Poucos eventos numa temporada esportiva são tão controversos quanto o Jogo das Estrelas. Enquanto os jogadores e os torcedores da cidade-sede adoram o evento, a maior parte da torcida não consegue ver graça num jogo sem o mínimo conceito de defesa e temem lesões desnecessárias.
As ligas norte-americanas tentam dar um pouco de vida aos Jogos de Estrelas. A Major League Soccer (futebol) tem as estrelas da liga enfrentando uma equipe europeia, enquanto a Major League Baseball (beisebol) decide, no All Star Game, quem terá o mando de campo nas finais da Série Mundial. Já a National Football League (futebol americano) e a National Basketball Association (bola ao cesto) não têm maiores pretensões para seus eventos.
A NHL já teve vários formatos, passando pelo jogo entre os campeões contra a liga (1908-1968), entre conferências (1969-1997), pela disputa América do Norte contra Europa de 1998 e 2002, voltando para a disputa entre conferências em 2003. Agora a liga inova, dando aos jogadores a possibilidade de montar seus times, independente de onde o time joga. O Jogo das Estrelas será no domingo, dia 30 de janeiro.
Vai funcionar assim:
- Os torcedores vão votar em seis jogadores (um goleiro, dois defensores e três atacantes) dentre cem escolhidos pela liga, independentemente de conferência (pode se votar em um jogador não presente na cédula), pelo site NHL.com/vote. Esses já estarão no Jogo das Estrelas;
- Membros da liga irão escolher outros 36 jogadores (5 goleiros, 10 defensores e 21 atacantes) para participar de um "recrutamento" ao vivo, na sexta-feira antes do jogo;
- Quem irá recrutar os jogadores serão os próprios jogadores. Inicialmente, dois capitães serão escolhidos (também pelos jogadores) para time, e as equipes irão se alternar escolhendo os jogadores para seu time, assim como todos faziam nas quadras de escolas e condomínios por aí. Cada time terá 3 goleiros, 6 defensores e 12 atacantes;
- Além disso, cada time escolherá os jogadores para os desafios de habilidades, selecionando os jogadores dentre 12 calouros escolhidos pela liga.
Dessa forma, a liga adiciona um aspecto interessante ao Jogo das Estrelas que, em sua essência, é apenas uma grande brincadeira de meio de temporada para os jogadores. E o suspense rondará a noite de sexta-feira.
Não há como não imaginar: será que Sidney Crosby escolheria Steven Stamkos para seu time? Ou que Alexander Ovechkin e Evgeni Malkin, desafetos de longa data, poderiam vestir a mesma camisa? E, se a liga exibir o recrutamento na íntegra, quem será o último jogador selecionado?
Os jogadores parecem ter gostado da idéia, proposta por Brendan Shanahan, que participou de nove Jogos das Estrelas quando jogador e agora é um executivo da NHL. Quando perguntado quem selecionaria primeiro, Pavel Datsyuk brincou dizendo que escolheria o disco, já que ele é seu melhor amigo. Depois, falando sério, comentou a possibilidade de jogadores europeus darem preferência a seus conterrâneos. Nicklas Lidström disse que provavelmente os primeiros jogadores escolhidos serão de ataque, já que a defesa é detalhe no evento.
Lidström, aliás, é um dos mais cotados para ser escolhido como capitão. Embora a escolha caiba aos jogadores, a liga deve ter alguma influência para que jogadores veteranos sejam capitães como uma última homenagem, e já se comenta que Lidström e Teemu Selanne são favoritos a receber esse papel. Também será interessante descobrir se os jogadores iriam escolher Crosby e Ovechkin como capitães ou se preferem promover outras estrelas.
De qualquer forma, já é possível elogiar a abordagem da liga, dando aos jogadores o controle total sobre o evento. E, pessoalmente, eu digo: vou continuar sem assistir o Jogo das Estrelas, mas não perco o recrutamento da sexta-feira por nada.