As últimas três finais da Copa Stanley tiveram o embate entre um time
norte-americano e um canadense. E todas as três foram vencidas pelo
time dos EUA. Das duas vezes passadas os times canadenses eram francos
azarões (Calgary Flames e Edmonton Oilers) que haviam chegado à final
após séries guerreiras em que poucos apostavam neles. Geralmente o favorito
estava do outro lado. Desta vez não. Desta vez o Ottawa Senators fez
excelente campanha nos playoffs e chegou à final tido como favorito
por muitos frente ao Anaheim Ducks. Não era unanimidade, longe disso,
mas não era um azarão. Mas perdeu. E, se os azarões dos anos anteriores
protagonizaram belas finais, chegando ao jogo 7 em ambos os casos, os
Sens sequer conseguiram isso. A rigor, conseguiram apenas uma vitória
na série, num jogo em que efetivamente foram melhores, mas essa superioridade
foi exclusiva daquele jogo. Em todos os demais momentos o Anaheim sobrou
na série.
Por outro lado um time da Conferência Oeste vence a Copa Stanley, algo
que não ocorria desde 2002, quando o Detroit Red Wings derrotou o Carolina
Hurrcanes. De lá para cá foram três times vitoriosos da Conferência
Leste: New Jersey Devils, Tampa Bay Lightning e os próprios 'Canes.
O jogo de ontem demonstrou, mais uma vez, o domínio pleno dos Ducks
sobre o jogo. O primeiro período já foi assim e talvez alguns Sens já
tenham entrado no gelo com a derrota no subconsciente. Num jogo de vida
ou morte, penalidades idiotas em excesso no primeiro período era tudo
o que o eficiente time de vantagem numérica dos Ducks precisavam para
abrir o placar e estabelecer uma vantagem sólida para administrar até
levantar o caneco. Se você for olhar os números do período inicial,
vai achar que o jogo foi equilibrado. Não foi, os números não refletem
a eficiência largamente superior do time do Anaheim sobre o Ottawa.
A partida parecia tão sob controle dos Ducks que, lá pelo meio do segundo
período eles decidiram literalmente esperar o tempo passar, já que os
Sens não pareciam desesperados o suficiente para correr atrás do disco.
Ao menos não como se espera de um time que perde por 2-0 um jogo em
que encara eliminação. Então os Ducks começaram a trocar passes demais
na defesa, a amolecer, sentar sobre a liderança. Um erro, claro, afinal
o Ottawa estava na final, não era qualquer um. E, diante disso, o time
canadense rapidamente se ajustou, elevou a pressão e, pimba, gol de
Daniel Alfredsson.
Poderia ter sido a injeção de ânimo para os Sens, mas logo os próprios
Sens tratavam de injetarem o antídoto. Chris Phillips fez uma inacreditável
cagada atrás do gol de Ray Emery e o disco acabou dentro do próprio
gol. Um dos lances mais patéticos já vistos nas últimas finais que talvez
tivesse representado o retrato do fim dos Sens na série. Sim, uma fatalidade,
mas que não deixa de ser patética.
O guerreiro Alfredsson, estrela solitária do time nas finais, bem que
seguiu tentando e marcou novamente, em desvantagem numérica, aproveitando
um raro erro de Ryan Getlaf. Mas adiantava alguma coisa? Não, logo lá
vinham os Ducks, na mesma situação de VN e restabeleciam a supremacia
no placar.
E o que dizer de um pênalti em plena final de Copa Stanley? Ano passado
houve um, convertido por Chris Pronger, lembram-se? O deste ano foi
num jogo decisivo e, ainda melhor, em desvantagem numérica! E para os
Senators, no terceiro período, quando perdiam por 4-2, o que poderia
trazê-los de volta ao jogo. Só que... como quem cobra o pênalti é quem
sofre, imagino que milhares de torcedores devem ter ficado com aquela
ponta de sensação de desperdício na cabeça quando identificaram que
seria Antoine Vermette a cobrar. E não deu outra, o atacante dos Sens
sequer conseguiu chutar a gol, Giguere sequer teve algum trabalho. Acho
que, dali por diante, os que ainda não haviam desistido no time do Ottawa,
desistiram. Era o fim definitivo do que já parecia destinado a ser.
De um modo geral o jogo de ontem cristalizou a sensação de que não era
algo tão difícil assim para o Anaheim fazer um gol sobre os Senators.
