muito bem, obrigado. E talvez o grande motivo disso seja a chegada de Andrej Meszaros, que parece ter dado nova vida à defesa dos Flyers. Ele não apenas retirou alguns minutos de jogo das costas de Chris Pronger e Kimmo Timonen, fez mais que isso. Ele próprio, depois de uma temporada ruim no Ottawa, parece ter obtido vida nova com o novo time. Meszaros é detentor de um mais que respeitável +29, líder da NHL na temporada neste quesito.
Tanto a chegada de Meszaros quanto a contratação do rodado veterano Sean O’Donnell são exemplos de como a gerência tratou de ampliar a profundidade defensiva do time. E tem dado resultado.
Se os dois setores de linha apresentam a profundidade necessária, no gol a coisa não fica por menos. Quando Brian Boucher esteve fora, o novato Sergei Bobrovsky segurou bem as pontas. Ele não tem números espetaculares, mesmo para um novato (os números tampouco são ruins, que fique claro). Mas Bobrovsky veio da KHL direto para um dos times de elite na temporada, e ainda teve o peso de substituir o titular durante um determinado período -- isso é bem diferente de ser escalado eventualmente para que o titular descanse e o novato ganhe experiência. Ainda assim, é verdade que a falta de estabilidade no gol tem sido um dos sérios problemas do time em muito tempo -- há mais de dez anos, talvez. Este tabu está ai mesmo para o próprio Philadelphia quebrar, tal qual fez na histórica virada sobre os Bruins.
E, se no gelo o time demonstra equilíbrio, no banco não é diferente. Peter Laviolette foi o comandante do time na temporada passada, sua primeira com a equipe. Ou seja, na temporada de estreia ele já colocou o time na final, e mais que isso, ele teve a capacidade de fazer o time acreditar que era possível virar uma série perdida, e efetivamente protagonizar essa virada -- um feito épico na história da NHL.
Em sua segunda temporada, Laviolette vem colocando os Flyers entre os melhores, disputando a liderança da conferência e da liga. Conseguindo conjugar muito bem a experiência de veteranos (consagrados ou não) com jovens valores, ele vem conseguindo formar o Philadelphia como um dos favoritos à Copa.
Como todo time que figura entre os favoritos e que tem algum espaço disponível no teto orçamentário, é bem provável que os Flyers adquiram reforços até o dia-limite de trocas. Embora seja clichê um time reforçar a defesa nessa época, não me parece que o Philadelphia vá atrás de reforço defensivo -- salvo alguma barganha, claro. Reforçar o ataque, que já é o melhor da liga, também me parece desnecessário. Sobra então a velha questão do goleiro. Entretanto, o que há de disponível que seja superior ao que os Flyers já possuem? Difícil responder. Mas, favorito que é favorito, se reforça até o dia-limite. Os Flyers darão sua tacada na hora certa.
Marcelo Constantino agradece mais uma vez a existência do aparelho de ar condicionado.