Meu colega Marcelo Constantino já está falando sobre o mau começo de temporada dos atuais campeões Canes, por isso não
vou entrar nesse mérito. Mas, de qualquer forma, pretendo abordar algo que diz respeito ao time da Carolina do Norte.
Quando se ganha um campeonato, não importa qual seja, a pergunta seguinte é: dá para ser bicampeão? Na NHL em especial, essa resposta tem sido "não". Não há um bicampeão desde que o Detroit conseguiu a façanha, em 1998. E — desculpe-me, torcida dos Canes — não haverá outro nesta temporada. Como eu posso ter tanta certeza? Listo abaixo quatro motivos.
1. O teto salarial na NHL vai deixar cada vez mais difícil defender um título. Para um time que acaba de ser campeão, a folha de pagamento sempre vai subir, porque seus agentes livres vão ter mais argumentos de negociação. Com isso, o gerente geral é obrigado a fazer escolhas qye não teria de fazer até 2003-04. Jim Ritherford, o GG dos Canes, até que fez um bom trabalho, assegurando que o núcleo de seu time continuará em Raleigh. Nove jogadores tiveram seus contratos renovados, entre eles os atacantes Eric Staal, Rod Brind'Amour e Erik Cole. Só que tanto talento tem um preço, e abrir a carteira para eles significou perder peças valiosas como o versátil atacante Matt Cullen, o raçudo defensor Aaron Ward e o goleiro titular na temporada regular passada, Martin Gerber. Além deles, os jogadores "alugados" no dia-limite de trocas, Doug Weight e Mark Recchi, voltaram para seus times de origem, respectivamente Blues e Penguins. Substituir tais jogadores pode ser mais difícil do que você imagina.
2. O teto salarial também construiu outro obstáculo: a paridade. Os jogadores talentosos estão mais bem distribuídos ao redor da liga, e isso diminuiu drasticamente o abismo que separava certas equipes do "resto". Na temporada passada, como você bem deve se lembrar, os Oilers se tornaram o primeiro oitavo colocado a chegar à final — e faltou só uma vitória para eles serem campeões. Não se surpreenda se algo parecido acontecer de novo.
3. Os Hurricanes começam a temporada com um alvo nas costas. A cada jogo, um adversário diferente vai querer provar que é melhor que os atuais campeões. Isso faz uma grande diferença ao longo de um calendário de 82 jogos. Vencer esse pessoal exigirá mais do Carolina do que eles imaginavam quando estavam levantando a Copa Stanley em junho. Como bem exemplifica Brad Richards, do Tampa Bay, o campeão anterior: "No ano passado, todos nós pensávamos que estávamos nos esforçando, quando, na verdade, não estávamos."
4. Há ainda os famosos "intangíveis". Se muitos deles já precisam se alinhar para se ganhar uma Copa, imaginem duas. Seguidas. É preciso que coisas estranhas aconteçam. Coisas como um jovem goleiro com 28 jogos na NHL no currículo saindo do banco para ganhar o Troféu Conn Smythe (sim, estou falando de Cam Ward). O pior é que esse tipo de coisa estranha costuma ser imprevisível. Os próprios Canes têm um exemplo em sua história recente: Arturs Irbe. Ninguém pode culpá-los por achar que a pós-temporada de Irbe em 2002 (média de 1,67 gols sofridos, 93,8% de defesas) significava que eles estavam tranqüilos no gol. Irbe foi mandado para a liga de baixo na temporada seguinte.
POTENCIAL Fleury teve nova oferta de contrato não por seus números, mas por seu potencial
(Harry How/Getty Images - 05/10/2006)
Pouco mais de dois meses atrás, enquanto a torcida dos Penguins brincava de esconde-esconde com Evgeni Malkin, a diretoria do time tomou uma decisão importante, que passou despercebida: renovou contrato com a primeira escolha geral de 2003, o goleiro Marc-André Fleury, que, em dois anos de contrato, ganhará US$ 2,5 milhões.