Por outro lado, para o Ottawa marcar um gol, parecia necessário uma
grande obra de engenharia, consistindo numa pressão constante, uma boa
jogada etc. Para os Ducks, parecia bastar um bom motivo para ir ao ataque
e marcar.
Dos MVPs
Scott Niedermayer levou o Conn Smythe para casa, mas, a rigor, o time
do Anaheim não tem um grande destaque. É um time de grande conjunto,
calcado em três ótimas linhas de ataque e duas de defesa e ainda um
goleiro que jogou como não jogava há quatro anos. Havia discussão (ou
melhor, boataria) sobre quem poderia ser o MVP, se Giguere, se Nidermayer
ou mesmo Andy McDonald. McDonald foi grande nas finais, Giguere foi
grande todo o tempo, Niedermayer também. Acredito que tenha pesado para
Scott Nidermayer o fato dele ter decidido jogos importantes (na serie
contra os Wings, por exemplo, foi ele quem marcou um gol na prorrogação
e foi ele quem empatou aquele jogo 5 nos últimos segundos) e de ser
o comandante da equipe. Teemu Selanne não era muito cotado e Pronger
estava descartado (por ter estado abaixo de Niedermayer e pela folha
corrida). Foi a quarta Copa Stanley do capitão dos Ducks. Todos os demais
jogadores do time levantavam a taça pela primeira vez.
Do lado dos Sens, Daniel Alfredsson foi grande. Jogou como MVP durante
os playoffs e foi o único do trio principal que não amarelou nas finais.
Jason Spezza e Danny Heatley sumiram. Wade Redden esteve muito mal.
Ray Emery não foi exatamente um goleiro que rouba jogos, mas a verdade
é que ele não foi, nem de perto, a razão pela qual os Sens fracassaram.
A razão primordial, além do tom amarelo dos citados (o que eventualmente
até pode ser conseqüência, não causa), é que os Ducks são realmente
melhores. Bem melhores, sobretudo porque são bem mais eficientes.
E, para ser campeão, pouca coisa além disso é necessário: ser eficiente.
Desde antes de a temporada começar que muitos de nós falávamos que os
Ducks eram um time construído para ser campeão, para jogar os playoffs.
Não somente porque contrataram Pronger, mas pela formação do time, pela
ascensão dos mais jovens (leia-se a linha de Getzlaf e o defensor François
Beauchemin). A combinação revelou-se produtiva e o time mostrou ser
capaz. O Anaheim Ducks está de parabéns, são campeões por absoluto mérito
próprio.
06/06/2007 | 00 | 00 | 00 | |
Ottawa | 0 | 2 | 0 | 2 |
Anaheim | 2 | 2 | 2 | 6 |
PRIMEIRO PERÍODO — Gols: 1. Anaheim, Andy McDonald 10 (Ryan Getzlaf, Chris Pronger), 3:41. 2. Anaheim, Rob Niedermayer 5 (Corey Perry), 17:41. Penalidades: T. Preissing, Otw (interference), 1:40; A. Volchenkov, Otw (hooking), 3:25; J. Spezza, Otw (holding the stick), 5:39; S. Pahlsson, Anh (elbowing), 10:14; C. Perry, Anh (roughing), 15:31; T. Selanne, Anh (holding), 18:10. | ||||
SEGUNDO PERÍODO — Gols: 3. Ottawa, Daniel Alfredsson 13 (Peter Schaefer, Mike Fisher), 11:27. 4. Anaheim, Travis Moen 6 (sem assistência), 15:44. 5. Ottawa, Daniel Alfredsson 14 (desvantagem numérica) (sem assistência), 17:38. 6. Anaheim, François Beauchemin 4 (vantagem numérica) (Andy McDonald), 18:28. Penalidades: C. Schubert, Otw (elbowing), 16:46. | ||||
TERCEIRO PERÍODO — Gols: 7. Anaheim, Travis Moen 7 (Scott Niedermayer, Samuel Pahlsson), 4:01. 8. Anaheim, Corey Perry 6 (sem assistência), 17:00 . Penalidades: C. Schubert, Otw (slashing), 5:48; A. Volchenkov, Otw (slashing), 12:27. | ||||
CHUTES A GOL | ||||
Ottawa | 3 | 5 | 5 | 13 |
Anaheim | 5 | 7 | 6 | 18 |
Vantagem numérica: OTW – 0 de 3; ANH – 2 de 6. Goleiros: Ottawa – Ray Emery (18 chutes, 12 defesas). Anaheim – Jean-Sébastien Giguere (13, 11). Público: 17.372. Árbitros: Paul Devorski, Dan O'Halloran. |