E então temos Chicago Blackhawks e Philadelphia Flyers na final da Copa Stanley de 2010. Uma nova final, um novo campeão, depois das finais consecutivas nas duas últimas temporadas. Mais que isso, é o confronto de um time naturalmente tido como favorito e que fez por onde, contra um que estraçalhou com todas as adversidades (sobretudo as criadas pelo próprio time!) para chegar onde chegou.
O caminho do Chicago foi bem mais tranqüilo, bem mais natural, tradicional. Era um dos favoritos desde antes de a temporada começar, fez uma ótima temporada e foi o segundo colocado na Conferência Oeste. Venceu suas duas séries iniciais por sólidos 4-2 (uma delas sobre o Vancouver Canucks, time que tinha seus apostadores para candidatura à Copa Stanley). Varreu, arrasou sem dó nem piedade o San Jose Sharks (com Danny Heatley e tudo, ainda que apagado) na final de conferência. Sua chegada á final é tratada como natural, como a realização de uma previsão fácil.
Já o caminho do Philadelphia é tema para roteiro de filme. Vejam bem: esse é um time que se classificou para os playoffs somente na disputa de pênaltis do último jogo da temporada. Se tivesse perdido aquela disputa, estaria fora. Esse é um time que, nos playoffs, suplantou o New Jersey Devils, (supostamente) aditivado por Ilya Kovalchuk, em meros cinco jogos. Esse é um time que protagonizou uma das séries mais espetaculares da história da NHL (e dos esportes em geral), ao derrotar o Boston Bruins por 4-3 depois de estar perdendo por 0-3 — tanto na série quanto no jogo 7. Esse é um time que esmagou em cinco jogos — com direito a três shutouts — o Montreal Canadiens, time que havia batido nada menos que o melhor time da temporada e o atual campeão, ambos em sete jogos.
Em 13 temporadas de NHL que eu acompanho, não me recordo de qualquer time que tenha chegado à final com um currículo tão vibrante como esse — e repare que TheSlot.com.br acompanhou as caminhadas dos azarões Anaheim Mighty Ducks de 2003, Calgary Flames de 2004 e Edmonton Oilers de 2006. Por mais belas que tenham sido as três campanhas, nenhuma delas chega perto do que o Philadelphia fez nesses últimos dois meses.
O que pesa contra cada um
O que pesa contra o Philadelphia? A equipe ainda não enfrentou um adversário tão dinâmico e rápido quanto o Chicago nesses playoffs. Mais que isso: a história recente nos mostra que esses grandes azarões geralmente param nas finais. Por outro lado, os Flyers têm seguidamente jogado no lixo o que a história recente nos mostra.
E o que pesa contra o Chicago? Enfrentar um time com a força, vibração o e momento dos Flyers. Não é fácil encarar numa final o time que tornou-se muito mais que um mero azarão. Trata-se de um demolidor de escritas, previsões e (suposto) bom senso. Outro “problema” é a presença de Marian Hossa, fazendo sua terceira final de Copa Stanley consecutiva, pelo terceiro time diferente. Não é questão de superstição, o cara tem um estigma. Claro que ele, mais que qualquer outra entidade no planeta, quer enterrar de vez esse karma.
E os Habs?
Sobre a final da Conferência Leste, esqueçam o que eu escrevi na semana passada. Depois do jogo 3 eu realmente passei a acreditar que o Montreal Canadiens havia equilibrado a série. Ledo engano, devida e rapidamente desiludido pelo Philadephia no jogo seguinte, retornando ao hábito de vencer os canadenses por shutout. Com 3-1 na série, era saco na certa. Afinal, o Philadelphia era quem estava do lado vantajoso, e não o oposto. E assim foi feito.
A final de conferência que já era histórica por antecipação, pela trilha caminhada pelos dois adversários, tinha tudo para ser histórica também na prática, no gelo. Mas não foi. O Philadelphia não tomou conhecimento do Montreal e tratou-o como um autêntico e mero oitavo classificado. Entre as duas opções lançadas na semana passada — se o encanto dos Habs havia se quebrado ou se o time estava subestimando os Flyers —, fico com a primeira. O encanto do Montreal se foi.
E a força do Philadelphia, por outro lado, parece alimentar-se do que vem pela frente. Caberá ao Chicago a sabedoria de não se transformar nesse alimento.
Marcelo Constantino recomenda Fernando Morais, sempre. No momento, “O mago”.