Uma troca em que Ian White é o maior nome envolvido não merece uma capa de TheSlot.com.br com a chamada "Você trocaria?", ainda que o defensor de 26 anos tenha feito parte de uma dessas, quando Dion Phaneuf, então jogador do Calgary Flames, foi negociado para o Toronto Maple Leafs. White era considerado o melhor retorno daquela negociação, que rendeu ainda para os Flames os atacantes Matt Stajan, Niklas Hagman e Jamal Mayers.
Ainda que não valha a capa, a troca de White e Brett Sutter para o Carolina Hurricanes por Anton Babchuk e Tom Kostopoulos merece algum destaque, especialmente nesses tempos de teto salarial, em que a NHL passa quase toda a temporada sem ver figurinhas sendo trocadas — para o deleite daqueles que gostam das movimentações restou apenas o dia-limite de trocas.
A urgência dos Flames em trocar White é surpreendente, menos de um ano depois de sua aquisição.
A gerência alega que não seria possível renovar o contrato do jogador ao fim da temporada por já ter muito dinheiro atrelado aos contratos dos outros defensores (US$ 6,7 milhões para Jay Bouwmeester, US$ 4 milhões para Robyn Regehr, US$ 4 milhões para Mark Giordano, US$ 3,6 milhões para Cory Sarich e US$ 2,7 milhões para Steve Staios), o que os números comprovam. Mas o valor de um defensor jovem e habilidoso como White tende a crescer durante a competição, atingindo o seu auge de valorização no dia-limite de trocas, quando as equipes que pretendem disputar a Copa Stanley geralmente pagam caro para reforçar o elenco.
Trocar White em novembro, quando o jogador está em seu período de baixa (-10 em 16 jogos, em comparação com os 12 pontos e +7 em 27 jogos no ano passado), é realizar o prejuízo.
Babchuk é um defensor grande e forte, mas que não usa seu tamanho para punir os atacantes adversários. O ucraniano destacou-se em 2008-09, quando marcou 16 gols em 72 jogos pelos Hurricanes em sua primeira temporada completa na NHL, justamente um ano depois de retornar da Rússia, onde atuou pelo Avangard Omsk. Curiosamente, em seguida ao melhor ano de sua carreira na América, o defensor se mandou novamente para Omsk, território muito conhecido pelos adeptos do jogo de tabuleiro War. Na atual temporada, Babchuk podia ser visto no terceiro par defensivo dos Hurricanes, bom o bastante para 18 minutos de média.
Kostopoulos é um atacante de quarta linha, tão versátil que cabe em qualquer lugar, especialmente fora do time. Calgary será seu quinto destino em nove temporadas. Aos 32 anos, o canadense com nome de grego é o típico boa praça, aquele jogador que os companheiros admiram pelo caráter, mas não se pode dizer o mesmo da torcida.
E julgar que os Flames enxergaram em White o substituto de Phaneuf, o que deixa esta troca ainda pior. Os Hurricanes não hesitaram em concretizar a negociação porque nunca olharam para White como o defensor de -10, mas sim como o jogador capaz de conduzir o disco da defesa para o ataque e jogar 25 minutos por noite, e também porque sabem que Babchuk e Kostopoulos não farão falta.
O outro jogador envolvido na troca, Brett, é filho do gerente geral dos Flames, Darryl Sutter. O pai trocou o próprio filho para outro time, um caso raro de nepotismo às avessas. A gerência dos Flames afirma que a troca não foi motivada pela confusão protagonizada por Brett recentemente — bêbado, o jogador foi preso nos arredores de uma casa noturna em Phoenix. Sua punição foi o rebaixamento para a AHL, a troca foi apenas a conclusão de uma negociação que se arrastava desde o mês anterior.
Com 16 pontos conquistados em 18 jogos, os Flames projetam uma campanha de 73 pontos em 82 jogos, mais de 20 abaixo do necessário para conquistar a oitava posição na Conferência Oeste, que já está a seis pontos de distância. A saída de White não melhora o cenário para o futuro, o time não vai se tornar uma máquina com Babchuk e Kostopoulos. É mais provável que a temporada esteja perdida antes do fim do ano e que a gerência decida renovar o elenco.
Como se renova o elenco? Trocando jogadores como White por prospectos e boas escolhas no recrutamento. Não foi o que o Calgary fez. Em novembro.
Humberto Fernandes detesta o calor.
Jamie Sabau/Getty Images |