Claro, não é nada tão polpudo quanto, digamos, um contrato de 15 anos. Mas foi muito bom para o garoto de 21 anos de Sorel, Quebec. Fleury foi mal durante a pré-temporada, com uma média de 3,94 gols sofridos, então ele deve estar feliz por ter sido escalado como titular no primeiro jogo do time — vitória em casa por 4-0 sobre os Flyers, com 40 defesas —, em vez de ter de se preocupar com a possibilidade de ser mandado para o afiliado dos Pens na AHL.
Os números da carreira de Fleury (17 vitórias e 89,7% de defesas em 71 jogos até a temporada passada) não são lá grande coisa, mas seu potencial é. O novo GG, Ray Shero, cita como principal qualidade do jovem goleiro seu preparo físico. Para melhorar em outros aspectos, Fleury, cujo estilo varia entre borboleta e de pé, passou o verão treinanco domínio de discos e controle de rebotes. Uma boa, pois sua defesa foi a pior da NHL em 2005-06 (os Pens sofreram 3,78 gols por jogo).
Outras coisas boas: Ryan Whitney está cada vez mais perto de ser um bom primeiro defensor e simplesmente não dá para Sergei Gonchar jogar pior do que ele jogou na primeira metade da temporada passada.
A maior mudança de uma regra na temporada é, na verdade, uma pequena mudança. A NHL aumentou a curvatura máxima dos tacos de meia polegada para três quartos de polegada. A curvatura extra permite ao jogador acomodar melhor o disco, aumentando a velocidade dos chutes. De acordo com Alexander Ovechkin, com uma curvatura maior ele pode "chutar mais rápido e mais forte". Ou seja, não é uma boa hora para ser goleiro.
Há ainda uma mudança de regra que não vai ter impacto na NHL. Ainda. O comissário Gary Bettman vai ficar de olho na nova regra da AHL que torna os visores obrigatórios para todos os jogadores. A NHL adoraria adotar uma regra similar, mas precisa que o sindicato dos jogadores compre a idéia. Até agora, o sindicato prega pela liberdade de escolha no que se refere aos visores.
Amigos do defensor Jack Johnson, cujos direitos foram recentemente adquiridos pelos Kings, dizem que ele vai se profissionalizar depois de encerrar sua segunda temporada na Universidade de Michigan. Os Hurricanes, que recrutaram Johnson com a terceira escolha geral em 2005, trocaram-no depois de ele recusar diversas ofertas para deixar a universidade antes de esta temporada começar, quando inclusive chegou a declarar que só iria para a NHL depois que se formasse.
O defensor novato Ladislav Smid, dos Oilers, adquirido na troca que mandou Chris Pronger para os Ducks, já tem um emprego de tempo integral na NHL. Aos 20 anos, ele jogará ao lado do veterano Steve Staios. Ele foi a nona escolha geral no recrutamento de 2004 e, apesar de grandalhão (1,91 m, 93 kg), consegue movimentar o disco, armando jogadas.
O jornalismo esportivo norte-americano se leva um pouco menos a sério do que sua contra-partida brasileira. Aqui vai um exemplo disso.
"O goleiro dos Red Wings, Dominik Hasek, teve uma atuação espetacular. Não por causa de nenhuma defesa que fez — estas foram bem normais —, mas porque nem sequer uma vez ele cedeu à tentação de se acomodar e tirar uma soneca na área. Só isso já faz dele candidato ao Hall da Fama na primeira tentativa. 'Eu tive de me manter atento, porque nunca se sabe', disse Hasek. 'Não quero dizer que foi um jogo fácil.' Ele não precisava dizer. Qualquer um que tenha assistido à partida poderia chegar a aessa conclusão, porque a atividade mais rigorosa que Hasek fez toda a noite foi seu alongamento antes do jogo."
Dave Molinari, do jornal Pittsburgh Post-Gazette, falando sobre o jogo em que os Penguins foram derrotados pelos Wings por 2-0, tendo dado míseros 13 chutes a gol.
Alexandre Giesbrecht ficou impressionado que 13 pessoas clicaram no link para o seu blog sobre beisebol, publicado neste espaço na semana passada.