Por: Arash Markazi

Scott Niedermayer já tinha patinado vitoriosamente com a Copa Stanley antes. Três vezes, para ser mais exato. A cada vez que a ganhava, ele a levava para sua casa em Cranbrook, na província da Colúmbia Britânica, onde ele reunia amigos e família para um churrasco. No pôr-do-sol, eles se sentavam ao redor de uma fogueira com a Copa, apontavam alguns nomes gravados no cálice de prata e contavam histórias. Todo mundo podia segurar o troféu e contar uma história. Bem, todo mundo, menos um.

Até agora.

Neste verão, Rob Niedermayer, finalmente poderá segurar a Copa e contar sua história. Bem, a história deles.

"Obrigado por me lembrar disso", brincou Rob, tirando sua camisa, encharcada de champanhe. "Eu vi a Copa três vezes e não pude encostar nela até agora. O Scott teve uma grande carreira, e estou feliz de finalmente ganhá-la com ele."

Quando Scott foi agraciado com o troféu por Gary Bettman, ele não demorou para entregá-lo a seu irmão mais novo, que não conseguiu conter suas emoções ao levantar a Copa sobre sua cabeça e beijar o anel central.

"Eu não consegui me controlar muito depois [de ele ter me dado a Copa]", confessou Rob, que marcou o segundo gol do Anaheim no jogo. "Eu só senti as lágrimas escorrendo. Foi o momento de maior orgulho em toda a minha carreira, algo de que eu nunca vou esquecer e que não dá para descrever com palavras agora."

Foi um momento com que os Niedermayers nunca sonharam. Claro, Scott sempre teve a esperança de que ganharia, assim como Rob, mas ganhar juntos?

"Só dá para passar a Copa para seu irmão em sonhos, mas eu nunca tinha nem sonhado com isso", revelou Scott, que também ganhou seu primeiro Troféu Conn Smythe. "Conseguir fazer isso é definitivamente um dos melhores momentos da minh carreira."

Rob ainda tentou descrever o momento com champanhe sendo despejada sobre si no barulhento vestiário do Anaheim.

"É inacreditável", disse ele. "Não sei se alguma coisa vai se comparar a isso na minha carreira. Quer dizer, você dá duro, os playoffs são difíceis. É uma montanha-russa emocional e fisicamente. Você não faz isso sozinho, você precisa de cada um desses caras."

Cada jogador que patinava com a Copa e a passava para um colega estava gravando mentalmente seu nome na Copa, com suas próprias histórias. E, ao se observar o vestiário dos Anaheim, havia bastantes histórias com final feliz para se contar ao redor da fogueira.

Havia Teemu Selanne, de olhos fechados e boca aberta enquanto George Parros despejava champanhe em sua boca. Selanne, que ajudara a colocar Anaheim no mapa do hóquei uma década atrás, estava aproveitando a sua primeira Copa Stanley depois de uma espera de 15 anos.

"Por tantas vezes eu achei que isso nunca iria acontecer", disse Selanne, limpando seu rosto e balançando a cabeça. "Joguei por 15 anos e mais de mil partidas. Nos últimos dois ou três minutos, eu estava chorando no banco de tanta felicidade. Eu esperei tanto tempo por esse momento que é um sonho realizado."

Havia Andy McDonald, pegando uma garrafa de Korbel no meio do vestiário e despejando-a sobre Chris Kunitz, que estava mais do que feliz em tomar o banho espumante.

McDonald queria sonhar com este momento. Ele queria se imaginar segurando a Copa Stanley sobre sua cabeça e beijando-a como tantos de seus heróis o fizeram quando ele era mais novo. Mas seu lado realista nunca o deixou dar essa patinada imaginária.

"Eu nem achava que eu chegaria à NHL", conta McDonald, ajustando a aba do seu boné de campeão da Copa Stanley. "Muito menos levantar a Copa Stanley."

McDonald, que marcou o primeiro gol do Anaheim no jogo — seu quinto nas finais e décimo nos playoffs — não estava sendo modesto. Ninguém achava de verdade que ele chegaria à liga. Ele não foi recrutado na NHL e na liga júnior de Ontário ele foi tachado de lento e pequeno demais para jogar profissionalmente. Agora ele estava comemorando a Copa Stanley como maior goleador do time vitorioso.

"É difícil descrever essa sensação", garante McDonald. "Há tantas coisas passando pela sua cabeça. Os playoffs, as finais.

Havia Travis Moen, jogando uma camisa de campeão por sobre sua proteção de ombro, jogando seu boné de campeão de um lado do vestiário até o outro, onde estava Ryan Getzlaf, também oriundo da província de Saskatchewan.

Moen tinha jogado sua primeira partida com sua mãe, seu irmão e sua irmã na audiência, com os três saindo de sua fazenda em Stewart Valley, uma vila no sudoeste de Saskatchewan com população de 75 pessoas. Os Moens tinham sido forçados a assistir a vários dos jogos de Travis em vídeo, já que os playoffs entravam em conflito com os deveres da fazenda.

"Que sensação incrível é ganhar a Copa na frente deles", comemorou Moen, que marcou dois gols na partida e sete na pós-temporada. "Minha mãe costumava me levar de carro para o rinque às seis da manhã, por isso é muito bom tê-la aqui."

Moen admite que o grande papo na pequena Stewart Valley envolve sua campanha pela Copa Stanley e a possibilidade de a Copa viajar para a vila em um futuro próximo.

"Eles já têm algumas boas histórias para contar", disse Moen. "Mas a melhor ainda está por vir."

Arash Markazi é colunista do site SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Lou Capozzola/Sports Illustrated
Depois de ver seu irmão Scott (o primeiro à esquerda) ganhar a Copa por três vezes, Rob finalmente conseguiu levantá-la.
(06/06/2007)
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Página publicada em 8 de junho de 2007.